Na terra da galinhada, até o prato típico sofre os reflexos da pandemia

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Por Juliana Bencke e Taiane Kussler

Só quem é venâncio-airense sabe que galinhada não é apenas o prato típico do município, mas, também, o cardápio ‘oficial’ de sábado. Para muitas famílias, pegar a vianda ou uma panela e buscar a galinhada para o almoço de sábado é tradição. Entretanto, desde que o Município decretou Calamidade Pública, no dia 20 de março, em função da pandemia do coronavírus, as tradicionais galinhadas promovidas pelas comunidades foram suspensas e muita gente teve que mudar a rotina.

No Pavilhão São Sebastião Mártir, onde todos os sábados havia galinhada, a última foi realizada no dia 14 de março. O presidente da Paróquia São Sebastião Mártir, Sélio Osvaldo Manzke, conta que, em função da pandemia, foram apenas duas galinhadas neste ano: para o Cursilho e para o Centro Promocional João XXIII.

A paróquia, que já tinha um calendário de eventos anual pré-definido, teve que cancelar temporariamente as programações. De acordo com Manzke, no início, as pessoas chegavam no local para perguntar mas, depois de um tempo, não houve mais procura. “Colocamos uma placa avisando as pessoas que não iríamos mais oferecer a galinhada. Todos estão bem conscientes da situação”, afirma o presidente da Paróquia que, mesmo assim, ainda escuta comentários das pessoas, que dizem sentir saudade do tradicional prato típico servido aos sábados.

Na terça-feira, 7, o presidente da paróquia entrou em contato com a Prefeitura para saber da possibilidade de retomar as galinhadas. No entanto, é necessário aguardar a troca de bandeira para a amarela, para então, avaliar a possibilidade de retornar com a galinhada. “Somos parceiros e não queremos colocar nada em risco. Enquanto isso, a galinhada não será comercializada nem no Pavilhão nem nas comunidades”, destaca Manzke.

A fiscal de posturas e coordenadora técnica da Secretaria Municipal da Fazenda, Daniele Mohr, afirma que se estuda uma flexibilização com o objetivo de autorizar a realização das galinhadas nas comunidades. “Mas não agora, na iminência de uma bandeira vermelha”, esclarece. Segundo ela, há essa possibilidade quando Venâncio Aires for classificada com bandeira amarela (risco baixo) no mapa do Distanciamento Controlado do Estado. “Será feito com muito cuidado, com fiscalização mais atuante e muita orientação, quando houver esta retomada.”

Oportunidade para os restaurantes

Enquanto as comunidades estão impedidas de realizar galinhadas – que muitas vezes eram uma das principais fontes de recursos para as entidades -, os restaurantes estão apostando no prato típico de Venâncio como forma de garantir a renda, durante a pandemia. É o caso do Bufê Medeiros, na sede campestre da Apae, que realiza galinhadas nos sábados ao meio-dia, desde o início de abril. “Com as festas canceladas, foi a única opção encontrada para conseguirmos nos manter”, explica Inês Schwendler.

A cada sábado, são dois panelões e 150 pratos de galinhada vendidos para levar para casa. Além dos ecônomos, Inês Schwendler e Edson Medeiros, duas pessoas geralmente auxiliam na preparação da galinhada. “Começamos cedo e os cartões sempre esgotam. Às vezes, intercalamos a galinhada com feijoada ou outro prato”, comenta Inês.

Um dos clientes fiéis é Vitor Hugo Dettenborn, 66 anos. A cada sábado, ele compra três pratos, e é um dos primeiros a chegar para buscar a galinhada – que é preparada e entregue ao ar livre. Antes da suspensão das galinhadas no Pavilhão São Sebastião Mártir, o aposentado integrava a ‘equipe da galinhada’ no Pavilhão São Sebastião Mártir, todos os fins de semana, e picava repolho, cebola e alho para a preparação do prato. Enquanto não é possível voltar à atividade, ele garante, pelo menos, que o almoço com o prato típico de Venâncio Aires se mantenha. “Já é sagrado. Todo sábado busco a galinhada e levo para a família toda”, destaca.

Para Dettenborn, galinhada aos sábados é tradição (Foto: Juliana Bencke/Folha do Mate)

Queda de quase 50% na venda de galinhão

A suspensão das galinhadas nas comunidades também impactou fornecedores dos ingredientes. O supermercado Parema, referência no fornecimento do galinhão – ingrediente principal do prato típico -, sofreu o impacto econômico, desde que o decreto municipal foi divulgado, impedindo a realização das festas nas comunidades.

De acordo com proprietário Mauro Walter da Silva, as vendas do produto caíram quase pela metade. “Antes da pandemia, vendíamos em torno de 500 quilos de galinhão por semana e, atualmente, são comercializados cerca de 300 quilos”, compara.

Segundo ele, o galinhão era vendido para os eventos nas comunidades e, atualmente, é adquirido para o consumo em família. “Nos dias mais frios, a venda é maior”, destaca Silva, que também observa a mudança de comportamento entre as pessoas, já que as famílias estão consumindo a galinhada em grupos menores. “Para consumo particular, vendíamos em torno de 8 quilos por família, e agora, são vendidos em torno de 5 quilos”, cita.

Galinhada autorizada nos restaurantes

  • Embora as galinhadas estejam proibidas em sedes de associações comunitárias e outras entidades, quem tem alvará para restaurante ou fornecimento de alimentos está autorizado a preparar e vender o prato.
  • A fiscal de posturas Daniele Mohr explica, que nestes casos, as empresas têm alvará para isso. “Não se trata de licença eventual. Quando o alimento é considerado essencial a essas atividades econômicas, elas têm direito de trabalhar com restrição, com um modelo de take away (pegue e leve)”, esclarece.
  • Além disso, Daniele lembra que em todos os alvarás fornecidos para o ramo de alimentação têm um responsável que fez o curso de boas práticas em manipulação de alimentos. “Isso é bem importante para garantir a segurança neste momento.”

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