Com certeza você tem um amigo que está sempre criando e é ‘expert’ em invenções. Ou, quem sabe você mesmo seja um maker de carteirinha? Seja para decorar o quarto, para criar um trabalho de escola ou para inventar uma máquina, a criatividade é a palavra-chave da cultura maker – um movimento que tem ganhado destaque nos últimos anos.
Desde 2016, o Colégio Gaspar Silveira Marins tem um estúdio maker. O espaço para uso dos estudantes conta com impressora 3D, máquina de corte a laser, computadores, martelos, alicates, serrote e outros equipamentos para incentivar o ‘faça você mesmo’.
Conforme o professor e design Edimilsom Fabrício Mees, 33 anos, o estúdio começou a ser planejado com a vontade da escola em ter uma impressora 3D para que os alunos fizessem projetos. Na época, ele não trabalhava na escola, mas conhecia o antigo diretor e o auxiliou na compra do equipamento. “Trabalho na área e conheço um pouco mais sobre o assunto. Sempre frisei que a escola comprasse equipamentos nacionais. Depois de um tempo comecei ajudar no estúdio e hoje dou aula de maker”, relata.
Antes da pandemia, os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio tinham oficinas no local. Após o retorno das aulas, passou a ser uma disciplina curricular para o 4º e 5º anos. São 50 minutos semanais para cada turma. “Sempre foco em cada aluno fazer o que gosta. Na primeira aula mostro todo estúdio, explico os materiais e como usar. É uma conversa técnica. Depois, vejo o que cada um gosta e começamos a colocar a ‘mão na massa’.”
Para o professor Edimilsom, essa é uma forma de incentivar a criatividade dos jovens e ensinar a eles que podem fazer as coisas, em vez de comprar pronto. Os estudantes do colégio já fizeram alguns bancos de madeira, nas oficinas de marcenaria, imprimiram dinossauros para estudos e também órgãos do corpo humano. “Os alunos do Ensino Fundamental fizeram uma maquete do corpo humano. Cada um escolheu um órgão e imprimiu, depois desenhava alguns detalhes que faltava nesta parte do corpo”, comenta. “Percebo que eles demoram um pouco para projetar, procuram muito na internet, querem algo rápido e perfeito. Mas, aos poucos, vão aprendendo que podem errar e tentar de novo, e que é legal fazer as próprias coisas”.
O que é cultura maker?
A cultura maker surgiu a partir do movimento DIY (Do It Yourself) que significa ‘faça você mesmo’. Isso começou por conta da Segunda Guerra Mundial, quando os sobreviventes tiveram que começar a fazer as próprias coisas. No início do século XXI, dois fatos contribuíram com o movimento: o lançamento da impressora 3D e a primeira publicação da revista ‘Make’, nos Estados Unidos. Dale Dougherty, dono da revista é amplamente reconhecido como criador e responsável pela popularização do termo movimento maker. Ele organizava anualmente feiras makers, promovendo o movimento.
- Maker: o termo é usado para as pessoas que são fazedoras, que criam coisas e reutilizam. A cultura também incentiva o empoderamento tecnológico, a sustentabilidade, criatividade, criação e recriação de coisas em geral. Não tem muita regra, o importante é usar a imaginação e transformar em realidade.
Atividades maker
– Fazer as próprias bijuterias
– Criar uma maquete interativa
– Construir uma casinha para seu cachorro de estimação
– Customizar peças de roupa
– Montar e desmontar brinquedos para entender como funcionam
– Utilizar embalagens e outros itens para fazer artesanato
– Personalizar o caderno
– Montar pequenos robôs
Curiosidade e entusiasmo para as aulas maker
As estudantes Raiana Beatriz Zaguetti, 10 anos e, Luiza dos Reis Martins, 9 anos, estão empolgadas para as aulas do estúdio maker do Colégio Gaspar. É o primeiro ano que elas poderão usar o laboratório. Nas últimas semanas conheceram o ambiente, mas ainda não colocaram em prática as ideias que surgirão entre as turmas.
Raiana achou muito legal ter um espaço com tantos equipamentos à disposição. A aluna do 5º ano estudou sobre os planetas e utilizou os notebooks do estúdio para fazer algumas pesquisas. Agora, espera pela hora de colocar a mão na massa. “Quero ter oficinas práticas, como de marcenaria e aprender mais sobre fazer as próprias coisas.”
Já para Luiza, da turma do 4º ano, a novidade vai ao encontro de seu hobby. Ela adora fazer artesanato, assistir a vídeos sobre como reaproveitar caixinhas e potes. “Enfeito alguns potinhos e caixinhas de papel para colocar brincos, canetas e outras coisinhas. Eu gosto de trabalhos manuais, por isso estou empolgada para essa disciplina de maker”, adianta.
Elas avaliam que esse estímulo da escola para reaproveitar objetivos e construir novos auxilia no desenvolvimento da aprendizagem e criatividade dos alunos. “É muito importante também para desenvolver a nossa coordenação motora e até trabalho em equipe”, considera Luiza.
Youtuber de Venâncio faz sucesso com as criações
Leandro Wagner, 40 anos, sempre gostou de eletricidade, eletrônica e mecânica. Atualmente, usa essa habilidade para recriar novas aplicações de uso de alguns equipamentos e publica no YouTube. Em 2011, ao assistir ao conteúdo sobre lançamentos de motores de carro, conheceu o motor Stirling e quis experimentar. Fez um Motor Stirling que funciona com calor e usa ar como fluído de trabalho. “Levei uns três meses, mas deu certo”, conta.
A cada mês, ele publica um vídeo em seu canal Manual do Motor Stirling – Leandro Wagner, que tem 296 mil inscritos, com explicação técnica para cada objeto. “São experimentos com reutilização de algumas coisas, como palitos de picolé, tampas de refrigerante, raios de bicicleta, lixo eletrônico e outras peças que retiro de objetos que não utilizo mais. Isso tudo eu apresento nos vídeos, para que as pessoas saibam a origem do material”, explica.
Wagner destaca que, para além do tempo de fazer e testar os equipamentos, há também muitas horas de dedicação nas edições dos vídeos. “São mais de 200 horas trabalhadas em um vídeo elaborado. É para mim, o ponto mais trabalhoso, que inclui um roteiro bem elaborado antes mesmo de iniciar as gravações de vídeos. A edição do vídeo depende diretamente do roteiro e das filmagens. Fazer o aparelho ou o invento é mais fácil”, garante.
Leandro Wagner já mostrou no canal como fazer um ventilador sem luz elétrica, motor Stirling caseiro e motor Stirling Beta com apenas duas latas – carrinhos que funcionam com fogo e outros.