“Mais uma vez o Brasil demonstra que corre à frente de outros países na implementação de medidas que certamente vão causar danos à cadeia produtiva do tabaco. Mesmo antes da realização da COP 5, que discutirá temas relacionados à produção e a diversificação do tabaco, o país já adota medidas restritivas. Seguindo este caminho, o resultado será a transferência da produção e dos empregos para outros países produtores”. A manifestação é do presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, sobre a medida do Banco Central que restringe crédito para produtores de tabaco que tiverem menos de 45% da renda da lavoura gerada por outras culturas.
Ao se manifestar sobre o assunto, o presidente do Sindicato Rural de Venâncio Aires, Ornélio Sausen, afirma que é mais uma ‘bomba’ que vai estourar nos fumicultores. “Tem coisas que não tem como acreditar. A presidente da República, mesmo sendo gaúcha, vir com mais uma paulada para cima do nosso fumicultor. Não bastasse todo o entrave que já existe, a presidente aumentou ainda mais as restrições para aquele que planta tabaco, com esta medida em liberar crédito somente para os fumicultores que tiverem 45% da renda da lavoura em outras culturas. Será que não tem ninguém da nossa região do lado da presidente para esclarecer como é a produção do sul do Brasil?”critica.
Para Sausen, falar em diversificação é muito bom para aquele que apenas fala. O dirigente frisa ter certeza que aqueles que pregam a diversificação, que se eles precisassem se sustentar e gerar renda com aquilo que dizem, iriam passar fome. “Será que a presidente Dilma tomou essa atitude somente para agradar seus companheiros? Estou sempre dizendo, ainda vai chegar o dia, que o pessoal vai ter dinheiro na mão e não vai ter o que comprar de comida”, desabafa.
Sausen enfatiza ainda que o governo não entende é que todo produtor tem sua produção de ovos, carne, leite, grãos, aipim, batata, frutas e de tudo de comer produzido na sua propriedade. “Mas se vai vender esses produtos, vai viver como disso?”, questiona. Sausen acentua que estes produtos não agregam renda para o produtor, que não consegue nem comprar sapatos e muito menos roupa nova para um filho. “A única produção que nos proporciona renda certa todo ano, por pior que seja, é o tabaco. Tragam uma alternativa para nós que com certeza vamos ficar muito agradecidos.
Cortar cada vez mais tudo o que vem para o fumicultor não vai resolver nada. Muito pelo contrário: apenas vai aumentar o êxodo rural e inchar as vilas nas cidades”.
Elemar Walker, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais salienta que a agricultura familiar, a cada ano, está sendo mais marginalizada e, a cada momento, é surpreendida com novas e injustas decisões, principalmente por parte do Governo Federal, que dificultam e limitam a sua atividade pondo, em risco a sustentabilidade da mesma.
Como se não bastassem as dificuldades já enfrentadas na agricultura familiar, o Brasil, atendendo interesses internacionais, assinou a famosa Convenção Quadro que a cada safra de tabaco traz novas restrições e aumenta as dificuldades dos agricultores familiares. “Percebemos isso nitidamente quando do lançamento do Plano Safra 2012/13, que traz a necessidade dos agricultores diversificarem a produção, culturas que não sejam de tabaco, num primeiro ano em 25%, no segundo ano 35% e no terceiro ano, ou seja, na safra 2014/15 em 45% da produção”, destaca.
Walker acrescenta que em nenhum momento o governo oferece uma garantia em troca, pois para diversificar e competir, o agricultor familiar necessita de assistência técnica, mais terra e garantia de comercialização dos seus produtos. “Sem cumprir esses requisitos, iremos ver se repetir a velha história, ou seja, incentivar os produtores a produzir mas sem ter uma comercialização dos produtos, consequentemente colocando em risco o investimento do produtor, a sustentabilidade da propriedade e colaborando para acelerar o processo de esvaziamento do interior. A diversificação sustentável precisa vir com toda a infraestrutura necessária, em toda a cadeia produtiva”.
Walker defende a necessidade dos agricultores familiares se mobilizarem fortemente contra algumas ações dos governantes, que os obrigam a obedecer cada vez mais as situações absurdas, para atender aos interesses de alguns.