Do curso do Senai para o empreendedorismo na área de tornearia e manutenção

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Venâncio Aires teve um grande marco, há 25 anos. No dia 6 de julho de 1996, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) Frederico Closs, formou a primeira turma de Venâncio Aires. Foram 20 garotos que se especializaram no único curso oferecido, de Mecânica de Manutenção de Máquinas em Geral. Marlei Luís Klock, 43 anos, estava entre os formandos.

O morador do centro do município estudava no Ensino Fundamental quando ouviu falar sobre o Senai na escola e teve curiosidade de ver como funcionava o curso. “Na época, a inscrição era na Caciva, tinha que fazer uma seleção com prova, para depois ver se conseguia a vaga”, recorda.

As aulas começaram em 1994 e o Senai funcionava atrás do Colégio Oliveira Castilhos. Klock conta que a estrutura da sala ainda não estava totalmente pronta e os alunos ajudaram nas pinturas em toda organização. “Não tinha um banheiro do Senai, usávamos o do Oliveira. Também tínhamos que ajudar a limpar. Todo dia alguns alunos varriam a sala, outros varriam a oficina e uma vez na semana alguns limpavam o banheiro. Íamos sempre revezando. Tudo com muita disciplina”, relembra.

Jornal Folha do Mate registrou a primeira formatura do Senai

O venâncio-airense sempre gostou de montar e desmontar seus brinquedos e bicicletas, era curioso por essa parte, por isso se identificou com o curso. “No começo tivemos muita teoria para entender tudo, mas quando tinha aula prática eu me sentia no lugar certo, porque é disso que eu gosto”, destaca.

Cotista do Senai pela empresa Alumínio Hércules, que hoje não existe mais, ele recebia um quarto de salário mínimo para incentivar nos estudos. Em época de férias do Senai, no inverno e verão, os alunos tinham que trabalhar meio turno dentro da empresa. “Não tinha férias mesmo, porque de manhã eu estudava no Cônego, à tarde fazia Senai e quando era período de férias, no turno da tarde ia para a empresa. Hoje está diferente.”

Na formatura, que foi na sede da Alliance One, na época Associação Atlética Dimon do Brasil, o ex-aluno lembra que auxiliou a turma na organização da cerimônia que contou com coquetel para todos formandos e familiares

Depois de formado, Klock atuou na área e após alguns anos voltou a estudar, concluiu o ensino médio e fez técnico em Eletromecânica. Há 15 anos, ele decidiu empreender na área de tornearia e manutenção. “Eu gosto do que eu faço, eu tenho amor por isso. Hoje não consigo me imaginar fazendo outra coisa, não me imagino sem ter feito Senai. É muito importante para o nosso município, é um incentivo para os jovens terem uma profissão”, conclui.

“O Senai me incentivou a ter uma profissão”, diz ex-aluno

O Senai ‘abriu portas’ para que Márcio Brixius, 43 anos, conseguisse estudar e sair de Linha Arroio Grande, interior do município, onde residia com a família. Na adolescência ele estudava na cidade, na Escola Cônego Albino Juchem, e ajudava os pais na plantação de tabaco, mas não queria seguir na agricultura. Ele ingressou no Senai e decidiu tentar uma nova experiência.

Alguns primos dele já haviam frequentado as aulas do Senai em Santa Cruz do Sul, e sua mãe queria que ele também fizesse. Quando começou a divulgação do curso, sa mãe dele escutou no rádio e comentou com ele. “Cheguei para fazer a inscrição e descobri que tinha uma prova, nem havia estudado, mas fui aprovado em um dos primeiros lugares.”

Como ele era do interior, não conhecia as indústrias e os equipamentos, então a primeira impressão foi de curiosidade para aprender tudo. “Conhecemos as empresas que os colegas eram cotistas, fomos entendendo sobre todas máquinas e depois praticando. Era tudo novo para mim”, complementa Brixius que estava no Senai pela Venax Eletrodomésticos.

Na época que ele estudou no Senai, tinha apenas uma bicicleta para se deslocar do interior e, por um período, estavam fazendo o asfalto da ERS-422, que dificultava a passagem. “Eu ficava na casa de conhecidos quando não dava para passar, principalmente em dias de chuva, ou ia para minha avó que era na Linha Arlindo, que daí tinha ônibus para lá.”

No dia da formatura, a ‘fatiota’ roupa usada, Brixius pegou emprestada de tios. Alguns usaram terno, outros só blazer e calça. “O Senai me incentivou a ter uma profissão e depois ir atrás de mais qualificação. Por isso sou incentivador e fã da instituição”, complementa.

Brixius atuou por mais de uma década na área que se formou no Senai, hoje empreende no ramo de refrigeração (Foto: Eduarda Wenzel/Folha do Mate)

Profissão

Com 18 anos, a concluir o curso, Brixius foi contratado pela empresa que fez Senai, a Venax. Por uma década atuou no ramo de usinagem, depois fez tecnólogo em Refrigeração e empreendeu no ramo de ar-condicionado, que está há 14 anos.

Mas enquanto trabalhava na Venax, nos primeiros anos também morou na empresa. Ele não tinha como ir todos os dias para Arroio Grande, então precisava de uma pensão. Ao saber do caso, a empresa ofereceu um espaço para ele ficar. “Tinha um prédio, que foi o primeiro espaço da empresa, com uma sala no segundo andar, grande, que tinha algumas camas e um fogão, ali algumas pessoas que vinham de outros municípios para fazer serviço terceirizado ficavam e eu morei por uns 3 anos.”

Durante esse período que trabalhou na Venax, ele foi convidado para ser painelista do Senai nas turmas da noite. “Tinha que ensinar os alunos sobre desenho técnico, equipamentos de medição e outros. Eu aproveitei a oportunidade, mesmo sem nunca ter dado aula”, conta. Por sete meses ele atuou no Senai, depois por conta do curso de tecnólogo que iria começar teve que parar. Atualmente, a esposa de Brixius atua na parte administrativa da instituição de Venâncio Aires.

“O Senai é mais que um curso, aprendemos a ter disciplina, organização e fomos preparados com treinamento de primeiros socorros. Foi meu impulsionador na profissionalização, agradeço muito ao Senai, porque foi a base de tudo que eu consegui.”
MÁRCIO BRIXIUS – Ex-aluno e empreendedor

Walter Bergamaschi: um incentivador do Senai

O empresário e diretor da Venax Eletrodomésticos, Walter Bergamaschi, 74 anos, foi uma das pessoas que lutou pela vinda do Senai para o município. Ele lembra que como empregador sentia falta de mão de obra qualificada. Há 30 anos, começaram a busca pela instituição. Venâncio era na época a 33ª economia do Estado, e o Senai já tinha mais de 40 escolas e nenhuma no município. Esse era um dos argumentos da Associação Comercial de Venâncio Aires (Aciva), que hoje é a Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Venâncio Aires (Caciva).

Depois de anos buscando recursos na Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), buscando um local para instalar a escola, em 1994 o Senai de Venâncio Aires começou. “Tínhamos trocado de local já, por motivo de eletricidade e outros, então conseguimos uma sala no Colégio Oliveira, reformamos e começamos. Ganhamos R$ 200 mil para equipar a escola”, observa Bergamaschi, que foi paraninfo da primeira turma de formandos. “Foi uma honra ajudar nessa conquista do município e na formatura eu estava realizado.”

Desde a primeira turma, até hoje, a empresa tem cotistas no Senai, para oportunizar a qualificação de mais pessoas. “Atualmente temos mais cursos, temos outros meios. Mas muitas pessoas fazem Senai e depois trabalham na Venax e até seguem no ramo e fazem graduação”, finaliza.

17.500 – alunos já se formaram no Senai. Isso corresponde a 24,3% da população do município.

O Senai

  • O Senai se baseia na oferta de cursos de aprendizagem industrial alinhados à necessidade da região.
  • O primeiro curso de ofertando inicialmente o curso de Mecânico de Manutenção de Máquinas em Geral teve condução do Instrutor Alexandre Wietzke.
  • Atualmente a instituição conta com cerca de 230 alunos, em nove turmas, nas áreas metalmecânica, eletroeletrônica e têxtil, em parceria com mais de 20 empresas do setor industrial. As indústrias recrutam e indicam os jovens entre 14 e 24 anos, para desenvolver a qualificação profissional no Senai, com vínculo de Aprendizes.
  • Também tem cursos abertos para toda comunidade, nas áreas elétrica, automação, soldagem, desenho técnico CAD, entre outros.
  • Por conta das restrições da pandemia de Covid-19, hoje as aulas são no Ambiente Virtual Senai (Sapien), que permite a interação entre alunos e professores, postagens de conteúdos e salas de aula virtuais, junto com atividades práticas nos laboratórios e oficinas, pelo sistema de rodízio de turmas.

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