No longínquo ano de 1937, a radiodifusão dava seus primeiros passos em Venâncio Aires. Por meio de alto-falantes instalados em postes, as possibilidade de comunicação foram ampliadas e a população ganhou uma nova forma de entretenimento.
Com cerca de 30 mil habitantes na época, a cidade via surgir uma primeira experiência de rádio, o sistema Voz do Poste. Em um trecho de dez quarteirões da Osvaldo Aranha, principal rua da cidade, alto-falantes transmitiam músicas, avisos e dedicatórias.
Sabe-se também que, de 1947 a 1952, a rádio-poste Voz do Ouro funcionou em Venâncio Aires. Em 1954, liderada por Ilgo José Wink, a Voz do Ouro ressurgiu batizada pelo povo de Voz do Poste.
“O povo se juntava na praça para ouvir a Voz do Poste. Era uma novidade para os venâncio-airenses e o rádio era algo ainda pouco conhecido”, lembra Avelino Klein, 89 anos. Ele recorda que as transmissões ocorriam apenas em determinados horários, como nos fins de tarde, aos sábados pela manhã e aos domingos, quando a PROGRAMAÇÃO era mais intensa.
Klein conta que as pessoas iam ao Centro, muitas vezes, só para ouvir a rádio-poste. “A praça era um local de encontro e a Voz do Poste era a atração.” O aposentado lamenta que o hábito tenha se perdido com o tempo, uma vez que as famílias, acompanhadas do chimarrão, costumavam lotar a praça aos domingos, algo que quase já não se vê mais.
Além da transmissão de música, Klein lembra que a rádio-poste era utilizada na divulgação de informações, anúncios comerciais, avisos e dedicatórias dos moradores. “Era comum o envio de mensagens entre os namorados e congratulações nas datas de aniversário.” Ele também recorda que a PROGRAMAÇÃO não era fixa e havia muito improviso.
COMO FUNCIONAVA
Harry Wildner foi um dos responsáveis pelo funcionamento da última rádio-poste existente na cidade. A Voz do Poste era algo bastante simples: 24 cornetas de alumínio espalhadas pela rua Osvaldo Aranha, responsáveis por levar música e informação aos ouvintes. O serviço funcionava em um pequeno estúdio no Centro da cidade.
A esposa do já falecido Wildner, Clédia Wildner, conta que o marido era apaixonado por rádio e ter atuado junto à Voz do Poste, assim como ter protagonizado a criação da hoje Rádio Venâncio Aires, lhe era motivo de orgulho.
Clédia relembra que foram tempos difíceis e diz que a rádio enfrentava dificuldades para se manter, uma vez que o número de comerciantes na cidade era pequeno. Logo, eram poucos os anunciantes. “Era um sonho do meu marido, mas que foi difícil de realizar. Hoje, ‘fazer rádio’ ficou mais fácil.” Ela conta que o marido também demonstrava ligação com a radiodifusão por possuir uma oficina, na qual consertava e também vendia aparelhos de rádio.
Sobre os primórdios do rádio em Venâncio Aires, Clédia lembra que enfrentavam dificuldades para encontrar pessoas qualificadas para atuar no rádio, pois cita a necessidade de uma entonação de voz adequada para trabalhar na locução.
Ela diz que muitos profissionais vieram de outras cidades, onde já haviam trabalhado na área. Ilgo José Winck – que já atuará em rádio em Santa Cruz do Sul -, por exemplo, foi, também, quem trouxe as cornetas de alumínio.
Para colocar em funcionamento a primeira emissora de rádio do município, que aposentou a Voz do Poste, Harry Wildner foi ao Rio de Janeiro, em 1956, e após várias idas e vindas à então capital do Brasil, conseguiu a frequência 1.260khz e o prefixo ZY U-90 para a Sociedade Venâncio-airense de Radiodifusão Ltda. Em 1959, o Ministério de Viação e Obras Públicas assinou a portaria que oficializou a emissora.
Esta matéria foi publicada inicialmente na Exceção, revista-laboratório produzida por alunos do Curso de Comunicação Social da Unisc.