

O prédio do Museu de Venâncio Aires não tem 200 anos, seu acervo não comporta 20 milhões de itens e seu idealizador não foi um rei. Guardadas as devidas proporções com o Museu Nacional do Rio de Janeiro, o da Capital Nacional do Chimarrão também é considerado inestimável para sua gente. Afinal, parte dos 127 anos desde a emancipação de Venâncio Aires e até anterior a isso está entre as paredes de um prédio também histórico, o Edifício Storck, com quase 90 anos, onde funciona o Museu de Venâncio Aires.
Embora as comparações possam parecer inadequadas, fato é que ambos os lugares têm o mesmo objetivo: preservar seu patrimônio. No Rio de Janeiro, o incêndio que destruiu séculos da História brasileira e do mundo levantou uma série de questionamentos a respeito da manutenção dos acervos culturais e históricos do país. Isso também repercutiu dentro do Museu de Venâncio Aires que, assim como a maioria, faz um esforço constante para se manter e se vira como pode.
Assim foi desde o início, quando em 1994 começou a campanha para a compra do Edifício Storck. Com 664 “doadores de metro quadrado” e uma emenda parlamentar do então deputado Gleno Scherer, foi possível adquirir o prédio por 500 mil dólares. A ajuda popular seguiu depois, na montagem do acervo, recebendo milhares de doações. Aí se explica o porquê de ser chamado de “museu de muitos donos”.
Em outubro, o Museu fará 24 anos, mas com a preocupação constante de seguir em frente. O lugar que ‘vive de passado’ está sempre preocupado com as perspectivas futuras e elas passam, entre outros fatores, por melhorias no prédio e na manutenção do seu acervo.

ENTRE OS RECURSOS E AS DEMANDASAs dificuldades vão desde a infraestrutura até os cuidados necessários com os objetos. Conforme o tesoureiro da Casa de Cultura – mantenedora do Museu – , Flávio Seibt, tudo depende de dinheiro e se não fossem projetos de captação de recursos via Lei Rouanet, o museu já teria fechado. “Se não fosse isso, seria impossível. E o que aconteceu no Rio de Janeiro, essa omissão dos governantes, também aconteceu aqui, principalmente nas últimas três administrações municipais.”
A Lei Rouanet mencionada por Seibt é a que possibilitou um projeto, em fase final de planejamento por uma empresa de Porto Alegre, para obras de restauração no Edifício Storck. Entre as melhorias, a substituição do telhado e a futura instalação de um elevador. Com ajuda da Prefeitura, se busca a desapropriação de um terreno ao fundos do prédio, de 328 metros quadrados. “Se isso se confirmar, temos o objetivo de construir uma reserva técnica de três andares, 748 metros quadrados, tudo climatizado, com telhas fotovoltaicas.”
Das necessidades emergenciais, há a recuperação do forro do andar onde ficam as exposições. “O estuque foi se deteriorando e isso danificou também os detectores de fumaça. Isso começou há uns 20 anos, quando houve a reforma do assoalho e do telhado no andar superior”, explica Seibt.
Nesta semana, a Casa de Cultura vai se inscrever para concorrer a 28 verbas de R$ 100 mil reais através de um edital do Instituto Brasileiro de Museus. Através dele, o Museu apresenta seu projeto de qualificação para revitalizar e catalogar o acervo. São 17 mil itens catalogados, mas o Museu conta com cerca de 80 mil peças. Para esse trabalho de catalogação, são os próprios funcionários, hoje em oito, que passam por contantes capacitações.

“Prédios podem ser reconstruídos, acervos são únicos”
A preocupação que veio à tona com a preservação da memória de municípios, estados e país também foi destacada por milhares de historiadores, pesquisadores e museólogos. Em Venâncio Aires, a historiadora Angelita da Rosa ressaltou que fatos como o ocorrido no Museu Nacional são impossíveis de mensurar.
“É uma perda incontável e incalculada. Prédios podem ser reconstruídos, acervos são únicos. Imagine qualquer peça única do museu local, ela por si só é insubstituível, ainda mais quando o acervo local diz respeito às pessoas da comunidade, ou seja, o elo de identidade é mais forte ainda.”