Comunidade Nossa Senhora dos Navegantes, em Mariante, pretende retomar atividades

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As águas do rio Taquari levaram residências, prédios comerciais e memórias de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires. A comunidade devota de Nossa Senhora dos Navegantes, a protetora dos marinheiros e das águas, sofreu o abalo, físico e psicológico. Em meio a isso, a igreja e o pavilhão da comunidade também foram impactados. Mas a maior consequência das águas foi a separação, com parte dos moradores se mudando para outras localidades, com medo daquele que sempre fez parte de suas vidas: o rio Taquari.

Atingida pela terceira cheia em oito meses, a Comunidade Nossa Senhora dos Navegantes ainda procura soluções para a retomada. A igreja teve destruídos símbolos religiosos, como o andor da santa padroeira, além de danos estruturais, principalmente no espaço da sacristia. No pavilhão, anexo à igreja, o forro – recentemente instalado – foi completamente destruído, assim como itens de cozinha, cadeiras, vidros e uma estrutura externa.

Parte interna do pavilhão foi limpa, mas ainda falta a limpeza externa (Foto: Leonardo Pereira)

Quase três meses depois, a comunidade começa a se reerguer. A igreja foi limpa e os fiéis projetam para o próximo mês a primeira missa após a enchente, enquanto que o pavilhão também foi limpo, reformado o telhado, serão trocados os vidros e aguarda, agora, a retirada dos entulhos e do barro do terreno. “Vamos deixar em condições nos próximos dias”, destaca o presidente da comunidade, Roni Maria.

Comunidade

Como parte dos moradores da comunidade se mudou para outras localidades ou municípios, criou-se o medo de abandono do espaço. Segundo o presidente, ainda não foram realizadas reuniões para definir os próximos passos e a atual diretoria teve o mandato prorrogado em decorrência dos acontecimentos. “Em breve mudaremos a diretoria. Primeiro, vamos ver quem ficou, para decidir os próximos passos, pois a comunidade vai diminuir pela quantidade de pessoas”, afirma.

No entanto, Roni é enfático: jamais vai abandonar Mariante. Mesmo com as adversidades e o futuro incerto, o objetivo é manter a igreja ativa e o pavilhão à disposição para eventos – como a Festa dos Navegantes, em fevereiro, e as eleições, em outubro. “A comunidade não pode morrer, mesmo que estejamos morando em Venâncio. Nossa comunidade é muito antiga, temos uma história e é difícil abandonar. Mas o futuro não sabemos”, completa.

90 – é o número aproximado de associados da Comunidade Nossa Senhora dos Navegantes.

Conforme ele, há um amor grande pela comunidade, onde muitos cresceram e viveram toda a vida e, por conta disso, é necessário mantê-la ativa. “Faremos o necessário para não deixar a nossa comunidade fechar. Acredito que vai ter gente que toque”, diz.

Navegantes

Um dos eventos religiosos mais tradicionais de Venâncio Aires, com mais de 80 anos de história, a Festa dos Navegantes, realizada em fevereiro, com procissão e missa em Vila Mariante, também passa a ser uma incógnita. De acordo com Roni, já havia banda contratada para o próximo ano, mas houve a necessidade de distrato. “Ainda não definimos nada”, afirma.

Ainda há um grupo de catequese, que se reúne de 15 em 15 dias, organizado por Sinara Cezar Maria, em Vila Estância Nova. O objetivo é que a primeira eucaristia ocorra em agosto, em Vila Mariante. Antes disso, deve ser realizada uma missa para marcar o retorno à comunidade. Também há um grupo de oração que ainda se reúne e realizava ações ecológicas, como a confecção de ecobags.

Alguns símbolos religiosos foram atingidos (Foto: Leonardo Pereira)

História da Comunidade Nossa Senhora dos Navegantes

• Os registros históricos da Comunidade Nossa Senhora dos Navegantes foram perdidos durante as últimas três enchentes. Já escassos anteriormente, agora praticamente toda a história escrita da comunidade inexiste.

• Inicialmente, Vila Mariante homenageava Nossa Senhora das Dores, quando sediava paróquia, em prédio de madeira localizado nas proximidades da antiga rodoviária da localidade. Á época, a comunidade realizava uma festa de dois dias, com duas procissões, no sábado à noite homenageava Nossa Senhora das Dores e no domingo, pela manhã, era momento de devoção à Nossa Senhora dos Navegantes. A festa era realizada no antigo Centro de Tradições Gaúchas (CTG).

• A tradição durou até meados dos anos 70. Quando a paróquia se ‘mudou’ para Vila Estância Nova, distrito vizinho, e a devoção da comunidade passou a ser dedicada à Nossa Senhora dos Navegantes. Na mesma época, a atual igreja, localidade na rua dos Marinheiros, também recebeu reformas. “Por que mudou? Também não sei, é que começou a decadência. As pessoas vão morrendo e a história vai se perdendo. Na comunidade não há mais nenhum arquivo”, destaca a tesoureira da comunidade, Teresinha Graef.

• O pavilhão da comunidade foi inaugurado em 1986, após um mutirão realizado pelos moradores. O prefeito de Venâncio à época, Almedo Detterborn, esteve presente no evento de inauguração.

Eleições

1 Espaço que recebia mais de 1,5 mil eleitores (seções 76, 105, 131 e 148), o pavilhão da Comunidade Nossa Senhora dos Navegantes, passará por vistorias em agosto para definição se as seções se manterão no local.

2 De acordo com o presidente Roni Maria, a comunidade deixará o pavilhão em condições para as eleições, sendo necessário ainda revisão da parte elétrica e a limpeza no entorno do pátio.

“Mariante sempre estará conosco e sempre estaremos em Mariante. Comunidade é uma palavra forte e nós temos que manter nossa igreja, nossa fé, nossa união, que sempre foi muito forte nesses últimos anos. Vamos encontrar uma solução, com a força de Deus, que vai nos iluminar para a gente achar um jeito de seguir em frente.”

RONI MARIA

Presidente da comunidade



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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