Na casa da família Severo, a sala vira, uma vez por mês, ‘templo’ para missas e celebrações (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)
Na casa da família Severo, a sala vira, uma vez por mês, ‘templo’ para missas e celebrações (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Em Linha Canto do Cedro, em Venâncio Aires, a casa de Oscar e Sonia Severo também vira a casa de Deus do Núcleo São Roque.

Entre os religiosos e até mesmo no senso comum, entende-se que a ‘casa de Deus’ é um lugar sagrado, onde Ele mora e os fiéis vão para missas e cultos. Geralmente é uma igreja ou templo, seja um enorme catedral, como a Igreja Matriz São Sebastião Mártir, no Centro de Venâncio Aires, as capelas dos bairros e localidades do interior ou mesmo um salão comunitário.

No encontro de setembro, padre Roque Hammes foi o responsável pela missa (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Mas nessa mesma Venâncio onde a fé é praticamente algo inerente à sua gente e que tem muitos locais sagrados, há uma comunidade que se reúne em torno da fé de forma um pouco diferente. Ela se acomoda em sofás e em cadeiras de praia distribuídas na sala de uma residência. Em Linha Canto do Cedro, as missas e celebrações ocorrem numa casa e quem abriu as portas do próprio lar foi o casal Oscar e Sonia Severo.

Núcleo São Roque

Até maio de 2022, os encontros das cerca de 50 famílias que integram o Núcleo São Roque (que existe há cerca de 25 anos) se reuniam no pavilhão que tinha junto à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Venâncio Aires. Mas, como o educandário fechou devido ao baixo número de alunos, não havia mais um local específico. Assim, entre conversas com o diácono Roque Schroeder, veio a pergunta seguida da resposta positiva. “Nós aceitamos o convite [de receber as missas] porque é uma honra. É uma alegria muito grande abrir a porta da nossa casa para as pessoas, para esse momento de nos aproximarmos de Deus, de nos reunirmos na nossa fé. Me sinto muito feliz por isso”, define Sonia, 67 anos.

Sonia e Oscar Severo abriram as portas de casa há três anos para os encontros do Núcleo São Roque (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Preparação

Há três anos, toda segunda sexta-feira do mês (intercala entre missa e celebração), os Severo fazem da sala de casa um pequeno templo. Preparam uma mesa com toalha branca e sobre ela vão os itens levados pelo padre (objetos para consagração, como cálice e a vasilha das hóstias), além da vela, uma cruz e a imagem de São Roque (a qual está sempre na residência).

Sonia também prepara um vaso com flores e, entre as mulheres que participam, sempre há quem contribua para colorir e perfumar as celebrações. Na sexta-feira, 12, por exemplo, foram levados copos de leite, rosas, gerbas, palmas e orquídeas. Para acomodar as quase 20 pessoas que foram na missa, há os sofás, as cadeiras da cozinha e cadeiras de praia, formando um grande círculo.

Dos padres que vão até lá, geralmente as missas são realizadas por Roque Hammes e Aldo José da Silveira. Como qualquer celebração religiosa, a música é algo importante, então alguém com violão também participa. No caso da sexta, 12, o encontro contou com a sonoridade de Álvaro da Silva.

Núcleo São Roque é formado por cerca de 50 famílias (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Na união, a preservação da fé

A missa do dia 12 foi celebrada pelo padre Roque Hammes. Segundo ele, a casa dos Severo é a única em Venâncio Aires onde isso acontece. “Pessoalmente é algo que aprecio muito e há outros lugares, com comunidades menores, que talvez pudessem se manter assim, na casa de uma família. Claro que a decisão é pessoal, mas é algo que incentivo, porque isso aproxima as pessoas e as aproxima de Deus.” O padre complementa que “muitas pessoas não têm condições de ir numa igreja, então é algo importante. Aqui mesmo, é um grupo pequeno, mas que nessa oportunidade mantêm a fé e a união”.

Entre os participantes dos encontros na casa dos Severo, está a aposentada Suely Faleiro, 77 anos. Moradora de Linha Canto do Cedro, ela diz que sempre vai. “Sou sozinha e não tenho condução para ir na igreja do Centro. Então é muito bonito o que a Sonia e o Oscar fizeram, de abrir as portas de casa. Só a recepção deles já me alegra e aqui a gente também se encontra com Deus, né?”