Desentendimentos, intriga política e pedido de CPI marcaram a sessão da Câmara de Vereadores. Quem assistiu a reunião na segunda-feira, 15, talvez não tenha entendido a confusão que ocorreu no plenário, durante a tribuna livre, cedida para a diretoria da Associação Telefônica de Linha Brasil.

Convocados pelo vereador Eduardo Kappel (PP) para prestar esclarecimentos sobre a prestação de contas de recurso recebido pela prefeitura em 2011, para realização de melhorias, o presidente Ernesto Seidel e o tesoureiro Paulo Wagner estiveram no Legislativo para responder às perguntas do progressista, que diz ter recebido reclamações de sócios e não sócios, sobre os trabalhos prestados.

Depois de uma sequência de perguntas e respostas, entre Kappel e a diretoria, o presidente da Câmara, Telmo Kist (PDT), interrompeu e questionou o motivo da presença deles na tribuna. Explicou que a Câmara recebeu pedido de tribuna, assinado pelo presidente da associação. O tesoureiro, que foi quem falou em nome da entidade, disse que foram convocados por Kappel. Foi então que o pedetista questionou o progressista sobre a iniciativa, dizendo que é ele, enquanto presidente, quem defere qualquer convocação.

Nas manifestações, Kappel se deteve na prestação de contas com a prefeitura, quando a entidade era presidida pelo hoje vereador do PDT, Gerson Ruppenthal. O atual tesoureiro,  Paulo Wagner, confirmou que a associação não recebeu informações sobre o auxílio de R$ 14.467 mil, aprovado para reforma e melhorias da rede de telefonia da localidade, que proporcionou aos moradores, na época 24 sócios, linhas individuais de telefone. Mesmo Ruppenthal tendo confirmado prestação de contas junto à prefeitura “de cada centavo” investido, o vereador de oposição, Eduardo Kappel, anunciou a intenção de protocolar pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a aplicação do dinheiro.

A reportagem procurou o setor de prestação de contas da prefeitura, que confirmou, juntamente com o secretário de Administração, Leandro Pitsch, que as contas da associação estão devidamente prestadas, com notas fiscais e fotografias entregues, conforme estabelece o contrato.

Telmo Kist disse que vai aguardar o pedido de CPI de Eduardo. Para isso, é necessário que um terço dos vereadores assinem a solicitação. Sobre a confusão da sessão, admitiu que “falhou” ao ter recebido um pedido para ocupar a tribuna, sem ter questionado o motivo. “Imaginei que viriam para questionar algum serviço ou tarifa.”

Telmo afirmou que a Câmara não convocou a entidade e que ele recebeu meia hora antes do início da sessão, em mãos, documento em que o presidente solicita espaço para ocupar a tribuna. “Isso serve para exigirmos mais clareza, a partir de agora, no recebimento de pedidos para ocupar a tribuna.”  Kist acredita que o assunto ganhou conotação política e a Câmara foi “usada para isso.”

FATOS

Procurado pela reportagem, Paulo Wagner contou que foi chamado por Eduardo Kappel, na sexta-feira, 12, em seu escritório, onde lhe entregou uma convocação para que fosse na Câmara, segunda-feira. As perguntas que fez na ocasião, foram as mesmas feitas na sessão, segundo o tesoureiro da associação.

Wagner contou que a história vai além do recurso da prefeitura. Segundo ele, alguns sócios e ex-sócios cobram de Gerson a prestação de contas à associação. O tesoureiro disse que o investimento não foi anotado no livro-caixa da entidade e revelou que, além do valor recebido pela prefeitura, uma empresa da localidade e sócios também contribuíram com valores (não revelados). Segundo Paulo, a melhoria foi feita e não há nenhuma queixa neste sentido, no entanto, os sócios não sabem, até hoje, quanto custaram as reformas e teria alguns, inclusive, duvidando se todo o valor arrecadado  foi investido.

Disse que, embora tivesse um tesoureiro, quem cuidava dos trâmites na gestão passada era o presidente. “Assumi em julho do ano passado a entidade e não recebi nenhuma nota de nada”, disse. Lamentando a confusão, disse que não sabe o que fazer a respeito, mas que deve procurar Gerson e um responsável pela empresa para conversar.

Procurado pela reportagem, Ruppenthal tratou os questionamentos de Kappel, como sendo “jogo político” e negou qualquer irregularidade. O  vereador progressista foi procurado ontem, mas não foi localizado. Conforme pesquisa da reportagem, no site do Tribunal de Justiça do Estado, coincidentemente, o fato ocorre paralelamente a ação movida na Justiça, por um ex-sócio da associação contra Ruppenthal. Ele questiona valores cobrados por ligações realizadas.