Duca Leindecker
Duca Leindecker é o patrono da 26ª Feira do Livro de Venâncio Aires (Foto: Divulgação)

Na terça-feira, 19, o músico e escritor Duca Leindecker, de 55 anos, foi o convidado do programa jornalístico Folha 105 – 1ª Edição, da Rádio Terra FM, para falar sobre a carreira e projetar sua participação na 26ª Feira do Livro de Venâncio Aires, da qual será patrono. Na conversa, o artista destacou como as suas produções – sejam elas literárias ou musicais – sempre têm relação com as experiências já vividas por ele. A seguir, confira os principais momentos.

Essa é a tua segunda vez como patrono da Feira do Livro de Venâncio Aires. Como é isso para ti?
É muito legal essa possibilidade de transitar pelo universo da literatura, tendo uma carreira de músico. Eu acho que é uma forma também de conectar o pessoal mais com a literatura, justamente por fazer esse caminho da linguagem. A música tem uma linguagem muito mais direta. Então, eu acho que é uma forma interessante de criar esse interesse pela literatura, principalmente entre os jovens. Eu já tive o prazer de participar da Feira do Livro de Venâncio Aires e tenho ótimas recordações.

Os teus livros misturam literatura com música. Esse é um processo natural?
Sim. Eu acho que é um retrato da minha trajetória mesmo. Principalmente como músico, mas também como escritor. O meu primeiro livro acabou indo muito bem, teve muita entrada nas escolas, nas universidades, o que foi uma uma grande felicidade para mim. Eu não tinha muita pretensão, mas ele acabou tendo uma penetração muito boa e, então, vieram os outros livros. Essas visitas nas feiras, nas escolas, nas universidades são bacana, porque a música não te permite muito esse contato tão direto. Quando você vai fazer um show, normalmente não consegue atender as pessoas. E, na literatura, a gente consegue trocar muito mais com a galera, ter um contato mais próximo mesmo. Isso é uma coisa muito bacana que propicia um evento como a Feira do Livro. É um privilégio e uma honra ser o patrono.

Como começou o teu interesse por escrever livros? E como é o processo hoje? Se programa para escrever ou isso acontece naturalmente?
Eu sempre gostei de escrever. Na verdade, eu comecei a escrever mesmo até antes da música. Quando eu tinha 11 anos, eu já adorava escrever e fazia, inclusive, textos em prosa longa, que ficavam muito ruins. Imagine um garoto tão novo já querendo fazer livro. Então eu fui desanimando com a literatura, surgiu a música e tomou esse espaço. Mas eu nunca parei de escrever. Só depois, bem mais tarde, depois de eu já ter uma carreira na música, que eu lancei o meu primeiro livro. Mas é natural, eu gosto de estar sempre produzindo tanto música quanto literatura. As minhas músicas também são obras literomusicais, que têm poesia. Então, é uma forma de botar para fora o sentimento, se conectar com a arte, que é uma coisa tão bacana.

Em uma entrevista recente, você dizia que, na música, muitas letras têm vivências pessoais. Na literatura é assim também?
Também, com certeza. Principalmente meu primeiro livro, que é basicamente autobiográfico, do período da morte do meu pai, da minha pré-adolescência. Eu acho importante ter a verdade junto sempre na arte. Dá mais consistência para as coisas que a gente tem para dizer. A música ‘Pinhal’ é uma história totalmente verdadeira. Todas essas coisas, no fundo, têm uma história por trás, têm uma verdade.

Você segue neste caminho de escrever livros de forma seguida ou é algo que é intercalado entre os períodos de música?
É mais intercalado mesmo, porque a jornada de escrever um livro também é uma imersão muito grande. Agora eu estou acabando o meu novo álbum, que vou lançar no final do ano. Ele vai sair em LP e vai estar disponível nas plataformas. Eu estou bem concentrado na produção e na finalização desse álbum. Mas, quem sabe, o próximo projeto é um novo livro? Eu nunca tenho certeza do que vai vir. Às vezes, vem um livro que não sai também, às vezes eu escrevo, não gosto e engaveto. É um processo.

Agora vamos falar sobre música. A gente sabe que você também teve alguns momentos bem difíceis na vida pessoal, mas a música sempre foi algo que acabou trazendo mais leveza. Como é isso para ti? Há a intenção de atingir determinado sentimento em quem vai ouvir?
Eu basicamente componho e escrevo – tanto literatura, quanto música – baseado na minha necessidade de externar o meu sentimento. O meu primeiro livro foi sobre a morte do meu pai, a saudade que eu sinto até hoje, e nunca vou deixar de sentir. Ele morreu quando eu tinha 8 anos. Essas coisas, quando canalizadas de uma forma bacana, eu acho que podem virar boas obras de arte e também fazem bem para a gente, de botar para fora um sentimento que muitas vezes fica trancado. Esse é ‘A Casa da Esquina’, que é o meu primeiro livro, é muito falando sobre esses momentos, relembrando, tendo devaneios. E as músicas também são isso, são momentos que você está feliz ou angustiado e consegue canalizar. E aí, canalizando o sentimento, ele acaba batendo na pessoa que escuta e que também tem aquele sentimento, muitas vezes de angústia, de tristeza, ou muitas vezes de euforia, de felicidade. A música tem esse poder de conectar os sentimentos de quem está de um lado fazendo e de quem está do outro escutando e se identificando com aquele sentimento.

Você tem uma música preferida?
É complicado. Claro que tem músicas que se destacaram mais também e que acabaram comunicando mais. Também tem outras que não tiveram oportunidade de chegar de uma forma mais forte na prateleira das pessoas. ‘Ao Fim de Tudo’ é uma música que foi bem logo depois da morte do Cau, baterista do Cidadão Quem. Me marca bastante, porque me bota naquele lugar de ter perdido um parceiro, um irmão. Então, é uma música que eu gosto. ‘O Amanhã Colorido’ eu fiz para o meu filho, que também é uma coisa fantástica. É um outro sentimento, de felicidade mesmo. É uma música que também comunicou bastante. Foi usada também naquele processo de reconstrução do Rio Grande do Sul, depois da enchente [de maio do ano passado]. São coisas legais. Mas é difícil mesmo, porque, graças a Deus, são várias músicas.

Hoje é muito mais fácil ter acesso à tua obra do que antes, com os streamings, que facilitam o acesso. Como é para ti isso?
Hoje em dia não existe mais a limitação de acesso. A pessoa que quer ouvir uma música minha vai ouvir. É só ela botar. O problema é que antes a gente se esforçava tanto para conseguir um vinil que, quando a gente conseguia, escutava bastante. Agora se tem tanta facilidade que a gente não chega nem a escutar a música inteira. O que é um problema também, porque a facilidade é tão grande, o volume é tão grande, que, na verdade, fica mais difícil das pessoas curtirem um disco inteiro. Eu sou teimoso, estou lançando um álbum inteiro agora. Eu espero que as pessoas cheguem à última música.

Como vai ser a palestra show do dia 11?
Ao longo desses anos todos que eu estou na literatura, o que eu mais gosto é quando tem troca. Quando a galera pergunta, conversa, tira dúvidas. Eu não estou ali para ensinar, não sou um professor. Eu estou ali para dar o meu testemunho, a minha experiência de vida. Um guri que perdeu o pai com 8 anos, de classe média baixa, que conseguiu ser músico e sobreviver de arte, de música, de literatura. Essas são as coisas que eu posso contar e que eu posso trocar com o pessoal. É uma forma de conversar sobre isso e sobre quais os caminhos que eu tomei. Vamos falar sobre literatura, música e, obviamente, fazer um som. No final, eu sempre pego o violão e toco umas músicas.

Assista à entrevista na íntegra