
Com o calor e as elevadas temperaturas, o alerta contra a dengue acende novamente. Apesar de em Venâncio Aires ainda não haver casos confirmados em 2025, o ano passado foi marcado por uma onda de infecção por dengue, com 2.303 casos, número 16 vezes maior que o registrado em 2023. Na microrregião – Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde -, também não há casos de dengue em 2025, mas já existem situações em investigação. No entanto, segundo dados levantados junto às equipes de imunização da microrregião, na maioria dos municípios a busca pela vacinação é muito baixa.
No momento, por meio da rede pública de saúde e autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são oferecidas vacinas para crianças e jovens de 10 a 14 anos, com duas doses do imunizante Qdenga, do laboratório japonês Takeda Pharma. Em Venâncio Aires, a vacinação iniciou em junho de 2024. São 404 primeiras doses aplicadas e 166 segundas doses (imunização completa). Segundo a enfermeira coordenadora do Setor de Imunizações, Janete Fernandes de Souza, a média de aplicação é de três a cinco vacinas a cada dia. “Ainda segue baixa a procura”, afirma.
Em estoque, a equipe tem 460 doses. Janete menciona que o Governo do Estado só envia novas doses conforme a frequência de aplicações feitas. No público-alvo de 10 a 14 anos, são 6.181 crianças e jovens na Capital Nacional do Chimarrão aptos a receber as doses. A vacina é aplicada na Sala de Imunizações Central, junto ao novo Centro de Especialidades Médicas (antiga UBS Central). O horário de atendimento é de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 11h e das 13h às 16h30min.
Outras cidades
Em Mato Leitão, foram 105 vacinados até o momento: 73 com uma dose e 32 com duas. Segundo a enfermeira Kátia Cristine Heinen, são 80 doses em estoque e a média de aplicação gira em torno de 15 vacinas a cada mês. O público-alvo na Cidade das Orquídeas é de 254 crianças e jovens. As imunizações são feitas de segunda a sexta na UBS Central, das 8h às 11h15min e das 12h30min às 16h15min.
Em Passo do Sobrado, são 29 aplicações feitas em primeira dose e 11 com a cobertura completa. O público-alvo é de 327 crianças e jovens. No estoque estão disponíveis 88 vacinas, que podem ser feitas na Estratégia Saúde da Família (ESF) II, das 8h às 12h e das 13h às 17h, de segunda a sexta. Segundo a enfermeira Josiane Kroth, para quinta-feira, 13, está sendo organizado o atendimento estendido para aplicações da vacina contra dengue e outros imunizantes. Neste dia, o horário será das 8h às 19h.
Em Vale Verde, segundo a secretária de Saúde, Sandra Mello, são 64 doses de vacina já aplicadas, sendo 42 de primeira dose e 22 com as duas. A média de aplicação é de cinco vacinas ao dia. São 130 crianças e jovens na faixa dos 10 aos 14 anos, que podem receber a vacina. No estoque da equipe estão 80 doses. De acordo com a enfermeira responsável pela Vigilância Epidemiológica e Imunizações, Liege Rodrigues do Nascimento, a procura pela vacina está dentro do esperado. As doses são aplicadas na unidade de saúde do município, das 8h às 12h e das 13h às 17h, de segunda a sexta-feira.
26 casos na 13ª CRS
- Nos municípios da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), que abrange 13 cidades do Vale do Rio Pardo, já são 26 confirmações da doença, sendo 20 destes de situações autóctones, ou seja, que foram contraídos no município de residência das pessoas. São 23 casos em Santa Cruz do Sul, um em Candelária, um em Vale do Sol e um em Rio Pardo. São 14 mulheres e 12 homens, a maioria com idades entre 20 a 29 anos.
- Na mesma época, em 2024, durante a sexta semana epidemiológica, eram 42 casos confirmados, e em 2023 eram apenas sete. Neste momento, outros 61 suspeitas estão sob investigação: 56 em Santa Cruz do Sul, dois em Venâncio Aires, dois em Mato Leitão e um em Gramado Xavier. Todos os municípios da 13ª CRS são considerados infestados pela dengue.
Casos de dengue na microrregião em 2024
- Mato Leitão: 50
- Passo do Sobrado: 9
- Vale Verde: 6
- Venâncio Aires: 2.303
Percentuais de cobertura
- Mato Leitão: 12,5%
- Passo do Sobrado: 3,3%
- Vale Verde: 16,9%
- Venâncio Aires: 2,68%
Saiba mais
- Para receber a vacina, é preciso ir até um ponto de imunização com documento, cartão do Sistema Único de Saúde (SUS) e caderneta de vacinação.
- O esquema vacinal consiste em duas doses, com um intervalo de três meses entre elas. As crianças e adolescentes devem estar acompanhados pelos pais ou responsáveis.
- Após receber a dose, devem aguardar pelo menos 15 minutos para observação.
- A vacina pode ser feita mesmo que já se tenha contraído o vírus. No entanto, caso a pessoa tenha tido dengue recentemente, é recomendado aguardar seis meses para iniciar o esquema vacinal.
Situação no Brasil
Em informação publicada pela Agência Brasil, o centro bioindustrial do Instituto Butantan, de São Paulo, anunciou no fim de janeiro que iniciou a produção de imunizantes contra a dengue, chamados de vacina Butantan-DV. Mas, apesar da iniciativa, a população brasileira não será vacinada em massa contra a dengue neste ano.
O problema é a fabricação ganhar escala de produção para chegar a uma centena de milhões. “O Butantan está produzindo, mas não há previsão de uma vacinação em massa neste ano de 2025, isso é muito importante colocar, independente da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], porque é preciso ter escala nessa produção”, afirmou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. A previsão do Butantan, divulgada em dezembro, é de fornecer um milhão de doses neste ano, e totalizar a entrega de 100 milhões de doses em 2027. A entrega das doses só poderá ocorrer após a liberação da vacina pela Anvisa.
No Brasil, o mês de janeiro foi finalizado com 38 mortes confirmadas pela doença, e outros 201 óbitos estão em investigação. Dados do Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde indicam que o coeficiente de incidência do Brasil, neste momento, é 80,1 casos para cada 100 mil habitantes.
Vacina para garantia de proteção coletiva
O pediatra Vilson Gauer, que atende em Venâncio Aires através de consultório particular e também no Centro Especializado de Atendimento Materno Infantil (Cemai), se coloca a favor e destaca a importância de todas as vacinas. “Elas são medidas seguras e efetivas, passam por um processo de elaboração e testagem, em que os fatores de segurança e efetividade são importantes e levados em consideração. Se não for segura, não é liderada e, se tiver baixa efetividade, não compensa o investimento”, diz.
O médico ressalta o benefício de ter uma vacina disponível para crianças e jovens de 10 a 14 anos se protegerem contra a dengue e torce ainda para que no futuro, esteja disponível a toda população para uma vacinação em massa. Ele explica que o público de 10 a 14 anos é considerado de risco, com chances de complicações, assim como os idosos, pessoas com comorbidades e crianças menores de 1 ano.
Gauer observa que como o vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, está presente em praticamente todo o município, a única maneira de ter imunidade e estar protegido é recebendo a vacina. “Não existe outro modo. O vírus invade o organismo e provoca doenças de grau leve a grave, podendo levar a óbito”, alerta Ele acrescenta ainda que é responsabilidade dos pais levarem as crianças e adolescentes para aplicação das doses e que expliquem a importância da medida, não só para eles mesmos, como para as pessoas no entorno, como familiares e vizinhos. “A proteção é coletiva”, completa.
Protegida
Quem aproveitou as férias para se imunizar contra a dengue foi a pequena Cecília Agostini Frey, de 10 anos. Ela foi levada pela dinda Cláudia Agostini Cardoso, de 44 anos, até a Sala de Imunizações do Centro de Especialidades Médicas de Venâncio Aires para receber a primeira dose. Na ocasião, o primo de Cecília e filho de Cláudia, Augusto Agostini Cardoso, de 11 anos, também foi imunizado contra a dengue.
Cláudia, que é agente comunitária de saúde no bairro Santa Tecla, onde reside, relata que teve dengue no ano passado, assim como a afilhada. “Fomos atrás da vacina ano passado na rede privada, mas já não tinha mais”, afirma. Agora, que é gratuita e está disponível na rede pública, levou as crianças para não perder essa oportunidade.
