– Para com isso, Antônia. – Não consigo, Juliano. Tô nervosa. – Não precisa ficar nervosa. Vai dar tudo certo. – Sim, eu sei. – Então por que fica roendo as unhas? – Porque assim eu me acalmo. – Sabia que a unha roída não é digerida pelo organismo e vai pro apêndice? – E daí…? – E daí que você pode ganhar uma apendicite. – Não tô nem aí, Juliano. Tô nervosa. Se a unha me acalma, então eu prefiro ganhar uma apendicite a ficar nervosa. – Teimosa. – Será que vai dar tudo certo, hein? – Claro que vai, você vai ver. – Não sei, tô com uma mau pressentimento. – Você sempre tem maus pressentimentos, Antônia. – Ai… – Para de comer essas unhas, os dedos já estão em carne viva. – Tô preocupada. – Vai estragar teus dentes. – Não importa. – Vai entortá-los. – Mas pelo menos a angústia passa. – Antônia, pelo amor de Deus… – Para, Juliano, para, me deixa, credo! – Olha lá… – O quê? – é a sua vez. Estão te chamando. – Tô com medo. – Vai firme. – E se doer? – Você aguenta. – Odeio ter que colocar aparelho ortodôntico. – talvez se você não roesse tanto as unhas… – Mas me acalma… – A gente conversa quanto você extrair o apêndice.