Na tarde desta sexta-feira, a Folha do Mate foi procurada pela gestora municipal do programa Bolsa Família, Josiane Hartung, para esclarecer de que forma ocorreram as visitas à beneficiária suspeita de ter realizado doação de campanha em 2014. A mulher de 31 anos, agricultora, na quinta-feira, registrou boletim de ocorrência da Delegacia de Polícia, quando relatou que foi orientada por Josiane a registrar contra o político Celso Krämer e ingressar com uma ação judicial para não perder o benefício. Com documentos e relatórios de visita em mãos, a gestora e também assistente social esteve na Folha acompanhada pela visitadora Eva Fonseca e pela Procurada do Município, Gisele Spies Chitolina.
Segundo Josiane, a agricultora que foi apontada pelo Ministério Público Federal como possível doadora de campanha no pleito de 2014, recebeu duas visitas. A primeira, realizada por Eva. “Cheguei lá sem saber que ela morava na terra de Celso Krämer. Fui até lá para averiguar a situação social e constatei as necessidades da família.” Segundo informado à reportagem, somente na segunda visita, quando Eva e Josiane foram até o endereço, na localidade de Linha Taquari Mirim, é que as representantes da Prefeitura explicaram sobre o apontamento do MPF e questionaram a beneficiária sobre doação de campanha. “Foi então que o marido da beneficiária disse que eles já teriam emprestado documentos para o Celso.” Duas horas após essa visita, conta Josiane, o casal esteve na Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Social buscando orientação. Foi nesse momento que a Procuradora do Município, chamada pelas assistentes sociais, teria orientado o casal a procurar a Defensoria Pública ou fazer um boletim declarando que nunca foram doadores de campanha, como haviam garantido. Nas visitas, o casal ainda teria informado que trabalham com Krämer há oito anos e que há quatro moram em uma residência nas terras dele. A família ainda apresentou um contrato de parceria agrícola válido até maio de 2017. Em reportagem publicada na edição de sexta-feira, o advogado de Celso Krämer, Ezequiel Stahl, chegou a declarar que um documento entregue à família pela assistência social – onde consta que a beneficiária é doadora de R$ 30 mil – é falso. Em virtude disso, a Procuradoria informou que encaminhou ao MPF uma solicitação para obter uma certidão de conteúdo e assim provar a veracidade do documento.Outra questão apontada pela defesa do vereador é em relação aos valores descritos no relatório. No site do Tribunal Superior Eleitoral, o nome da beneficiária consta, apenas, como doadora de campanha de Krämer de 2014, no valor de R$ 5 mil. O valor, conforme o próprio vereador e reiterado pela defesa , trata-se da cedência de uso do veículo da família, usado na campanha. No entanto, não fecha com o valor apontado pelo MPF (três parcelas de R$ 10 mil).Em relação a isso, a Procuradoria do Município disse à reportagem que também não sabe a origem deste valor pois não foram apresentados detalhes pelo MPF e que a Prefeitura também verificou que apenas consta os R$ 5 mil no site do TSE. “Não foi um valor criado pela Prefeitura. Nós fizemos apenas a investigação inicial, com visitação in loco, obedecendo a orientação. Verificando que realmente havia procedência, reunimos os relatórios das visitas e também as documentações do MPF e entregamos ao Judiciário e Promotoria local”, explicou Gisele. Ela observou: “não cabe a mim investigar, por isso repassei às autoridades que, por sua vez, também repassaram à esfera federal. Não temos acesso a mais dados e os valores devem ser questionados ao Ministério Público Federal”, ressaltou. Por fim, a Procuradora disse que “embora o relatório do MPF não feche com o TSE, é importante esclarecer que a prestação de contas de 2014 não foi aprovada em virtude de arrecadação de recurso não identificado, situação que pende de julgamento no TSE. Isso pode ser consultado na internet.” Também destacou que todo servidor público tem fé pública, ou seja, presunção de veracidade.
OUTRAS INVESTIGAçõESA gestora do Bolsa Família ainda destacou que as investigações dos beneficiários seguem sendo realizadas, pois a lista enviada pelo MPF traz 88 nomes. Destes, em torno de 60 visitas foram realizadas e já descartas possibilidades de irregularidades. Entre os casos está o de uma jovem que recebia pensão pela morte do pai – um brigadiano – e acumulou, por anos os dois benefícios. No entanto, nos últimos três anos ela não recebeu a pensão, pois já tinha passado dos 24 anos. Hoje ela tem 27.