
Os trabalhos de ampliação da rede de esgotamento sanitário da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) seguem em andamento em Venâncio Aires. No entanto, o avanço das obras é acompanhado pelo crescimento no número de reclamações de moradores. Entre as principais queixas estão a paralisação de frentes de trabalho, os transtornos nas vias e o preço que já é cobrado na fatura para quem já realizou a interligação à rede.
Na sessão do Legislativo de segunda-feira, 23, vereadores utilizaram a tribuna e realizaram novas críticas a atuação da Corsan. Ezequiel Stahl (PL) relatou o recebimento constante de reclamações sobre ruas “retalhadas, destruídas e arrebentadas” pelas intervenções feitas pela companhia. Stahl questionou a renovação do contrato realizada no ano passado pelo Executivo, criticando o fato de o documento não ter sido enviado à Câmara para emendas e indagações que pudessem garantir um serviço mais organizado.
Na manifestação, o parlamentar citou a recente tentativa de aprovar um projeto de lei para proibir a Administração de realizar pavimentações ou capeamentos asfálticos em ruas sem tubulação de esgoto prévia. “Fazer o asfalto para depois quebrar é como rasgar a parede de uma casa pronta. O serviço nunca mais fica igual, vira uma porcaria”, desabafou. O projeto recebeu parecer contrário do Departamento Jurídico e foi arquivado.
Taxa
Jeferson Schwingel, o GP (PP) abordou o impacto financeiro nas faturas mensais, destacando que a comunidade começa a sentir o peso da taxa de esgoto, que corresponde a 70% do valor do consumo de água. O progressista ressaltou que, embora o tratamento de esgoto seja necessário, os valores atuais inviabilizam o orçamento de muitas famílias.
“Acredito que, com as obras, vai ser bem melhor”
A reportagem percorreu diversas ruas de Venâncio Aires que recebem os trabalhos. Atualmente, o cronograma se concentra no bairro Aviação. Segundo a companhia, o investimento nessa região da cidade é estimado em R$ 4,8 milhões, contemplando a instalação de 13,5 quilômetros de redes coletoras e 906 ramais para interligação dos imóveis, abrangendo cerca de 3,6 mil pessoas.
+Oaposentado João Carlos Uhlmann, de 69 anos, mora no bairro há cerca de duas décadas. Residente na rua Conde D’Eu, próximo ao residencial Recanto dos Pássaros, ele atesta que as obras na quadra entre as ruas Carlos Wagner e Cândido de Moura estiveram praticamente paradas nas últimas semanas. Mais recentemente, segundo ele, equipes retornaram para fechar buracos na via de paralelepípedos.
“Enquanto essas obras não andam, vai formando muita poeira. Limpa de manhã e à tarde está pior. Prejudica o trânsito, pois tem ‘valetas’ fundas. É preciso passar devagarzinho, senão pode dar problema maior”, explica Uhlmann.
Outra moradora, Cláudia Fernandes, de 57 anos, aponta problemas na rua Voluntários da Pátria. Ela reside na esquina com a rua Cláudio Reckziguel e relata que vizinhos já reclamaram diversas vezes sobre a situação da via, que tem grande movimento e é um dos principais acessos ao bairro Aviação. “Tem buracos em alguns pontos e, se não tomar cuidado, bate a parte de baixo dos carros. Tenho familiares que chegam a fazer outro trajeto, deixando de vir pela rua Voluntários da Pátria por causa desses problemas”, lamenta.
Otimismo
Por outro lado, moradores também mantêm o otimismo. Na segunda-feira, 24, as intervenções começaram na rua Duque de Caxias. A aposentada Delci Feiden, de 69 anos, falou sobre a expectativa pela conclusão do trabalho. “Está dando bagunça, mas acho que logo vai passar. Acredito que, com as obras, vai ser bem melhor”, diz. Ela elogia a atuação da equipe terceirizada que executa o trabalho. “Explicam tudo o que vai ser feito e, quando precisam, chamam a gente. Achei bastante correto. Está dando bastante poeira, mas tudo passa”, assegura.
Obra parada
A situação é diferente na rua Fernando Manoel Schwingel, onde moradores demonstram indignação. As perfurações realizadas nos dois lados da via foram cobertas por terra, deixando uma série de buracos. O proprietário de um estabelecimento comercial nas proximidades relatou à reportagem que não avista trabalhadores no local há mais de uma semana. Segundo ele, o cenário afeta pedestres e clientes que desejam estacionar.

Intervenções nos dois lados da rua
Na rua Carlos Wagner, uma das mais movimentadas da área urbana, a instalação da rede já iniciou e está em fase avançada. Conforme verificação da reportagem nesta terça-feira, o trabalho já havia sido concluído até a esquina com a rua Herval Mirim, inclusive com o fechamento dos locais de intervenção com material asfáltico. A via passou por obras nos dois lados, entre a pista de rolamento e as calçadas.
Marli Duarte, de 69 anos, moradora do bairro há cinco anos, avalia que a rua foi visualmente bastante afetada. “É terrível isso. Eu acho que, para ficar uma obra bem-feita, teria que ser feita uma recapagem em toda ela. O asfalto já está quebrado devido ao movimento e já podemos ver alguns buracos nesses pontos que foram fechados depois das obras”, aponta Marli, afirmando, contudo, que “a obra pelo menos andou, até em dia de chuva tinha gente trabalhando”.
Preocupação
A preocupação da moradora, agora, é para a próxima etapa: a interligação do sistema residencial à rede de esgoto, que é de responsabilidade dos proprietários. Ela revela dificuldade para encontrar mão de obra. “E também vou ter que ‘arrancar’ calçada e cavar o pátio para isso funcionar”, comenta.

O que diz a Corsan
- A reportagem acionou a assessoria de comunicação da Corsan para obter retorno sobre as manifestações. Segundo a companhia, a rua Conde D’Eu será refeita até o fim do mês. Já a rua General Osório deve ter a repavimentação iniciada até a próxima semana. “No entanto, serão realizados reparos emergenciais nessas ruas até que a repavimentação seja concluída definitivamente”, diz o comunicado. A previsão é que as obras de implantação de redes de coleta de esgoto no bairro Aviação durem por cerca de mais três meses.
- A empresa reforçou que as obras representam avanço do saneamento básico e estão alinhadas às metas de universalização previstas pelo Marco Legal do Saneamento, que estabelece o acesso de 90% população aos serviços de coleta e tratamento de esgoto até 2033. “Essas intervenções não se restringem apenas à instalação de tubulações ou estações elevatórias – elas trazem saúde pública, qualidade de vida, cuidado ambiental e desenvolvimento urbano das cidades, além da valorização dos imóveis interligados”, continua a nota.