Esteve de passagem aqui por casa uma bebê felina que fez com que minha gata Egg, em cinco anos de convívio, soltasse um silvo para mim pela primeira vez. Eu, que pensei tê-la irado por causa da nova companhia, percebi, observando os comportamentos seguintes, que não era o pecado capital que se manifestava em seu ruído, e, sim, o mais profundo medo, que vi refletido em seus olhinhos enquanto eu carregava a filhote. Gatos não são humanos, eu sei. Mas os bichanos nos fazem refletir um bocado sobre o comportamento dos homo sapiens. Por isso, o fato me fez pensar em filhos, e no quanto a chegada de um nenê a uma casa, além de alterar toda a rotina dos pais (ou da mãe-tutora, como no meu caso), pode afetar profundamente o filho mais velho. Fiquei com pena da minha gatinha. Ao contrário do que eu imaginava, ela poderia ter atacado a pequena, já que é mais velha e dona da casa. Mas, não. Egg mostrou-se uma verdadeira lady, respeitando os choramingos da outra, assistindo a tudo em silêncio, de cima do armário da cozinha, onde subiu de tanto receio e de lá não saiu até que eu muito pedisse, com insistentes “vem com a mamãe”. Por ter aprendido com a amiga Dóris que devemos explicar os fatos também aos animais, depois que desceu do armário contei a Egg o que estava acontecendo e pedi que fosse boa com a nenê. De mansinho, Egg se aproximou. Cheirou a amiga e… relaxou. Foi visível a queda do estresse no semblante da minha gata quando ela percebeu que a nova mocinha não se tratava de uma ameaça ao amor da mamãe, mas de uma possibilidade de esse amor ser aumentado por meio da partilha. Então eu entendi a importância de explicarmos os fatos com amor e cuidado, porque o outro muitas vezes não compreende do mesmo modo como compreendo, não entende na mesma proporção nem com a mesma maturidade que entendo. Professores? Pais e mães? Percebem a que me refiro? No fim, ficamos nós três sentadas ali, na sala: elas se estudando, eu as cuidando, nós três aprendendo um pouco mais sobre empatia, afeto e confiança.
DICA DE FILME
“Amy”, o documentário vencedor do Oscar 2016, que conta a curta e intensa vida da cantora britânica Amy Winehouse, é muito emocionante! Vale a pena assistir! O filme é belíssimo e permite ao espectador acompanhar toda a trajetória de Amy, da infância à morte prematura. Durante o longa, nos tornamos íntimos daquela menina frágil que queria cantar por diversão e que simplesmente se estilhaçou com o impacto da própria voz. Que beleza de produção! é como assistir a um filme em que Amy protagoniza a si própria, como se sua curta passagem pelo mundo fosse parte apenas do breve enredo, e a moça de olhos de gato fosse somente uma atriz de si mesma. ótimo! Tem na Netflix.