
Em uma das salas da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Venâncio Aires, 14 mãos tecem fios de cabelo e prometem devolver a autoestima para pacientes em tratamento oncológico. Cheias de disposição e vontade de ajudar o próximo, sete mulheres participam, desde ontem, de um curso de confecção de perucas, com o objetivo de criar um banco dos acessórios no município.
Sem apagar o sorriso do rosto, a professora Rosemary Manomics, de Canoas, divide a experiência de cerca de 50 anos com perucas. Ministrado de forma gratuita, o curso terá duração de sete a dez dias, com a proposta de capacitar as voluntárias para confeccionar os acessórios e se tornarem multiplicadoras da técnica, no município.
Na tarde de ontem, elas realizavam a primeira etapa do processo de produção. Em três fios de linha preta estendidos em caixotes de madeira, teciam pequenas mechas de cabelo, formando camadas de cerca de 30 centímetros. Segundo Rosemary, o próximo passo é a montagem do molde da peruca, com filó e elástico. Depois, ocorre a costura das camadas de cabelo no molde.
“Em uma semana é possível fazer uma peruca. é preciso paciência, boa vontade e lembrar que alguém está esperando por ela.
Se depender das voluntárias, muitas mechas de cabelo devem se transformar em acessórios para pessoas com câncer. Moradora de Palanque, Marlize Kappaun, 64, visita pacientes da Liga e fez questão de participar do curso. “Quando me aposentei, decidi que queria ajudar. Isso exige tempo e dedicação, mas é muito gratificante. Imagino que depois que verem as perucas com cabelo natural, muitas pacientes vão querer usar”, acredita.
Autoestima
Rosemary aprendeu a fazer perucas em um curso por correspondência, há quase meia década, e produz os acessórios para pessoas com câncer desde 1985. “No início, fazia por encomenda, apenas ‘para bonito’, mas prefiro fazer para pacientes com câncer. Quem está fazendo quimioterapia e perde o cabelo precisa de autoestima.” A psicóloga Daniela Graef confirma a importância do acessório.
“Quando a pessoa perde o cabelo precisa passar por uma fase de transição de sua identidade. A peruca ajuda a manter o reconhecimento dessa identidade. Perder o cabelo é uma mudança muito brusca para quem sempre se conheceu com cabelo”, explica a psicóloga Daniela Graef.
Além disso, Daniela ainda observa que a peruca ajuda na aceitação social do câncer. “O tratamento é muito invasivo, e é difícil ainda ter que aguentar o olhar das pessoas. Ter câncer ainda é assustador. A perda do cabelo choca e representa a doença.”
Banco de Perucas
O curso de confecção de perucas é o primeiro passo para a criação do Banco de Perucas da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Venâncio Aires. A ideia da entidade é disponibilizar os acessórios para pacientes que perdem o cabelo, durante o tratamento oncológico. Após, a peruca será devolvida à Liga para ser emprestada a outra pessoa.
Conforme a presidente da entidade, Izoldi Bugs, há a intenção de realizar parcerias com salões de beleza para a disponibilização do cabelo. Interessados em contribuir também podem doar o cabelo na sede da Liga, junto ao Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). O ideal é que as mechas tenham, no mínimo, 25 centímetros de comprimento. Ao todo, são usados 5,2 metros de cabelo para uma peruca.