Cassiane Schmidt, 39, tem muitos filhos, porém, nenhum é seu. Mesmo assim, ela ama, educa, orienta, cuida, dá carinho, acalma, aconselha, chora por, briga por e conforta, como qualquer outra mãe. Embora tenha todas as qualidades daquela mulher que gesta, Deus reservou outras bençãos para ela.
Como muitas meninas, na infância, ganhou bonecas. Nas brincadeiras, aninhou-as em seus braços, nanou-as como se fosse um bebê e chamou-as de filha. “Quando pequena tinha o sonho de ter várias meninas.” E teve. Hoje, ao invés de acariciar àquelas ‘peles’ de borracha ou porcelanas, ela afaga lágrimas reais e molhadas. Acolhe em seu corpo pequenos seres, com corpos quentes, que choram e riem de verdade.
Embora suas três gestações interrompidas precocemente, Cassiane tornou-se mãe há 17 anos, quando voltou para a sala de aula como professora. Além da questão profissional, ela se preocupou em cuidar e orientar aqueles pequenos alunos, que hoje, muitos já são pais ou mães. “Depois de tanto tempo, poder conversar com aqueles que foram meus alunos, e perceber que aqueles valores e princípios, ensinados em casa e prezados na sala de aula, estão sendo passados para seus filhos, é gratificante.”
Sua profissão, contribui para que entendesse, ou aceitasse melhor, sua missão. Cassiane não nasceu para ser mãe de um ou dois filhos. Ela veio ao mundo para ser ‘mãe’ de mais, muito mais. “Com o passar do tempo, a gente vai passando por situações que nos afastam um pouco deste sonho, mas tudo isso foi, de certa forma, amenizando e me mostrando que eu não precisava ter gerado para poder desempenhar esse papel tão importante na vida das crianças.”
DE MADRASTA PARA AMIGA
Cassiane é casada com Eagro Müller, 40. Ele tem um filho de 16 anos, o Eagro Henrique Brenner Muller, 16. Quando tinha 13 anos decidiu morar com o pai. “Pra mim foi um presente, pois desde o início a gente tem uma relação bem legal e para presentear, digamos assim, aos 13 anos ele veio morar com a gente.” Desde então, como ela destaca, eles vivem uma outra etapa, que não é aquela apenas de brincadeiras, do atender e suprir necessidades. “Agora, que ele está na adolescência, temos essa preocupação de orientar e prepará-lo para a vida, preparar para que ele faça as escolhas dele, para que ele tenha clareza para as coisas que ele quer para ele. São preocupações como se fosse filho meu legítimo.”
Para Eagro Henrique, Cassiane nunca foi uma madrasta. Na cabecinha dele, como ela lembra, “havia aquela questão de que madrasta faria o mal.” Então, desde o começo, ele tinha Cassiane como a namorada do pai. “Depois, com o tempo, isso foi mudando e hoje tenho ela como uma pessoa especial, mais que amiga.” A relação familiar é como qualquer outra, como destaca Eagro. “Ela me aconselha, indica caminhos, mas insiste que a opção é minha, claro, brigamos também, mas nos perdoamos também.”
Cassiane acrescenta que “quando temos amor, respeito e carinho, a gente se preocupa, a gente cativa, a gente quer sempre oferecer o melhor.” E é assim, com os ‘filhos da vida’, que ela realiza, ou se aproxima, do sonho de ser mãe. “Acho que ser mãe ou ser pai hoje, não é somente aquela questão de laços sanguíneos, e sim de poder participar e orientar, de poder mostrar caminhos e possibilidades, dar amor.”