Quando o assunto são datas, o mecânico aposentado Dirceu Batista Dornelles, 60 anos, perde as contas. Mesmo assim, ele sabe que tem na companheira, Maria Orasina Julião, 49 anos, lembranças dos 30 anos no bairro Coronel Brito, gravadas na memória.
Em 1993, o casal decidiu morar no bairro, para construir juntos um novo capítulo de vida. Dornelles, divorciado da primeira esposa, com quem teve dois filhos, decidiu construir uma casa no bairro Coronel Brito e reescrever uma nova história, ao lado da atual esposa.
Vindo de uma família humilde, de sete irmãos de sangue e uma irmã de criação, ele sempre seguiu os passos do pai (já falecido), que sempre colocava a família e o trabalho, em primeiro lugar. “Cheguei aqui [Coronel Brito] com uma mão na frente e outra atrás. Tive até que pedir dinheiro emprestado para os vizinhos para comprar o imóvel e, prontamente, recebi a confiança e o apoio deles. Há pessoas muito boas por aqui”, recorda o morador. A experiência vai de encontro ao que ouvia falar do bairro. “Falavam mal da Caída do Céu, mas eu tinha primos e familiares que moravam aqui e nunca tiveram problemas com os vizinhos”, aponta Dornelles.
Mesmo assim, quando veio morar no local, ele percebeu que o bairro não era valorizado em relação aos outros. “O Coronel Brito era inferior aos outros. Parece que da faixa para cá, não tinha valor”, percebe. Ele acrescenta que há 30 anos, vendeu o Chevete que custava R$ 3.800 para comprar o terreno onde mora com a família.
Dornelles lembra que naquela época, havia poucas casas no bairro. “Na minha rua tinha o bar do ‘seu Zin’ (Barzin) – que vendia terrenos no local – e os meus vizinhos, Célio e Rosane Franco, que me deram todo o apoio que precisei”, destaca o morador.
Segundo ele, quando mudaram para o local, a casa tinha apenas três peças, sendo que o banheiro ainda não tinha sido concluído. “No início, usávamos o banheiro do vizinho. Aos poucos, fomos conquistando mais conforto e, hoje, moramos em uma casa de 121 metros quadrados”, comemora o morador, que também é proprietário de dois imóveis ao lado da casa onde mora.
EVOLUÇÃO
De acordo com Dornelles, nos últimos 15 anos, ocorreram várias mudanças no bairro. “Tudo começou pelo calçamento, depois veio a construção do Escola Estadual de Ensino Médio Crescer (Caic) e do Posto de Saúde da Coronel Brito. Para nós, foi uma grande coisa”, destaca.
Ele observa que os investimentos valorizaram o bairro e mudaram o dia a dia dos moradores. “A Comunidade Nossa Senhora Rainha que era bem pequena também cresceu, tudo isso são coisas boas que vieram para agregar”, salienta.
Mas, alguns momentos ruins também marcaram os últimos 30 anos. Neste caso, ele destaca, a perda dos moradores, em decorrência da pandemia.
Tudo começou pelo calçamento, depois veio a construção do Escola Estadual de Ensino Médio Crescer (Caic) e do Posto de Saúde da Coronel Brito. Para nós, foi uma grande coisa.”
DIRCEU BATISTA DORNELLES
Morador
Uma vida
• Maria foi namorada de um dos irmãos de Dornelles. Depois de muitos anos, eles se reencontraram e, estão juntos há 31 anos.
• Dornelles possui três filhos: Dieison, 35 anos e Andressa, 32 anos (do primeiro casamento) e Dirceu, 24 anos (fruto do relacionamento com Maria).
• Dirceu Batista Dornelles é conhecido como Lagartinho, porque o pai (Lagarto), na época da escola, gostava de comer ovos (crus e cozidos) enquanto jogava bolas de gude, com os colegas.
• Dornelles veio de uma família de sete irmãos e uma irmã de criação. Ele era chamado de Lagartinho e os irmãos, de pele mais clara, de jacarés.
• Dornelles mandou fazer uma placa com o nome ‘Recanto do Lagarto’ para colocar na propriedade da família. Atualmente, a placa está na casa dele, no bairro Coronel Brito.
• Em 1993, somente as pessoas de maior poder aquisitivo tinham luz em casa. O acesso à água não era gratuito e os moradores tinham que pagar pela instalação e uma taxa mensal para que a residência fosse abastecida. Somente em 1997, é que o recurso foi fornecido pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).