Juntos há nove anos, a pedagoga Bárbara Gassen e o eletricista industrial Douglas Ireno, ambos de 26 anos, são a prova de que o amor supera tudo, até o preconceito.

Com amigos em comum, ambos se conheciam de vista, mas nunca tinham parado para conversar e por isso a impressão um do outro não era a melhor. Mas foi o gosto pelo rap que os aproximou e desde então, não se largaram mais. Depois de compartilhar o conhecimento sobre música e concluírem que tinham muitas afinidades, veio o passo mais difícil: encarar as famílias. “Minha família toda não aceitava, a família dele também não, diziam que ele iria sofrer e que não tínhamos nada a ver. Os amigos zoavam, diziam que ele estava comigo só para se mostrar, minhas amigas também diziam que eu era louca. Um dia estávamos na rua, meu pai passou, nos viu, me arrancou e me jogou para dentro do carro, foi horrível, só ouvíamos palavras e atitudes contrárias ao nosso namoro”, lembra Bárbara.

Com a falta de apoio, Bárbara saiu de casa e se mudou para uma pensão. Sozinha tinha ao seu lado apenas Douglas, que para ela, naquele momento, bastava. “Passei muito sufoco e ele sempre do meu lado.” Juntos conquistaram e realizaram sonhos. “Comecei a fazer faculdade, eu não tinha o apoio de ninguém, a não ser dele. Ele também fez cursos e depois de uns quatro anos, quando me formei, aí a minha família começou a aceitar, viram que ele não era má pessoa, que era apenas um pré-conceito. Aí fomos morar juntos. Compramos agora um apartamento, um carro, viajamos; nossa vida mudou da água para o vinho”, enfatiza Bárbara.

Mas de acordo com o casal, muitos episódios que viveram não serão esquecidos tão cedo. As atitudes e palavras proferidas a eles por familiares, amigos e até desconhecidos machucaram, mas fortaleceram ainda mais a relação. “Numa praia em Santa Catarina um cara me perguntou se era comum no Rio Grande do Sul ter negro com alemão e negro ser torcedor do Grêmio, pois eu estava com a camisa do Tricolor”, conta Douglas, que ainda acrescenta: “Essas coisas machucam, mas eu relevo bastante, se deixar se abater, não se vai para frente. Até no Rio de Janeiro, local que tem mais negros do que brancos, eles nos olhavam diferente, não falam, mas percebe-se no olhar.”

Agora, os planos do casal são de construir uma família. “Meu pai agora até quer um neto, está todo orgulhoso de nós”, festeja Bárbara. 

Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do Mate“Nunca passamos um por cima do outro, sempre lado a lado e se respeitando, independente da cor, que não significa nada”                 Bárbara Gassen e Douglas Ireno
 Bárbara e Douglas: “Nunca passamos um por cima do outro, sempre lado a lado e se respeitando, independente da cor, que não significa nada”