Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do Mate.

De acordo com a psicóloga Susan Artus Dettenborn, a base da sociedade, principalmente a educação, precisa ser reforçada. Algumas coisas que, segundo a profissional, podem angustiar e revoltar muitos jovens, é o fato de existir uma mídia incentivadora de que o bom é ‘ter’ e não ‘ser’. Segundo ela, não é possível entender todo o contexto pelo qual as pessoas migram para essa vida de roubos e crimes, mas as explicações estão na intolerância à frustração e necessidade de ser aceito.

“As pessoas migram para uma busca desenfreada por ‘ter’ para se mostrarem bem vistas na sociedade. A gente sabe que também existe o desafio de se conseguir emprego e que as pessoas de uma classe social mais baixa tem uma maior dificuldade de aquisição para se mostrar e ‘ter’”, argumenta.

Além disso, a psicóloga acrescenta que existe um consumo excessivo de drogas e que o acesso a elas está muito fácil, o que contribui para o aumento da criminalidade. “A gente não consegue punir esses jovens porque, na verdade, a gente pune a nossa própria desestrutura social”, acrescenta.

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DESESTRUTURAçãO

Foto: Kethlin Meurer / Folha do MatePsicóloga lamenta que sequer um castigo, mediante erros de crianças e adolescentes, pode ser aplicado em função da legislação rigorosa
Psicóloga lamenta que sequer um castigo, mediante erros de crianças e adolescentes, pode ser aplicado em função da legislação rigorosa

Na opinião dela, a sociedade não consegue dar conta dos jovens e o que ocorre é a transferência de uma responsabilidade a eles que, na verdade, é de todas as pessoas. O fato de não se conseguir oferecer educação e respeito o suficiente, também é um fator contribuinte para que muitos jovens entrem no caminho da marginalidade. “Nós revidamos uma agressão agredindo também e gritamos querendo pedir alguma coisa. Isso é errado”, destaca.

Para Susan, a crise econômica e financeira que o país enfrenta faz uma correlação com os jovens no mundo do crime. “Essa desestruturação e desorganização em relação ao crime são históricas, porque vamos tendo cada vez menos e querendo ter cada vez mais. Com isso, começamos a nos apropriar daquilo que é do outro”, comenta.

Conforme a psicóloga, a escola é importante para impedir um número cada vez maior de jovens criminosos. Contudo, não se pode depositar na escola um papel que a família mesmo precisa exercer. Para a profissional, o educandário necessita reunir todas as informações que a família e sociedade dão e transformar o local em um espaço social. “Com certeza, se a gente tiver educação oferecida e espaço de desenvolvimento para as crianças e adolescentes, conseguimos mantê-los ocupados com coisas que vão agregar na vida deles”, explica.

Ela ainda ressalta que, nos dias de hoje, existem muitas crianças e adolescentes sem regras a cumprir e sem ocupação, o que é um grande problema. Além disso, Susan comenta que também há leis que deveriam cumprir uma função de proteção aos jovens, mas que, na realidade, não são eficazes o suficiente. “Atualmente, temos leis que inibem de agir em relação a um erro de uma criança ou adolescente, porque não podemos colocar de castigo e tirar alguma coisa, pois qualquer coisa é denunciada”, complementa.