
Uma onda de ataques que, na maioria das vezes, não colocam pessoas em perigo, mas que resultam em prejuízos dos mais diversos, assola Venâncio Aires nos últimos meses. Arrombamentos de casas e estabelecimentos comerciais, furtos em veículos, ‘evaporação’ de telefones celulares e sumiços de bicicletas têm sido registrados com frequência. Basta um descuido de segundos para que o cidadão entre nas estatísticas das vítimas dos chamados pequenos furtos, assim considerados em virtude do menor potencial ofensivo.
Embora a integridade física das vítimas esteja preservada neste tipo de ação, os pequenos furtos têm relação direta com a necessidade dos viciados de adquirir as drogas para consumo, principalmente o crack. “Pessoas dependentes de crack costumam cometer muitos pequenos furtos, pois precisam de dinheiro para sustentar o vício e estão constantemente sob efeito da droga. Quando bate a fissura, o dependente só pensa em usar de novo, o que o leva a fazer qualquer coisa pela pedra”, argumenta o delegado Felipe Staub Cano.
A relação destes crimes com as drogas, especialmente o crack, é direta, não há dúvida. Os furtos estão aumentando, mas temos elevado também os índices de recuperação. Entre tantas coisas sérias que temos para investigar, os pequenos furtos estão inseridos e fazemos o máximo possível.”FELIPE STAUB CANODelegado de Polícia
RAIVA E NERVOSISMO
Uma família do bairro São Francisco Xavier sentiu, no último sábado, 14, o ‘gosto amargo’ de ter a residência invadida por ladrões. A porta lateral da casa foi arrombada e um notebook, cartões e um tênis foram levados. Além do prejuízo com a porta estragada e os objetos furtados – entre as 18h e as 21h30min -, a família descobriu, mais tarde, que uma compra no valor de mais de R$ 200 havia sido feita com um dos cartões. “Compraram garrafas de vodka e mais bebidas numa conveniência”, diz o dono da casa, de 37 anos.
De acordo com ele, “quando a gente chega em casa e vê que entraram para levar as nossas coisas, o que vem na hora é raiva e nervosismo”. O homem, que prefere não ser identificado, comenta que o cartão usado para comprar bebidas é do filho, de 15 anos, que trabalha e estava guardando dinheiro para a sua primeira comunhão. “É muito ruim, porque o cara batalha todos os dias para ter as coisas e quem não trabalha vem e leva da gente”, desabafa. A Polícia Civil investiga o caso e tem suspeitos da autoria, inclusive.
Comunidade terapêutica
A intenção da Administração Municipal de implementar uma comunidade terapêutica em Venâncio Aires pode ter reflexos em relação aos crimes de pequenos furtos. Uma vez inseridos no tratamento, os dependentes químicos podem tanto deixar as ruas – e, por consequência, deixarem de praticar este tipo de delito -, quanto buscarem a ressocialização. Representantes do Executivo e Legislativo visitaram, na semana passada, comunidades terapêuticas em Gravataí e Cachoeirinha, municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, em busca de informações sobre qual é o melhor modelo para a Capital do Chimarrão. Há convicção da necessidade de implementação, mas ainda não existe um projeto concreto.
RECUPERAÇÃO
1 Apesar de reconhecer que os pequenos furtos estão ocorrendo com cada vez mais frequência, o delegado Felipe Staub Cano ressalta que a Polícia Civil tem conseguido recuperar um “percentual interessante de objetos furtados”.
2 De acordo com ele, entre 30% e 40% dos itens constantes em ocorrências policiais são devolvidos aos seus donos. “Bicicletas, TVs, botijões de gás e eletrodomésticos estão entre os objetos que mais recuperamos”, observa.
3 O titular da 1ª Delegacia de Polícia afirma que, muitas vezes, não é possível desvendar a autoria do crime, mas os itens são encontrados posteriormente, em operações deflagradas a partir de várias investigações, com os receptadores.
Ontem, um pai registrou na DPPA que o filho, usuário de drogas, está furtando itens de dentro de casa para vender e comprar entorpecentes. Rede de pesca, facas, panela de ferro e oito quilos de carne foram levados por ele – que já passou por internações – nas últimas investidas.