

Atualmente com 235 funcionários e entre as empresas de maior valor adicionado fiscal de Venâncio Aires, a Fundição Venâncio Aires (Faires) colhe frutos de um planejamento iniciado em 2006 e que, desde lá, foi seguido à risca, com foco no desenvolvimento sustentável.
Mais do que a consolidação no mercado – atua nas linhas automotiva, irrigação, garimpo e doméstica, com exportação para vários países -, a empresa conquistou uma posição de destaque pelo compromisso social e preocupação ambiental.
Diretor da Faires, Flávio José Bienert lembra que de 1993, quando adquiriu a empresa, até 2005, ano que antecedeu o início de um novo ciclo, com mudanças profundas no seu negócio, os obstáculos foram surgindo com frequência, “mas tivemos força para sobreviver e prosperar”.
O sucesso da Faires, na opinião de Bienert, se deu a partir do entendimento de que, além de condição financeira satisfatória, uma empresa – principalmente uma fundição – precisa oferecer qualificação aos profissionais, evitar danos ao meio ambiente e contribuir para o desenvolvimento da comunidade na qual está inserida.
Com a expansão da empresa, que começou em um pavilhão, com 13 colaboradores, e hoje tem uma área construída de 8,7 mil metros quadrados, a Faires deu sequência às boas práticas e, com isso, as oportunidades e bons resultados foram consequências. Como exemplo, Bienert cita o processo de destinação da escória (subproduto da fundição).
Antes, a empresa pagava pela retirada do material, mas agora, vende para empresários de Santa Catarina, que usam o resíduo na produção de cimento. “É uma reversão importante, pois além de deixarmos de gastar com o processo, temos lucro com a destinação”, argumenta.

INVESTIMENTOSPara cumprir exigências da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), valores vultuosos foram investidos em sistemas de exaustão, iluminação de toda a estrutura física e aquisição de equipamentos de proteção individual. “Em 2012, implantamos mais um sistema de emissão de partículas e de controle de ruídos, em um aporte bastante significativo”, comenta o diretor, acrescentando que, com estes investimentos, “a cada três minutos, com o vento a uma velocidade de 10 quilômetros por hora, o ar de toda a fundição é renovado”.
Um açude com capacidade para 600 mil litros de água também foi construído no terreno da empresa para o reaproveitamento dos recursos hídricos. Um sistema de calhas destina para lá toda a água que é utilizada no local e também a água da chuva. “A refrigeração dos nossos fornos é feita com a água reaproveitada, por exemplo.
Ao lado do açude há uma estação de tratamento, que nos dá segurança para reutilizar a água”, explica o diretor. As ações, segundo Bienert, colaboraram para desmontar os argumentos de que uma fundição só serve para poluir o meio ambiente e causar transtornos a quem reside nas proximidades.

“As dificuldades que se apresentaram foram inúmeras, mas teimosamente decidimos seguir o que havíamos definido como meta para a Faires. Hoje, temos orgulho desta empresa que, além de estar com a saúde financeira em dia, se preocupa com as pessoas e com os recursos naturais.”
FLÁVIO BIENERTDiretor da Fundição Venâncio Aires


SUCESSÃO
1 Preocupação de muitos empresários, a sucessão na Fundição Venâncio Aires é um assunto que se pode chamar de bem resolvido. Desde 2005, Caroline Bienert, filha de Flávio, trabalha na Faires e, atualmente, é quem responde na ausência do pai.
2 Formada em Comércio Exterior, ela participou do processo de expansão da empresa e teve papel fundamental na “mudança radical da Faires”, como classifica seu pai, a partir de 2012. Foi neste ano que a fundição, diante da necessidade de implementação de novas tecnologias para atender às exigências do mercado, passou por uma reengenharia que, hoje, confirma-se como acertada.
3 Para ela, o maior desafio é dar sequência à empresa criada pelo pai. Apesar da complexidade da tarefa, Caroline sustenta que está pronta para levar a Faires adiante, até porque já conta com experiência no ramo da fundição. “Precisamos seguir investindo em novas tecnologias, estar atentos ao mercado e mostrar competitividade”, analisa.
Empresa ‘abraçou’ o bairro Battisti
Além da prosperidade da Faires, há um outro motivo que enche o diretor Flávio Bienert de orgulho. A empresa está localizada às margens da RSC-453, bem no trevo de acesso ao bairro Battisti, que é um dos maiores bolsões de pobreza de Venâncio Aires. No bairro, reside a maior parte das pessoas que trabalham na fundição. Sempre que há vagas a serem preenchidas, a notícia logo se espalha pela região, atingindo ainda os bairros Coronel Brito e Brands, outros dois que também estão entre os mais carentes do município.

Além disso, a Faires ajuda financeiramente e com realização de serviços a Creche Pingo de Gente, localizada no bairro Battisti, e a ONG Parceiros da Esperança (Paresp), que fica no bairro Morsch, mais distante da sede da empresa, mas que também tem como foco o atendimento a crianças. “Isso realmente é uma satisfação, uma alegria que temos. Várias pessoas que trabalham na fundição vêm tranquilas para as atividades porque têm onde deixar seus filhos em segurança. É gratificante o fato de contribuir com o desenvolvimento da região e das famílias, fazendo o que, muitas vezes, o poder público deixa de fazer”, comenta.
MÃES TRANQUILASJúlia Rafaela Ireno, 29 anos, e Adriana Padilha Rodrigues, 39 anos, moram na mesma rua, no bairro Battisti, e têm rotinas diárias parecidas. Minutos antes das 7h, de segunda a sexta-feira, elas saem de casa para trabalhar. A caminho da Faires, deixam os filhos na Creche Pingo de Gente. Júlia entrega aos cuidados das professoras a filha única Sara Victoria Ireno, 6 anos. Já Adriana leva até a creche o mais novo de seus três filhos, Gustavo Luciano Busch, 4 anos. Depois, de bicicleta ou a pé, seguem para suas atividades.
De acordo com elas, trabalhar perto da creche e de casa é importante tanto pela questão de conciliar horários quanto pelo tempo que é possível fazer sobrar para as tarefas domésticas. “Qualquer coisa que acontece com as crianças, na creche, a gente está ali pertinho”, diz Júlia, que trabalha na revisão de peças há dois anos, função que tem como objetivo o controle de qualidade dos produtos. Adriana concorda e, além disso, lembra que, não fosse a creche, não teria como trabalhar. “É indispensável e fica no caminho do trabalho. Para mim, tudo se encaixou perfeitamente. Fiquei sabendo que havia a vaga para o setor de acabamento de peças, mandei o currículo e aprendi tudo o que sei aqui”, afirma ela, que tem oito meses de empresa.
Programas
Futuro Vivo: Programa da Faires voltado para a realização de ações que promovam a sustentabilidade no pilar ambiental, buscando envolver força de trabalho e a comunidade, conscientizando e ensinando para o futuro.
Mão Amiga: Programa da Faires voltado para a realização de ações sociais, que tem como finalidade unir a força de trabalho, a comunidade e as demais partes interessadas em busca do bem comum, atendendo às demandas e necessidades da sociedade.
ISO 9001: A empresa tem seus processos enquadrados nos critérios da Norma ISO 9001:2008. O objetivo é assegurar processos mais sólidos e confiáveis, garantindo a qualidade dos produtos, mantendo assim a satisfação dos clientes. Em 2018, a empresa atualizou o certificado, passando para a versão ISO 9001:2015.

“Temos espaço para crescer e empregos para gerar”

Segundo o diretor da Faires, Flávio José Bienert, a empresa não deixará de investir e apostar no crescimento. De acordo com ele, a intenção é expandir as atividades apostando no mesmo modelo de sucesso. “Temos espaço para crescer e empregos para gerar. Os projetos não param e há uma linha nova no laboratório, que deve ser apresentada a partir de janeiro de 2019”, revela.
Com as novidades relacionadas à produção, a projeção é de que vagas de trabalho sejam criadas e, novamente, a intenção é dar prioridade para a mão de obra do bairro Battisti e adjacências. “Apesar de o governo nos impor uma carga tributária exagerada, se deixarmos de competir no mercado, a concorrência ocupa os espaços. Acredito, como brasileiro, que a crise vai passar de vez e queremos estar preparados para uma nova etapa de crescimento”, conclui Bienert.
BICICLETAS X CARROSGerente de vendas da Faires, Charles Bueno, chegou à fundição em 2006. Ele destaca que, de lá para cá, é possível perceber claramente que os funcionários foram ganhando em qualificação e melhorando o nível de vida. “A comparação que eu faço é em relação aos carros e bicicletas. Antes, o bicicletário, que é enorme, estava sempre lotado, e as vagas para estacionamento de automóveis sobravam. Hoje, as bicicletas ainda estão presentes, mas em menor número, enquanto os veículos aparecem cada vez mais”, constata. Para Bueno, a conscientização da diretoria sobre a necessidade de mudança, há 12 anos, tem reflexos diretos hoje. “Sobrevivemos, profissionalizamos e crescemos todos juntos”, orgulha-se.