
O Funk é um ritmo musical que tem ganhado cada vez mais espaço em todo o Brasil, mas algumas canções contêm um tom pejorativo, com letras que falam sobre violência, sexo e ostentação, e isso tem sido motivo de crítica por parte de algumas pessoas. A reportagem aprofundou o tema e buscou saber o que profissionais pensam sobre o conteúdo das letras e qual o impacto delas na vida das pessoas.
De acordo com o secretário de Cultura de Venâncio Aires, Thomás Lenz – que também é músico -, o Funk tem se modificado muito nos últimos anos, e isso ocorre em função de o Brasil apresentar uma diversidade cultural cada vez maior. Os diferentes tipos de letras, segundo o secretário, surgiram para que fosse possível atingir os mais distintos públicos do país. “O Funk da favela e da periferia do Rio de Janeiro é diferente do que a gente escuta tanto hoje. A questão da letra ser obscena sempre existiu, mas o Funk atingiu mais regiões por usar outras linguagens”, argumenta.
Embora algumas letras apresentem tons pejorativo, Lenz ressalta que o Funk não deixa de ser considerado um estilo musical e uma manifestação cultural. “Cultura já vem da palavra cultivar. Se formos pensar no tripé da cultura, que é o econômico, simbólico e cidadão, o Funk está inserido muito no simbólico da periferia do Rio e agora de outros locais”, ressalta.
Conforme Lenz, as pessoas precisam entender que as letras até podem não agradar algumas pessoas, mas em dado momento, há quem também cante uma música em inglês, sem sequer saber qual a real tradução da letra. “às vezes, as pessoas acham que é o máximo, mas a letra pode ser pejorativa também”, complementa.
Na opinião do secretário de Cultura, alguns cuidados precisam ser tomados em relação às crianças, por exemplo. Mesmo que a música agrade aos pais, eles têm de entender que existe idade e hora certa para os pequenos terem acesso a alguns tipos de conteúdo. Lenz ressalta que as pessoas não podem apenas criticar o Funk, porque outros estilos musicais também apresentam letras com tom pejorativo. “Não é o estilo o problema, mas a letra em si. A letra pode ser pejorativa, mas o estilo Funk é uma manifestação cultural”, reforça.
O secretário ressalta que cada pessoa tem o seu gosto musical e é preciso saber respeitar as diferenças. “A diversidade cultural de nosso país é rica e a gente pode até falar sobre a questão pejorativa da letra, mas tem quem goste do estilo musical”, avalia.
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Promotor fala em filtro de coisas boas
Para o promotor de Justiça Fernando Buttini, a preocupação em relação ao incentivo à violência e abuso sexual não existe apenas com as

letras do Funk, mas no dia a dia, em diversas situações. Assim como Thomás Lenz, Buttini comenta que outros estilos musicais também podem apresentar conteúdo semelhante, não apenas o Funk. “As músicas caem no gosto popular e fazem sucesso”, acrescenta.
Na opinião dele, é necessário haver orientação e conscientização por parte da própria família para que as crianças não tenham acesso a mensagens pejorativas que não são positivas para o crescimento delas. “Infelizmente, muitas vezes, não se tem essa responsabilidade e as pessoas acabam não sabendo o que está sendo consumido pelos próprios filhos”, comenta. As pessoas, de acordo com o promotor, também precisam saber filtrar as coisas boas.
ACOMPANHAMENTODeste modo, Buttini considera essencial a família acompanhar o que é consumido pelos jovens: “Somos constantemente bombardeados por situações boas e ruins e, por isso, precisamos filtrar e ver o que é bom realmente. Se a música é pejorativa ou apelativa, é preciso ser analisado”. Ele ainda acrescenta que nas novelas também é possível obter mensagens boas e outras nem tão positivas, mas, independente disso, as pessoas podem ter acesso a esse conteúdo nas próprias residências todos os dias.