
Os dois cavalos estavam no pasto. Mas as bombachas, lenços, boinas, chapéus e outros apetrechos para as lides do campeirismo, na residência de Edelmon Gomes de Oliveira, 54 anos, estão por toda parte. O que menos se encontra no espaço reservado às roupas são peças do nosso dia a dia. Entre as bombachas a preceito e surradas pelo tempo, o militar aposentado deve ter uma para cada dia do mês. Contamos 15, fora as que estavam em outros aposentos guardadas pela esposa Denise de Oliveira, com quem é casado há 29 anos.
O rio-pardense que mora em Venâncio Aires há 31 anos, dos quais seis no bairro Cidade Nova II, é pai da Técnica de enfermagem e acadêmica de Farmácia pela Unisc, Fernanda de Oliveira. Edelmon que tem sua trajetória também ligada ao Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), acha muito normal andar pilchado, pois foi criado nas lides do campo e sempre se vestiu assim.
Como iniciou a tua caminhada no tradicionalismo?Mesmo tendo crescido nas lides do campo, no tradicionalismo organizado comecei em Venâncio Aires, logo que casei. Fiquei amigo de José Pedro Schuh (in memoriam), que me convidou para entrar no CTG Erva-Mate. Depois integrei o Piazito [grupo já extinto]. Quando o grupo terminou retornei para o Erva-Mate. Há mais ou menos seis anos faço parte do Piquete Parceria Campeira. Sempre envolvido com a parte campeira.
Sobre a tua decisão de andar pilchado: o que te motivou?O uso da pilcha pra mim vem desde criança. Ao ver o meu pai Edson Pires de Oliveira (in memoriam) andar pilchado, também por acompanhá-lo no serviço do campo fui crescendo assim. Foi o que me motivou. A gente morava no campo, na Várzea do Capivarita, e trabalhava com gado. Aos 11 anos quando fui estudar na cidade, tendo em vista que meus amigos não usavam parei de usar por um tempo. Mas quando vim para Venâncio comecei a usar novamente. Fizemos um curso de danças gaúchas de salão, na patronagem do shuch, um dos primeiros cursos realizados em Venâncio Aires que foi pelo instrutor Pavi, em meados de 1986. A partir daí, ou eu estava fardado para o trabalho, ou estava pilchado.
Fale um pouco sobre a tua ligação com o campeirismo que remete ao tema da Semana Farroupilha:As minhas raízes estão ligadas à infância, ao trabalho no campo. Quando fui estudar em Pantano e Rio Pardo, nas temporadas de férias continuei a ajudar meu pai. Quando entrei no CTG já tinha comprado um cavalo, mas apenas participava de cavalgadas. No Piazito comecei então a laçar. Depois lacei representando o CTG Erva-Mate, nas modalidades de tiro de laço equipe ou duplas. Atualmente continuo a laçar pelo Piquete Parceria Campeira. Também colaboro em todas as pontas, na parte campeira.
Atualmente o teu envolvimento com as lides campeiras, há quantas andam?Tenho dois cavalos para rodeios, mas que manejo todos os dias. Ainda tenho minha ocupação que é transportar animais com caminhão, com as documentações exigidas por lei. Além de colaborar com o trabalho na parte campeira na entidade, também às vezes auxilio na fazenda do meu amigo Gosvino Scheibler, em Rio Pardo. Com isto, meu dia a dia está ligado diretamente ao campeirismo.
No teu dia a dia, segues as regras do MTG para o uso da vestimenta?No dia a dia tenho o meu estilo. Por exemplo, faço uso do chapéu somente para as lides campeiras, do contrário ando de boina. Porém, para laçar ou cavalgadas aí sim, sigo as diretrizes do MTG.
O que representa pra ti, o tradicionalismo gaúcho e quanto às normas?Gaúchos todos nós somos independente do uso da pilcha. é um sentimento natural de cada pessoa. Porém, o tradicionalismo envolve as pessoas que cultuam a tradição e por meio dele participam, por exemplo das danças, competições artísticas e campeiras e que também seguem rigorosamente os regulamentos. Quanto às normas, concordo sim. Senão cada um se apresentaria de um jeito e onde envolve competições precisam ter regulamentos para que tudo saia a contento, além de se viver no meio, em sociedade.
Parte de tua vida está ligada a Venâncio Aires. Como veio para esta querência?Ao concluir o curso da Brigada Militar fui destacado para trabalhar aqui. Exerci a função por 27 anos, aqui no município. Há seis anos estou aposentado como 2º Sargento da Reserva.
Há seis anos no bairro Cidade Nova II. Assistiu o seu crescimento. Pra ti, o que ainda precisa melhorar? Acho que não falta nada. Tem tudo no bairro. é um bairro perto do centro. é um lugar ótimo de morar, muito calmo.
Andar com a vestimenta pra mim éuma coisa normal. Assim como as pessoas andam com suas vestimentas. Levanto evou colocar a minha pilcha”
Edelmon Gomes de Oliveira -Tradicionalista e militar aposentado