Implantado de forma gradual nas escolas estaduais a partir de 2012, o ensino médio politécnico foi alvo de críticas por parte de alunos e professores que tiveram que lidar com este novo modelo educacional. Atualmente, a avaliação é de que a reformulação trouxe resultados positivos, sobretudo, em função da ampliação dos trabalhos de pesquisa em sala de aula. Por outro lado, ainda são relatadas críticas ao modelo.

Na prática, o politécnico resultou na reunião das disciplinas em quatro áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas) e na substituição das notas por conceitos descritivos, que classificam o desempenho dos estudantes como satisfatório, parcial ou restrito, sendo que os professores desses grupos precisam chegar a um consenso no momento de definir o conceito a ser dado a cada aluno. Houve também a implantação do turno oposto em um dia da semana, o que ampliou a carga horária em função do acréscimo do chamado Seminário Integrado, que visa o desenvolvimento de atividades de pesquisa.

Após mais de quatro do início da reformulação do ensino médio estadual, a coordenadora pedagógica da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Joice Battisti, avalia que o ensino médio politécnico tem ampliado o conhecimento dos alunos e os melhor preparado para o ensino superior. “Os alunos têm trabalho com projetos, que culminam, inclusive, com mostras nas escolas. Nós temos visto que os nossos alunos que passam para a universidade, eles já chegam lá com esse conhecimento do que é um projeto científico e não se assustam, pois isso já não é uma novidade.”

Ela recorda que as manifestações contrárias ocorridas na fase de implantação se deram de forma isolada e o novo modelo vem sendo qualificado. “Existem dinâmicas variadas nas escolas, mas todas, dentro das suas possibilidades, estão dando encaminhamento a essa proposta. Algumas fazem trabalhos mais elaborados, enquanto outras já não conseguem aprofundar tanto.” De modo geral, diz que a avaliação é positiva. “Trata-se de um processo que ainda tem muito a avançar, mas que já melhorou muito ao longo desses anos.”

Foto: Alan Faleiro / Folha do MateLaura e Victória destacam que precisam haver avanços no ensino politécnico
Laura e Victória destacam que precisam haver avanços no ensino politécnico

Na opinião do diretor do 18º Núcleo do Cpers/Sindicato, Renato Aldo Müller, a implantação do ensino médio politécnico foi questionada na época da sua implantação porque não houve um discussão preliminar mais ampla, bem como a preparação das comunidades escolares, mas acredita que, agora, após “testado”, tem sido bem aceito. Avalia a reestruturação como “uma oportunidade a mais”, que tem aberto mais espaço para pesquisas e para os alunos aprofundarem os seus conhecimentos sobre determinados assuntos.

Comunidade escolar relata dificuldades com novo modelo

Em 2013, quando ainda ocorria a implantação do ensino politécnico, um grupo de estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Monte das Tabocas se mobilizou e pediu que houvesse melhorias neste novo modelo educacional. Apesar de terem considerado a proposta interessante, questionavam, entre outras coisas, a falta de infraestrutura das escolas para implantá-la, bem como as aulas em turno oposto que dificultavam o acesso dos alunos a trabalho ou cursos de qualificação.

Atualmente, a instituição de ensino ainda enfrenta problemas na aplicação do ensino médio politécnico. De acordo com a vice-diretora e supervisora pedagógica, Marinêz Weizenmann, e a também supervisora pedagógica Clair Goettems, há dificuldades para organizar a grade de disciplinas das turmas e conciliar com a agenda de alguns professores, sobretudo em função das aulas em turno oposto. Também relatam que, em função de trabalho ou participação em cursos, alguns alunos faltam com frequência a essas aulas.

Em função dessa situação de constantes faltas, Marinêz conta que há orientação da CRE para que o turno oposto seja ocupado com disciplinas como Educação Física, Ensino Religioso e Filosofia, que não representariam uma perda tão grande para os alunos faltosos. “Mas eu discordo, todas as matérias são importantes”, defende. Para que o aluno não ultrapasse o índice de 25% de faltas permitidas, Clair acrescenta que “o professor está sempre ‘correndo atrás’ do aluno”.

Apesar das dificuldades encontradas na prática, afirmam que a proposta é positiva. “O aluno que leva (o ensino médio politécnico) a sério, ele aprende muito.”

Alunas do 3º ano, Laura Kist e Victória Fin, ambas com 16 anos, também avaliam a proposta como positiva. No entanto, na prática, dizem que o novo modelo deixa a desejar porque a escola não conta com uma estrutura adequada e professores específicos e preparados para conduzir a disciplina de Seminário Integrado. Também relatam dificuldade para obter emprego em função de terem aula no turno oposto durante um dia da semana.

Na Escola Cônego Albino Juchem, o relato da supervisora pedagógica Rosane Lehmen é de que o sistema tem gerado bons resultados, no entanto, acabou por sobrecarregar um pouco mais os professores e diminui o tempo livre para atividades de planejamento. Cita que a instituição também encontra problema com alunos faltosos, mas se procura conversar e conscientizar os estudantes e pais.

Outra escola consultada foi a Frida Reckziegel, de Palanque, mas ela concentra as aulas do ensino médio à noite e as turmas deste turno não precisam contar com atividades em turno oposto. Por isso, não apresenta problemas em função de alunos faltarem as aulas. A avaliação do novo sistema educacional também é positiva.