O peregrino Joshua deixara para trás o povoado de Menina Bonita, e caminhava em acidentada estrada, o que cobrava o preço de seu velho corpo. No entanto, pensava que a vastidão verde, vista do ponto onde se encontrava, valia o sacrifício, pois de inacreditável beleza. Outro fato que alegrou sua alma foi perceber que a estrada que o levaria ao próximo povoado, dali para diante, era só descida.Atendendo suas limitações, sentou-se à sombra de uma figueira para descansar e tomar um gole de água. Sem tardar, avistou um andarilho se aproximar, e que sentou ao lado de Joshua.- Meus pés estão me matando – disse o andarilho. – Que droga de caminhada! E essa estrada, cheia de pedras e buracos… Você também não acha que isso é um calvário?Joshua guardou o cantil dentro do alforje.- Meu bom amigo, permita-me discordar. Apesar da evidente dificuldade da trilha, prefiro pensar no belo e agradável que ela me proporciona.- Belo e agradável? Como assim?- A natureza, os pássaros, o vento. Nessa nossa vida, quando exercitamos otimismo e alegria, tudo alcança um sentido diferente, e a própria vida se posta para o melhor.- Ora, pois! Tudo está para o melhor, como, com meus pés doendo desse jeito? Os seus não doem?Joshua ajeitou a bengala entre os joelhos.- Doem, sem dúvida. Assim como minhas costas, também minhas mãos, de se apoiarem em minha bengala.- Pois é!- Mas, penso que é um preço pequeno frente à beleza que meus olhos testemunham através dos caminhos. Meu velho corpo cansa, porém, a cada dia convenço-me de que as amizades que cultivo, e pessoas que conheço, superam qualquer esgotamento. Abro meus olhos e observo o que acontece ao meu redor, sem me preocupar em demasiado com os buracos da estrada, pois, senão, não seria capaz de admirar a beleza do azul do céu – e Joshua percebeu que o andarilho olhou para o céu. – Assim sãos os homens e sua vida em sociedade: quanto mais apegados e preocupados com seus próprios pés, menos consideram o que acontece ao seu redor, o que conduz à indiferença.- Sim, entendo o que o amigo quer dizer.Joshua olhou para o andarilho.- O mais curioso é que, não raramente, o que almejam está pertinho de si, bastaria olharem para o lado. Por isso é tão importante erguermos os olhos e vislumbrarmos aonde nossos pés nos conduzem.O andarilho coçou a cabeça.- Como assim?- Veja hoje, por exemplo: o amigo só via e pensava no caminho, seus buracos e pedras, com seus pés doendo sem razão alguma, e a dor se transformou em calvário. Mas, no momento em que levantou os olhos e olhou para os lados, encontrou-me. Agora, sua vida se modificou, e seus pés doeram para alcançarem uma nova amizade. Não tenho dúvida de que, nesse momento, possuiu sentido o porquê de seus pés doerem, sem se tornarem um calvário.O andarilho abriu um sorriso na face.- Com certeza.Joshua olhou nos olhos do andarilho.- Meu amigo, é por isso que minha verdade lhe digo: não deixe o cansaço tomar conta de sua vida. Aproveite a companhia do próximo, combata a indiferença. O simples exercício de se autorizar perceber o mundo mudará o seu viver.