O passado também merece um futuro
Foto: Alvaro Pegoraro/ Folha do MatePrédio do Museu de Venâncio Aires tem quase 90 anos
Prédio do Museu de Venâncio Aires tem quase 90 anos

O prédio do Museu de Venâncio Aires não tem 200 anos, seu acervo não comporta 20 milhões de itens e seu idealizador não foi um rei. Guardadas as devidas proporções com o Museu Nacional do Rio de Janeiro, o da Capital Nacional do Chimarrão também é considerado inestimável para sua gente. Afinal, parte dos 127 anos desde a emancipação de Venâncio Aires e até anterior a isso está entre as paredes de um prédio também histórico, o Edifício Storck, com quase 90 anos, onde funciona o Museu de Venâncio Aires.

Embora as comparações possam parecer inadequadas, fato é que ambos os lugares têm o mesmo objetivo: preservar seu patrimônio. No Rio de Janeiro, o incêndio que destruiu séculos da História brasileira e do mundo levantou uma série de questionamentos a respeito da manutenção dos acervos culturais e históricos do país. Isso também repercutiu dentro do Museu de Venâncio Aires que, assim como a maioria, faz um esforço constante para se manter e se vira como pode.

Assim foi desde o início, quando em 1994 começou a campanha para a compra do Edifício Storck. Com 664 “doadores de metro quadrado” e uma emenda parlamentar do então deputado Gleno Scherer, foi possível adquirir o prédio por 500 mil dólares. A ajuda popular seguiu depois, na montagem do acervo, recebendo milhares de doações. Aí se explica o porquê de ser chamado de “museu de muitos donos”.

Em outubro, o Museu fará 24 anos, mas com a preocupação constante de seguir em frente. O lugar que ‘vive de passado’ está sempre preocupado com as perspectivas futuras e elas passam, entre outros fatores, por melhorias no prédio e na manutenção do seu acervo.

Foto: Débora Kist / Folha do MateEstrutura do forro do andar das exposições está comprometida
Estrutura do forro do andar das exposições está comprometida

ENTRE OS RECURSOS E AS DEMANDASAs dificuldades vão desde a infraestrutura até os cuidados necessários com os objetos. Conforme o tesoureiro da Casa de Cultura – mantenedora do Museu – , Flávio Seibt, tudo depende de dinheiro e se não fossem projetos de captação de recursos via Lei Rouanet, o museu já teria fechado. “Se não fosse isso, seria impossível. E o que aconteceu no Rio de Janeiro, essa omissão dos governantes, também aconteceu aqui, principalmente nas últimas três administrações municipais.”

A Lei Rouanet mencionada por Seibt é a que possibilitou um projeto, em fase final de planejamento por uma empresa de Porto Alegre, para obras de restauração no Edifício Storck. Entre as melhorias, a substituição do telhado e a futura instalação de um elevador. Com ajuda da Prefeitura, se busca a desapropriação de um terreno ao fundos do prédio, de 328 metros quadrados. “Se isso se confirmar, temos o objetivo de construir uma reserva técnica de três andares, 748 metros quadrados, tudo climatizado, com telhas fotovoltaicas.”

Das necessidades emergenciais, há a recuperação do forro do andar onde ficam as exposições. “O estuque foi se deteriorando e isso danificou também os detectores de fumaça. Isso começou há uns 20 anos, quando houve a reforma do assoalho e do telhado no andar superior”, explica Seibt.

Nesta semana, a Casa de Cultura vai se inscrever para concorrer a 28 verbas de R$ 100 mil reais através de um edital do Instituto Brasileiro de Museus. Através dele, o Museu apresenta seu projeto de qualificação para revitalizar e catalogar o acervo. São 17 mil itens catalogados, mas o Museu conta com cerca de 80 mil peças. Para esse trabalho de catalogação, são os próprios funcionários, hoje em oito, que passam por contantes capacitações.

Foto: Débora Kist / Folha do MateFlávio Seibt destaca o “Realejo”, item doado por Wilmuth Bergmann
Flávio Seibt destaca o “Realejo”, item doado por Wilmuth Bergmann

“Prédios podem ser reconstruídos, acervos são únicos”

A preocupação que veio à tona com a preservação da memória de municípios, estados e país também foi destacada por milhares de historiadores, pesquisadores e museólogos. Em Venâncio Aires, a historiadora Angelita da Rosa ressaltou que fatos como o ocorrido no Museu Nacional são impossíveis de mensurar.

“É uma perda incontável e incalculada. Prédios podem ser reconstruídos, acervos são únicos. Imagine qualquer peça única do museu local, ela por si só é insubstituível, ainda mais quando o acervo local diz respeito às pessoas da comunidade, ou seja, o elo de identidade é mais forte ainda.”