A prevenção ao suicídio é o principal objetivo dos voluntários de Venâncio Aires e região que atuam no Centro de Valorização da Vida (CVV), localizado em Santa Cruz do Sul. Eles estão em busca da instalação de um posto na Capital Nacional do Chimarrão. O Centro é uma Organização Não Governamental (ONG) que previne casos por meio da linha gratuita 188 que funciona 24h.
Conforme o empresário venâncio-airense e voluntário Paulo Bohn, é necessário um posto na Capital Nacional do Chimarrão, em virtude dos índices de suicídios. Como o CVV funciona junto ao Corpo de Bombeiros em Santa Cruz, ele foi até o comando de Venâncio Aires, para verificar se era possível a cedência de um espaço. No entanto, não houve espaço físico suficiente. “Isso é necessário para Venâncio Aires e vai ajudar muito as pessoas. Estamos na luta e espero que o nosso objetivo seja alcançado”, frisa Bohn.

Na última semana, voluntários do CVV visitaram a Folha do Mate e a Câmara de Vereadores para solicitar apoio da presidente da casa, Ana Cláudia do Amaral Teixeira. “Combinamos que eles irão formalizar o pedido do local para o funcionamento do CVV em Venâncio e a Câmara vai intermediar isso com o Poder Executivo.” Além de Bohn, estiveram no grupo Rosimeri Goulart, Marisi da Silva Hentges e Sandro Mateus Eisenkraemer.
No início mês de setembro, o CVV lançou a campanha ‘Setembro Amarelo’, pois no dia 10 deste mês foi celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Em Santa Cruz do Sul ocorrem ações, como a distribuição de laços amarelos nas escolas e comunidades e a Corrida pela Vida que será no dia 30. Em Venâncio Aires, conforme a terapeuta que atua no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), Cristina Martins, não estão programadas atividades para este mês.
Como ela era uma das profissionais da secretaria Municipal da Saúde que atuava no trabalho de prevenção, um grupo se reúne para reativar os trabalhos em Venâncio. Por isso, segundo ela, o objetivo até o final do ano é de voltar a realizar ações como palestras nas escolas. “Estamos definindo e reorganizado uma equipe para o município. Queremos dar suporte para os que precisam e, principalmente, atuar na prevenção.”
Diferentes FatoresO suicídio era, um tema de tabu nas sociedades ocidentais. Mesmo após as suas mortes, as vítimas de suicídio não eram enterradas próximo das outras nos cemitérios, segundo informações do endereço eletrônico do CVV.
Hoje é sabido que se pode dar grandes passos para a redução das taxas de suicídio, começando por aceitar as pessoas tais como são, acabando com os tabus sociais, falando sobre a prevenção. De acordo com informações do CVV, há diferentes motivos pessoais, psicológicos e sociais que levam uma pessoa ao suicídio. Entre eles: depressão endógena, esquizofrenia, alcoolismo, dependência de drogas, distúrbios de personalidade, luto, hospitalizações frequentes, ausência de projetos de vida, desemprego e desesperança contínua e acentuada.
Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o 8º país em número de suicídios, com aproximadamente 12 mil casos a cada ano, sendo que o número de tentativas é estimado entre dez a quinze vezes este número.
“Precisamos ter um posto do CVV em Venâncio para a prevenção. Isso é muito importante”, Paulo Bohn
empresário e voluntário do Centro de Valorização da Vida
O número 188, a ‘linha da vida’ é gratuita
Desde o dia 11 de setembro, está disponível o número 188 pelo período de 24h, todos os dias e feriados. A ligação é gratuita, pode ser feita de telefone móvel ou fixo e será enviada para qualquer posto do CVV que esteja disponível. De acordo com uma das voluntárias do Centro localizado em Santa Cruz do Sul Rosimeri Goulart, o projeto é pioneiro e vale, somente, para as cidades do Rio Grande do Sul no momento. A validação foi possível por meio de uma cooperação técnica com o Ministério da Saúde com as operadoras de telefonia. “Independente da cidade ter ou não um posto do CVV, a ligação pode ser feita.” Um dia antes do 188 ser validado, coincidentemente, foi o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A luta pela linha já havia iniciado em janeiro de 2014.
Rosimeri explica que as pessoas que atenderão a ligação, são profissionais de diferentes áreas que receberam treinamento para atuarem no Centro. A linha tem o objetivo principal de prevenção ao suicídio e auxiliar as pessoas que passam por isso. Também podem entrar em contato, pessoas que passam por outros problemas. “Nós escutamos as pessoas de forma compreensiva sem julgar. Somos o amigo que vai escutar sem críticas. Somos um pronto-socorro emocional.” Ela explica que a pessoa que liga não precisa se identificar. Além do 188, o CVV também via chat pela internet (www.cvv.org.br), e-mail ([email protected]), correspondência ou de forma pessoal na sede em Santa Cruz das 16h30min até as 20h30min. Anteriormente, funcionava o número 144 que não era gratuito.
“A linha 188 é um pronto-socorro emocional”Rosimeri Goulart, voluntária do Centro de Valorização da Vida
Manual de Prevenção
Em 2012, foi lançado o Manual de Prevenção ao Suicídio no Rio Grande do Sul que foi resultado de uma tese de mestrado realizada nos municípios de Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Candelária e São Lourenço do Sul pelo médico psiquiatra Ricardo de Campos Nogueira. O estudo foi realizado na Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro. Nogueira também é coordenador da saúde mental e telessaúde do Sistema de Saúde Mãe de Deus em Porto Alegre. O conteúdo orienta profissionais das diferentes áreas e traz dicas de prevenção aos pacientes que necessitam de auxílio. O objetivo é reduzir os índices e identificar casos em situações de risco. Nogueira também esteve em Venâncio Aires em 2012 para capacitar profissionais da saúde para a prevenção.
Em março de 2011, ocorreu em Venâncio Aires a 4° Oficina de Prevenção ao Suicídio, na Sociedade de Leituras. O evento teve o apoio da 13° Coordenadoria Regional de Saúde, Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Programa de Prevenção à Violência e Sistema de Saúde Mãe de Deus. Os quatro municípios trouxeram dados e discutiram modos de prevenção. Também foi apresentado que a segunda capital com maior índice é Porto Alegre, a primeira é Teresina, no Estado do Piauí. Segundo dados da época, o Rio Grande do Sul tinha 13 dos 20 municípios com maior número de suicídio, sendo que Venâncio Aires estava na 11° posição, com 25,3 por 100 mil habitantes.