Sentada no sofá da casa da mãe, ao lado do irmão adotivo e com uma cuia de chimarrão na mão, a jovem que sobreviveu a uma tentativa de feminicídio deu uma entrevista exclusiva à Folha do Mate. Com a cabeça enfaixada e curativos nas costas e no braço esquerdo, Micheli Schlosser, 25 anos, falou do relacionamento com o autor dos tiros e dos momentos vividos na noite do domingo, 11. “Eu vi que ele queria me acertar”, desabafou. O rapaz tem 28 anos e o delegado Felipe Staub Cano representou por sua prisão preventiva.
Micheli foi atingida por cinco tiros. Ela já estava dentro do carro do cunhado, quando o atirador se aproximou, pela traseira do veículo, e disparou. Ela foi atingida por dois tiros na parte de trás da cabeça, um tiro nas costas e dois no braço esquerdo. “As ‘balas’ estão todas alojadas e o médico disse que o das costas ficou entre a coluna e o pulmão. Por muito pouco não fiquei paralítica”, mencionou.
Amparada pela mãe, a jovem disse que não tem raiva do rapaz, mas quer que ele pague pelo que fez. “Ele nunca foi ruim pra mim. Mas nunca pensei que faria isso comigo.” Ela permaneceu menos de um dia internada no Hospital São Sebastião Mártir, recebeu alta e segue a recuperação em casa. Sua preocupação é com os projéteis alojados em seu corpo. “Isso me dá muito medo”, disse.
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FOLHA DO MATE – Vocês tinham algum relacionamento?
Micheli Schlosser – Nos conhecemos há um ano e meio e começamos a ficar juntos. Namorar mesmo começamos em novembro do ano passado, quando colocamos aliança de compromisso. Mas como ele começou a me mentir muito, em fevereiro eu tirei a aliança.
Que tipo de mentiras eram?
Às vezes eu saia com minhas amigas e ele me seguia. Ficava me vigiando e depois eu perguntava por que tinha feito aquilo e ele negava, dizendo que não tinha me seguido. Eram muitas mentiras, mas não envolviam outras mulheres.
E terminaram o relacionamento?
Não. Continuamos saindo. Ele sempre dizia que me amava muito e até mataria alguém se eu quisesse, só para provar que gostava de mim. Mas isso não é amor.
Alguma vez ele tinha sido agressivo contigo?
Nunca. Sempre foi um relacionamento normal. Ele só não aceitava o ‘não’. Às vezes eu estava em algum lugar e ele parava do meu lado e só saia quando eu fosse embora.
Vocês estiveram juntos no fim de semana passado?
Sim. Saímos para jantar na sexta-feira e no sábado fomos em um baile. Ficamos cerca de uma hora e pedi que me levasse para casa. Não houve nada errado, só estava cansada. No caminho ele veio dizendo que me amava e que não suportaria viver sem mim. Quando estávamos perto da minha casa ele parou o carro, pegou o revólver e colocou na minha cabeça. Sabia que ele andava armado, mas nunca imaginei que faria isso comigo.
E o que aconteceu?
Ele me ameaçou, disse que me amava e se eu não ficasse com ele, me mataria e depois se suicidaria. Depois perguntou se eu o amava e respondi que sim. Então disse que me levaria na casa onde ele mora com a mãe e fui. Não houve mais discussões.
Como foi o domingo?
Acordamos pouco antes do meio-dia e ele me levou para casa para trocar de roupa, pois iríamos almoçar na casa de uma tia dele, no interior. Depois do almoço, pedi que me levasse embora e ele me levou.
Como se encontraram novamente?
Eu, minha irmã gêmea, meu cunhado e minha prima resolvemos ir tomar chimarrão, no centro. Eram umas 17h30min quando sentamos no ‘calçadão’.Logo ele chegou e pediu se podia sentar. Disse que não, mas ele pegou uma cadeira e sentou do meu lado. Como sei que não sairia, começamos a conversar e ficamos alí até pouco antes das 20h, quando falamos que iríamos embora.
E o que aconteceu depois?
Ele saiu, entrou no carro dele (um GM Cruze branco) e foi embora. Meu cunhado tomou um sorvete e em seguida caminhamos até onde o carro estava estacionado, na Travessa São Sebastião Mártir, perto da esquina com a Tiradentes.
Quando e onde aconteceu o atentado?
Nós estávamos chegando no carro quando vimos que ele estava vindo em sua moto (uma Honda Biz). Achei que queria conversar novamente comigo, mas disse para a minha irmã que não queria falar com ele e então decidi entrar logo no carro. Sentei atrás, do lado esquerdo e minha prima sentou do lado direito. Então ele desceu da moto e começou a atirar. Quebrou o vidro traseiro e por alí deu os tiros. Logo senti que tinha sido atingida na cabeça e decidi deitar sobre minha prima, para que ele não fosse atingida.
Alguém tentou deter o atirador?
Meu cunhado foi na direção dele, mas minha irmã gritou para ele voltar e então me lavaram para o hospital. Levei dois tiros na cabeça, um nas costas e dois no braço esquerdo. As ‘balas’ estão alojadas no meu corpo. O médico disse que a ‘bala’ das costas ficou entre a coluna e o pulmão. Por muito pouco não fiquei paralítica.
E agora, o que espera que seja feito?
Bloqueei todos os contatos dele e espero que pague pelo que fez.
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