Foram cerca de 20 anos como dependente químico, mas, apesar do longo tempo nessa condição, o mais precioso na vida de Carlos Alberto Batista de Freitas, 43 anos, são os três anos e meio ‘limpo’ das drogas e a oportunidade de recomeçar após o tratamento no Centro Terapêutico Casa de Davi, localizado em Venâncio Aires.
Morador de Santa Maria, Carlos é natural de Porto Alegre e foi criado no bairro Bom Jesus. Aos 13 anos começou a fumar cigarro e esse ‘encontro’ abriu portas, também, para o consumo de bebidas alcoólicas. Aos 14 anos, ele conheceu a cocaína e, mais tarde, o crack. “Naquela época, ainda não tinha crack em Porto Alegre, mas a gente encontrava uma maneira de fazer com bicarbonato de sódio”, recorda.
Como dependente químico, se envolveu com o crime e, inclusive, foi preso. “O uso de drogas levou à ruína da minha vida. Através desse mundo de drogadição eu perdi tudo que tinha, até mesmo a confiança dos amigos e da família. Eles não acreditavam mais em mim, porque muitas vezes tentaram me ajudar, mas o vício era tão grande que eu não aceitava. Eles acabaram se afastando porque não queriam me ver passando por aquela situação”, conta.
A dependência química também levou Carlos a morar na rua. “Estava sempre arrumando um jeito de usar drogas e beber cachaça. Fui um dependente químico muito compulsivo. Hoje, quando converso com as pessoas para auxiliá-las, costumo dizer que eu fui um dos maiores drogados e craqueiros de Porto Alegre. Eu usava todos os dias e isso fez com que eu me afundasse cada vez mais”, relembra. A dependência era tanta, que o antigo apelido Alemão, foi substituído por Caveirinha. “De tão magro que eu estava. Cheguei no centro terapêutico com cerca de 60 quilos”, acrescenta.
Mudança de vida
Se na adolescência Carlos encontrou as drogas e durante muitos anos elas foram o refúgio dele para esquecer e até mesmo fugir dos problemas, quando adulto, o encontro foi com a fé, combustível que o levou a voltar a ter esperança em um recomeço. “Depois de um tempo percebi e eu sabia que tinha que sair dessa vida, mas não tinha força, não tinha o apoio necessário, porque minha família não acreditava mais em mim, porque muitas vezes eu neguei esse auxílio.”
O processo não foi fácil e mesmo tendo consciência sobre a necessidade de mudança, ele não conseguia fazer isso sozinho. Até que, ainda como morador de rua, encontrou auxílio de pessoas da igreja Assembleia de Deus, que lhe falaram sobre o projeto Recuperando Vidas, vinculado à Casa de Davi. No local, Carlos poderia realizar o tratamento de reabilitação, o que aconteceu em sefuida. “Ali eu comecei a ter esperança. Existiu um período da minha vida que eu usava o crack chorando, porque sabia que eu tinha uma família que me amava, mas que não acreditavam mais em mim. Foi um período muito difícil”, compartilha.
O primeiro contato com o centro terapêutico foi em Viamão e, depois, ele foi transferido para a Capital do Chimarrão, onde permaneceu por um ano e um mês em tratamento. “Foi o lugar que ajudou a mudar a minha vida. Quando fui transferido para Venâncio, para fazer o restante do tratamento, recebi um grande pontapé.”
Em Santa Maria, Carlos vive com a esposa, Maria Bairros, 47 anos, e a filha, Helena Bairros, 8 anos, congrega na igreja do Evangelho Quadrangular e está com a cerimônia de casamento marcada para o dia 13 de janeiro. Hoje, ele comemora a conquista da casa, do carro e do negócio próprio, uma barbearia. Ofício que ele concilia com a atividade de pedreiro.
“Meu grupo de apoio é a igreja e dobrar os joelhos e orar a Cristo. Não vou dizer que a dependência química tem cura. O espiritual que tem cura. Nos aspectos físico e mental as sequelas permanecem, mas hoje eu sou uma pessoa liberta”, comemora. Além da vitória de ter conseguido restaurar a vida, Carlos utiliza as experiências que viveu para ajudar outras pessoas.
“Eu e minha esposa temos um projeto para levar marmitas aos moradores de rua, conversar com eles e dar um abraço. Levar a mensagem de que existe esperança para quem está nesta situação.” Além disso, Carlos também atuou como voluntário na Casa de Davi durante um período e busca, com o próprio exemplo, espalhar a mensagem do Evangelho e do poder que Deus tem para restaurar vidas.
“Deus mudou a minha vida através do projeto Recuperando Vidas da Casa de Davi e das ferramentas que me ensinaram e que foram necessárias para eu ficar de pé até hoje. Graças a Deus estou limpo e tenho certeza que enquanto eu permanecer usando as estratégias que eles me apresentaram e ensinaram, vou permanecer limpo pelo resto da minha vida.”
CARLOS ALBERTO BATISTA DE FREITAS
Barbeiro e pedreiro
Centro Terapêutico
• O Centro Terapêutico Casa de Davi, vinculado às igrejas Assembleia de Deus de Viamão e de Soledade, está localizado à margem da RSC-453, em Venâncio Aires. Atualmente, 14 pessoas são atendidas no local. O telefone para contato é o (51) 99171-7579.
• O centro tem convênio com a Prefeitura de Venâncio para disponibilizar 10 vagas, mas hoje apenas quatro são ocupadas. Também são oferecidas vagas sociais, sem custo para pessoas em situação de vulnerabilidade social, e ainda há encaminhamentos particulares.
• O mesmo projeto também é realizado em outras duas cidades gaúchas, com sede em Viamão, onde são atendidas 30 pessoas. Em Soledade, há 17 pacientes em tratamento. As três unidades têm capacidade para atender 30 pacientes.