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“Um homem nunca será julgado demasiadamente prudente por escolher seus inimigos” (Oscar Wilde)

O conflito faz parte da própria essência da política. Não há política sem conflito. As eleições mesmo são uma forma civilizada de conflito, que contém uma solução institucional para ele: o voto. Vários candidatos disputando uma mesma vaga estão em conflito entre si. O próprio eleitor retira do conflito e do desempenho dos candidatos nos momentos de confronto, informações valiosas para a sua decisão final em quem votar. O conflito se estabelece entre partidos, entre personalidades, entre diferentes diagnósticos dos problemas, entre propostas para resolvê-los, entre argumentos, envolvendo assim toda a disputa eleitoral. A frase de Oscar Wilde, intelectual e teatrólogo inglês do início do século passado, famoso pela sua paixão por “tiradas” paradoxais, tem uma longa descendência na história do pensamento político. Maquiavel e muitos outros pensadores, que pertencem à chamada corrente realista de análise da política, a usaram de forma assemelhada. A “corrente realista” de análise da política, caracteriza-se pela total rejeição da visão da política como um campo onde os ideais altruístas se realizam em troca de uma visão “cínica”, que encara a política como o campo onde a retórica do idealismo esconde a luta por interesses egoístas individuais ou grupais. A política não é uma atividade nem de anjos nem demônios e sim de seres humanos normais que para ela trazem suas virtudes e seus defeitos. A “corrente idealista” encara o ser humano como um indivíduo naturalmente voltado para o bem e aposta nesta sua propensão altruísta para analisar a política. A “corrente realista” ao contrário encara o ser humano como um indivíduo naturalmente egoísta e interesseiro e olha a política a partir deste pressuposto. Excluídos os exageros dos extremos, sem cair na tentação de adotar o confortável ponto intermediário, não resta dúvidas que a política real está mais para a escola realista do que para a idealista. Em meio a esta realidade, há momentos de grandeza, heroísmo e idealismo na política e há situações (sobretudo em momentos de grave crise nacional) em que aquele cotidiano, imediatista e egoísta, é varrido da política, por objetivos mais nobres e permanentes. A advertência de Wilde, como é óbvio, enquadra-se na forma de pensar a política “realisticamente”. O argumento básico sustenta que é você quem elege seu inimigo. Esta decisão não deve ser entregue aos seus adversários. A escolha do inimigo também é uma maneira de definir a sua candidatura.

Assim, o inimigo que você escolhe:

1. Deve ser a principal ameaça à sua candidatura;2. Pode ser derrotado por você;3. Vencendo-o nos debates e confrontos você prova a consistência da sua mensagem e a sua força como candidato;4. Mostrando que não o teme, que pode vencê-lo, você pode atrair eleitores de outros candidatos para sua candidatura.5. Pode dar-lhe a iniciativa da disputa; isto é ocupar a ofensiva.

Escolher o inimigo é uma prova maiúscula do vigor de sua candidatura e de sua determinação de vencer a eleição.Tanto isto é assim que candidatos que estão atrás nas pesquisas procuram polarizar com quem está à frente porque, se tiverem sucesso em atraí-lo para o confronto, conseguem um “upgrade” nas suas candidaturas. Em outras palavras, se quem está na frente se dispõe a debater com quem está atrás é por que ele é importante. A mera aceitação do confronto carreia interesse para o candidato que está atrás, numa proporção que ele, por suas próprias forças, não conseguiria. é claro que somente quem está na frente, em primeiro ou segundo lugar, tem condições, na maioria das vezes, de exercer esta escolha. Isto porque escolher é uma moeda de duas faces. é preciso estar em condições de escolher e, é preciso ter força política suficiente para que, o escolhido não possa ignorar o repto que lhe foi lançado.