Em meio à natureza, em uma propriedade localizada na rua Frederico Carlos Nyland, está uma casa centenária construída em 1916 por um integrante da família Schwarzbold. Apesar da origem da residência estar relacionada a esse sobrenome, foi a família de Frederico Carlos Nyland e da esposa Hulda, casal que comprou o local em 1920, a responsável por manter a propriedade e nela constituir memórias.
Entretanto, como a vida reserva suas surpresas, a filha mais nova de Frederico, Annilda, se casou, anos mais tarde, com Otillo Schwarzbold, o que garantiu a união dos dois sobrenomes que dão origem à residência. O casal, que também morou na residência, teve três filhos, um deles a professora aposentada Irmgarte Schwarzbold, 69 anos, atual moradora do local.
“Casada, só a minha mãe morou aqui. Os demais filhos dos meus avós [12 no total, mas um faleceu logo após o nascimento] viveram nessa casa enquanto eram solteiros”, comenta. Justamente por essa ter sido a casa dos pais por muitos anos, a professora aposentada também morou na residência durante a adolescência e foi embora do local com 20 anos, quando se casou e passou a viver em Venâncio Aires. Em 2000, ela voltou para a Cidade das Orquídeas, com o objetivo de cuidar da mãe, que faleceu há quatro anos.
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Restauração da casa centenária
Antes de Irmgarte retornar para a residência que foi comprada pelos avós maternos em 1920, a ‘casa grande’, como era chamada a parte principal da residência, passou uma restauração. Na época, foram feitas melhorias no reboco interno. No entanto, as divisões de pedra e o assoalho permaneceram originais, apenas sendo retirada uma parede de madeira e feitas novas divisórias, também com esse material. Aberturas, como as portas, e móveis que já existiam no local, também foram mantidos.
Além da ‘casa grande’, há na propriedade uma ‘casa pequena’, onde ficava a cozinha. O local era interligado à casa principal por meio de um corredor. Mais tarde, esse espaço também passou por reformas, porque as paredes caíram. Além disso, as duas casas foram ligadas por um telhado, para facilitar a habitação. “Quando restauramos usamos os mesmos tijolos e o mesmo fundamento, que é de pedras redondas, de quando essa casa foi construída”, compartilha.
Uma cisterna que existia na área externa e era usada pela família para os afazeres da casa também foi mantida, mas se diminuiu o tamanho e a água, agora, é usada para regar as plantas do jardim. Também foi construindo um caminho para acesso de veículos, algo que antes não era possível porque o local era muito íngreme.
De acordo com Irmgarte, essa casa menor, onde ficava a cozinha, foi construída inicialmente de madeira, para depois ser de tijolos. Conforme relatos de uma tia da aposentada, esse espaço incendiou três vezes. “Ela já era construída mais afastada da casa grande justamente para não ter o perigo de queimar essa outra parte”, acrescenta.
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Memórias
Apesar de a casa centenária ter passado por restaurações, Irmgarte destaca que sempre foi uma prioridade manter características originais dela e que garantissem que as memórias do local fossem mantidas. “Me sinto privilegiada em poder morar e preservar essa casa. Não é original, mas o que pudemos preservar para deixar ela habitável, fizemos. Eu tenho o mesmo conforto que teria em uma casa moderna”, ressalta.
A professora aposentada compartilha que, se tivesse construído uma casa nova, teria feito ela menor. “Sempre digo que gastamos muito mais aqui do que se tivéssemos feito uma casa nova, mas na época só pensávamos em manter, não queríamos mudar. E hoje eu gosto muito de morar aqui”, salienta. Além de Irmgarte, moram no local o filho dela, Elio Ricardo Gerlach, e a neta, Laisa Ferreira Gerlach.
Curiosidades sobre a casa centenária
De acordo com Irmgarte, durante muitos anos, uma vertente de água existente na propriedade onde está localizada a casa centenária da família Nyland abasteceu a ervateira Fynomate e as famílias Bohn, que residiam em Mato Leitão. Na época, não eram usados sistemas de bombas e a água ia até o local por declive.
Quando o pai de Irmgarte passou a viver no local, ele instalou o sistema de água encanada com bomba. “No fundo do potreiro tem um tanque, onde a água da nascente descia por declive. De lá, foram colocadas bombas trazer a água até a nossa casa”, relata. Mais tarde, quando foi criada a associação de água no município, a família passou a integrar a entidade.
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Amor pela natureza também é uma herança
A paixão pelas flores, pela horta e pela natureza, que já era uma característica da avó materna de Irmgarte, ainda é mantida por ela. “Gosto muito de flores. A jardinagem daqui sou eu que faço. Também tenho um orquidário e plantas frutíferas de várias espécies”, conta. Ela recorda que a avó sempre gostou de ter horta também.
“Ela sempre teve flores plantadas no meio da horta. Agora, lemos que plantar flores no meio da horta era justamente para as borboletas irem nelas e não nas verduras. Isso era conhecimento antigo e é interessante porque hoje eu falo para a minha filha, que também gosta disso, como eles já tinham sabedorias de coisas que estamos vendo de novo”, acrescenta. Como costumava ajudar muito as pessoas doentes, a avó também tinha muitos chás plantados junto com as verduras na horta.
Além das flores no pátio e do orquidário, Irmgarte e os irmãos decidiram criar na propriedade, em 2015, uma Área de Preservação Permanente (APP) de 2,5 hectares. Com esse projeto, se buscou preservar as três nascentes existentes na área de terra que pertence à família. No local, eles já plantaram duas mil árvores de 29 espécies nativas da região Sul, com preferência por árvores frutíferas, justamente para atrair pássaros e outros animais. “É possível sentir muito mais a presença deles”, relata a aposentada.
Além disso, nessa área de preservação há espaço para serem plantadas mais duas mil mudas. Por isso, quando alguém precisa fazer o corte de uma árvore nativa e plantar outras por causa disso, esse espaço está à disposição.
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