“Ela é insubstituível, ela era uma parceira, lembramos muito dela, cada detalhe. Claro, amamos todas, mas cada uma é uma. Vamos lembrar para sempre da nossa estrelinha”, é com nostalgia, lágrimas nos olhos e muita saudade no coração que o casal Rose e Roberto Adriano Kist se referem a perda da pequena Laika, a rainha do lar – como eles a denominavam, que morreu no dia 5 de janeiro deste ano, aos 16 anos.
Infelizmente, os pets vivem muito menos que os humanos e, por isso, é muito comum ter que de lidar, eventualmente, com o fim da vida deles. Tem aspectos afetivos mas também práticos que precisam ser administrados e resolvidos. E, às vezes, quando um e outro se misturam, pode ser difícil de resolver. E em meio ao sofrimento muita gente se pega sem saber o que deve fazer em casos assim.
Rose e Roberto optaram por deixar a ‘filha peluda’, depois da partida, próxima de sua casa. O casal optou por não enterrá-la no pátio, já que se preocuparam com as outras duas cadelinhas que moram na casa e poderiam gerar algum problema. Assim, a cerca de 500 metros de sua residência, na casa do pai de Roberto, escolheram um local no terreno ao lado de um pomar. Laika foi acompanhada de sua caminha, seu cobertor e um rosário que a mamãe Rose colocou junto. Rose ainda pretende enfeitar o local com pedriscos e flores. Na hora do adeus, Roberto estava acompanhado de seu pai. Juntos choraram e tiveram que cobrir, aquela que foi a xodó da casa por 16 anos.
Rose lembra com detalhes daquele dia de verão escaldante. Depois de uma folga prolongada devido aos feriados de fim de ano – em que Laika esteve com ela em todos os momentos, o dia 5 marcou seu retorno ao trabalho. Ao chegarem em casa na hora do meio-dia não avistaram a pequena na sua caminha, ao olhar para os fundos de casa a viram deitada no sol. Rose se aproximou, colocou água na sua língua e a avisou: “Laika, papai e mamãe chegaram.” Como um adeus, Laika deu dois suspiros e fechou os olhinhos. Rose relembra que os dias seguintes foram de muita tristeza, mas amenizados pela companhia de Luna e Lady, as outras duas cadelinhas da casa. “Cuidávamos com muito zelo dela, como se fosse uma filha”, ressalta Roberto.
Substituir para não passar pelo luto
A presidente da ONG Amigo Bicho, Naís de Andrade, enfatiza que a perda de qualquer animal sempre é difícil. “Para a Ong, independente que o animal fica conosco um minuto, ou mais dias, o sentimento de perda é enorme, porque sempre tentamos preservar a vida.”
A psicóloga Daniela Graef, salienta que atualmente “vivemos um momento de novas configurações familiares onde os animais passaram a ocupar um lugar singular, substituindo, muitas vezes, presenças humanas. Seja como acompanhante de crianças, idosos ou de quem vive sozinho, até mesmo como substitutos de filhos.
Anteriormente, animais de estimação, principalmente para as crianças, tinham a função de proporcionar experiências de afeto, cuidado, proteção e também perdas. Como esses animais, normalmente têm a vida mais curta do que os humanos, seus donos, inevitavelmente, enfrentarão suas perdas.”
A psicóloga ainda ressalta que a substituição imediata por outro animal é uma das razões de troca afetiva e não irá provocar o luto. “A facilidade de reparar a perda e substituir o animal não aconteceria se fosse um ente querido. Substitui-lo imediatamente não proporciona à experiência do luto que, quando enfrentada adequadamente, gera recursos para lidar com situações similares, principalmente de pessoas queridas.”
Sofrimento abreviado pela eutanásia
De acordo com o veterinário Lucas Lorenzom, os principais casos em que são realizados a eutanásia são relacionadas a doenças terminais, como o caso de alguns tipos de câncer em estágio avançado, casos como insuficiência renal crônica avançada.
O valor varia de acordo com o tamanho do animal. “Antes de realizarmos o procedimento, submetemos o paciente a uma anestesia antes, para que seja totalmente indolor e de uma maneira respeitosa ao animal. Geralmente não é um procedimento demorado, e se o tutor optar, pode permanecer junto durante todo o procedimento. Como temos uma rotina muito grande de atendimentos, acabamos nos deparando frequentemente com essa situação”, explica Lorenzom.
Após o procedimento, o tutor opta por levar o animal e enterrá-lo em algum lugar de sua escolha ou então deixa na clínica que tem um convênio com uma empresa que realiza o recolhimento.
O profissional ainda comenta que “alguns proprietários por incrível que pareça, procuram eutanásia no intuito de se livrar do animal, mas aí logicamente o procedimento não é realizado e tentamos convencer o tutor a desistir.”
O veterinário ainda comenta que é preciso passar toda a confiança para o tutor no momento da decisão e da despedida. “é um momento de dor, então temos que passar toda a tranquilidade e certeza de que o proprietário está tomando a decisão correta. é preciso tirar o peso das costas do tutor, fazendo entender que não está tirando a vida do paciente, e sim, fazendo com que esse amigo não sofra, deixando-o descansar em paz.”
Cemitérios e crematórios
Sepultar o bicho de estimação após a morte, além de ser um gesto de carinho e retribuição às alegrias que ele deu em vida, faz parte de uma tendência conhecida como ‘humanização dos animais de estimação’, e que tem despertado à oferta de produtos e serviços voltados para este novo comportamento do consumidor.
De acordo com informações do site do Sebrae, a falta de espaços nas casas atuais, vem fazendo com que aumente nas cidades, médias e grandes do país, a procura pelo sepultamento em cemitérios de animais, fenômeno impulsionado também pelo aumento do número de proprietários de animais domésticos, de ambos os sexos e idades variadas, em todas as regiões do país.
O Rio Grande do Sul já conta com cemitérios e crematórios. Em 1999, numa área de 30 mil metros quadrados na divisa das cidades de Gramado e Nova Petrópolis foi fundado o Cemitério Parque e o Crematório Saúde Animal. Em Porto Alegre, no bairro Belém Novo, também existe a opção desde 2013. Ambos os locais contam com uma grande infraestrutura como espaço para até 12 pessoas para a cerimônia de despedida, uma pequena cachoeira, recantos e um bosque nativo, além de um memorial para fazer orações, veículo para fazer a remoção nas clínicas ou a domicílio e diversos tipos de urnas para depositar as cinzas. é também no Brasil, em Santos – São Paulo, em que existe o primeiro da América do Sul e o mais bonito do mundo.
Em Venâncio não existe um cemitério para animais. A orientação por parte da Secretaria municipal do meio Ambiente é de enterrá-los em seus respectivos pátios ou encaminhá-los para clínicas veterinárias que tem a parceria com cemitérios ou empresas que fazem o recolhimento. De acordo com Taís Brum, responsável pelo setor de limpeza urbana da pasta, não há recolhimento por parte da Prefeitura devido a questões técnicas e ambientais. “Para se ter um cemitério de animais é necessária toda uma parte burocrática que envolve questões como licença, é quase semelhante a abrir um cemitério de humanos.”
Carta de despedida
No dia em que a Laika morreu, Roberto Adriano Kist também externou sua dor nas redes sociais. Abaixo o texto que escreveu e publicou no seu perfil pessoal.
“Ao longo do tempo você nos trouxe amor,Perdeu o brilho nos olhos e a força de caminhar,
Mas nos mostrou que até o final iria lutar.Vimos todos os dias algo chamado superação,Lutando para manter batendo seu pobre coração,Mesmo quando a velhice te assolou.Todo o dia a nós se dedicou,Tínhamos em ti uma companheira fiel,E agora é uma estrela no céu.Mesmo que tenha perdido teu porte,Que tenha esquecido a elegância,Sabes o quanto foi forte e nos passou segurança.E quando a doença chegou,Tu tentaste resistir,E mesmo triste sentíamos que iria conseguir.E hoje chegou tua hora amiga,Foi para o céu alegrar a Deus,E aqui nós ficamos procurando como seguir.Agora as lágrimas desforram por meus olhos,E meu coração sente muita dor,Mas é que realmente eu tinha por você grande amor.Se hoje você se foi resta-me pensar assim,Que devo lembrar-me de todas as alegrias,Que um dia trouxe a mim.Você sempre esperava alguém pra te alisar,Alguém que ao final do dia viesse te encontrar.Deitada sempre perto a nos escutar,Sabendo quando a tristeza estava pra chegar.Descanse em paz velha amiga,Pois tu lembrança sempre carregaremos conosco.”