Marla: “Quem primeiro exclui são os adultos”

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A Folha do Mate conversou com a psicopedagoga Marla Braatz Carvalho sobre a inclusão escolar. Um dos pontos questionados durante a conversa foi como é a atual preparação das escolas de Venâncio Aires para aceitar um aluno com deficiência. “A acessibilidade ainda é quase nula nas escolas, limitando-se a algumas rampas, sem adaptação de portas ou banheiros”, exemplifica. Outros aspectos também foram abordados, como a preparação do professor, rendimento escolar do aluno, como é realizada a avaliação do aluno, entre outros questionamentos.

Folha do Mate – Segundo a lei, todos os alunos têm o direito de frequentar a escola. Porém, muitas escolas não estão preparadas para aceitar alunos de inclusão. O que você acha disso?Marla Carvalho – Quanto à lei, sim, todo aluno tem direito de frequentar escola. Concordo com a colocação feita de que as escolas não estão preparadas para receber alunos inclusos, principalmente os alunos com deficiência física. A acessibilidade ainda é quase nula nas escolas, limitando-se a algumas rampas, sem adaptação de portas ou banheiros, por exemplo. Além da preparação de professores que, para receber e trabalhar com esses alunos, encontram dificuldades. A maioria dos professores que estão atuando em sala de aula hoje não foram preparados para essa realidade, o ensino recebido era de que todos aprendem da mesma forma e no mesmo tempo e ritmo.

FM – Qual seria a numeração certa de alunos, quando tem os de inclusão?MC – O número certo de alunos por turma depende de cada mantenedora, Estado, Município e Particular. A maioria se baseia em torno de 20 alunos para os primeiros anos (Educação Infantil – ou pré-escola -, 1º e 2º anos). Nos demais anos, cerca de 30 alunos. Na rede estadual consta que cada aluno incluso conte por três ‘normais’ e, em caso de cadeirantes, a turma deve contar com um monitor para auxiliar.

FM – Quantos alunos de inclusão podem ter na mesma sala de aula?MC – Como norma em escolas estaduais, são até três inclusos com deficiências diferentes na mesma turma. Nas escolas municipais ainda não existe essa regulamentação.

FM – Eles atrapalham o rendimento da turma?MC – Eu não diria que atrapalham o rendimento da turma, mas exigem mais atenção dos professores, que precisam encontrar meios de envolver esse aluno o tempo todo, evitando que se distraia e distraia os colegas. Ou dentro das limitações que o aluno apresente. Mas, antes de tudo, o professor precisa conquistar esse aluno, demonstrando que o respeita, o aceita como é e que gosta da presença dele. Confesso, como professora, que não é fácil, mas compensa ver os progressos de cada aluno, incluso ou não.

FM – Como eles são avaliados?MC – Hoje, cada aluno incluso recebe uma adaptação curricular, que é feita pela professora titular da turma com auxílio da professora da sala de recursos (nas escolas que possuem este recurso), a avaliação é feita conforme esta adaptação, mas tem o direito de avaliação diferenciada.

FM – Como os professores e a escola podem se preparar para atender a esses alunos?MC – A preparação dos professores só acontece quando existe muita leitura sobre o assunto, além de discussões em grupos e trocas de experiências, mas nada acontece se o professor não estiver aberto a aceitar e compreender essas mudanças. A colaboração da família é indispensável neste momento, devendo haver diálogo e acordos com o professor.

FM – Além da escola e família, quem pode auxiliá-los?MC – Devem auxiliá-los os profissionais da saúde, como neurologista, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e/ou outros profissionais de que a criança necessite. Não esquecendo que, na maioria das vezes, a família também necessita de alguns desses profissionais para dar o suporte necessário.

FM – Como lidar com a insegurança do professor?MC – A insegurança do professor realmente existe. Acredito que a ajuda de um profissional na área da psicologia seria de grande auxílio. Muitos já foram à procura desse profissional. Alguém precisa cuidar da saúde do professor. Mas a insegurança ainda está sendo amenizada no coleguismo, nos desabafos com colegas, nos elogios que recebemos por trabalhos que realizamos, mesmo que estes fiquem só na escola, e, é claro, no apoio de nossas famílias. Não esquecendo que só com estudo conseguimos descobrir caminhos para este desafio com que nos deparamos e estamos convivendo.

FM – O que fazer quando o aluno se torna agressivo?MC – A agressividade é um dos maiores desafios que encontramos, pois, muitas vezes, atinge a outros alunos. Apenas contamos com a ajuda de alguma medicação, quando indicada pelo especialista, ou com a família. Existem as conversas com orientadora educacional, que geralmente acalmam a criança momentaneamente, é com o que podemos contar nestes casos.

FM – Como é a reação dos outros pais quando ficam sabendo do aluno de inclusão? Há resistência?MC – Ainda hoje existem alguns pais que não veem com bons olhos o aluno incluso na mesma turma que seu filho, principalmente quando está associado a agressividade e deficiência física. é quando entra e escola como um todo, para esclarecer a estes pais que todos têm o direito à escola e que existem maneiras de conviverem harmoniosamente no ambiente escolar e fora dele. O interessante é que a criança, quando pequena, não exclui ninguém, seja com a deficiência que tenha. Quem primeiro exclui são os adultos.

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