Ele quase desistiu da política. Ao longo do primeiro mandato como vereador, por diversas vezes foi à tribuna da Câmara para dizer que se sentia frustrado com o que esperava da vida pública e com o que encontrou quando assumiu uma cadeira no Legislativo. Após uma troca de partido, teve outra decepção, desta vez por não ter sido escolhido para participar de uma chapa à eleição majoritária em 2020. Mas, a pedido da família, amigos e eleitores, bem como pelo gosto que tem pela política e a vontade de servir à comunidade, decidiu concorrer novamente à Câmara e se reelegeu com 886 votos, o sétimo melhor desempenho entre os mais de 200 candidatos que tentaram uma cadeira na Casa do Povo este ano.
Aos 58 anos, Gilberto dos Santos vai encarar o segundo mandato parlamentar e diz que pretende, agora, recuperar o tempo perdido. “Quero ter condições de resolver os problemas das pessoas, em especial aqueles relacionados ao campo, pois sou agricultor e sei o quanto está difícil manter uma propriedade rural funcionando bem”, comenta. Ele é cotado, inclusive, para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Rural. Admite que há tratativas em andamento com o prefeito eleito, Jarbas da Rosa (PDT), no entanto garante que “o martelo ainda não está batido”. Caso surja como integrante do primeiro escalão do governo, vai ter “poder de execução”. Caso contrário, a luta pela agricultura será no Poder Legislativo.
Natural de Venâncio Aires, sempre morou na localidade de Estância São José, no interior. Na época de criança, não saía do armazém do pai, Pedro Ortiz dos Santos (já falecido), e adorava os dias de jogos do Avaí, clube que encerrou as atividades. “Até os 12 anos acompanhava o pai no armazém, no futebol e na bocha. Até que ele fechou o boteco parou com o futebol, pois decidiu trabalhar de caminhoneiro, transportando fumo”, recorda. Com isso, Gilberto passou a ficar mais tempo com a mãe, Eli dos Santos (já falecida), na propriedade da família. “Aos 14 anos, parei de estudar e foquei na lavoura de tabaco. Peguei gosto, comecei a me interessar pelos processos de correção de solo, que oportunizavam o aumento da produtividade. Aos 17 anos, já tinha uma porcentagem da safra que era minha”, diz, acrescentando que os primeiros anos como estudante foram na Escola Liberato Salzano Vieira da Cunha.
Responsabilidade
Com a morte do pai, no ano de 1990, Gilberto surgiu como principal responsável pelos negócios da família. Seguiu o cultivo do tabaco, aos poucos foi adquirindo percentuais da herança dos irmãos – que se transferiram para Cruzeiro do Sul e Lajeado – e aumentando a estrutura física da propriedade, com a construção de galpões e estufas. “Com 18 anos comprei o meu primeiro carro, um Fiat 147. Retomou os estudos e concluiu o Ensino Médio no Colégio Professor José de Oliveira Castilhos, onde também fez curso de Contabilidade. “No Português eu passava apertado, mas na Matemática era só notão”, brinca, ao dizer que o conhecimento na área foi muito importante para os negócios. “Desenvolvi bem a parte comercial. Surgiram várias propostas de emprego, mas eu queria mesmo era tocar a lavoura”, completa.
“Agradeço todos os dias o fato de que o meu pai teve uma área de terra. Foi o começo de tudo para que toda a nossa família pudesse crescer e se desenvolver a partir dela. Com dedicação é possível ser bem-sucedido no campo.”
GILBERTO DOS SANTOS – Vereador reeleito do MDB
Vida pacata e família
Gilberto dos Santos afirma que sempre teve preferência pela “vida pacata do campo”. Além das atividades diárias relacionadas ao cultivo do tabaco, incrementou a propriedade da família com a criação de gado e peixe. “Temos dois açudes, onde eu sempre vou botando mais peixes. Eu gosto muito de pescar e comer o peixe fresco. É um sabor diferenciado”, justifica.
O vereador é casado com Dulce Maria Bohn dos Santos, de 53 anos, pai de Tiago Rafael dos Santos, 31, e Luana Beatriz dos Santos, 25, e avô de Rafael Dias dos Santos, de 2 anos e 8 meses, filho de Tiago. Se diz muito satisfeito com o caminho trilhado pelos filhos: Tiago é o seu braço direito na propriedade, enquanto Luana se formou em Odontologia e já tem o próprio consultório.
De acordo com ele, manter uma propriedade rural é cada vez mais desafiador, pelo encarecimento dos insumos e redução da margem de lucro dos produtos ao longo dos anos. “O investimento que a gente faz é constante, especialmente em tecnologia. A agricultura ainda tem futuro se trabalhar bastante”, afirma. Conforme Gilberto, “o segredo é manter os pés no chão, dar um passo atrás se necessário e começar sempre a casa pelo alicerce, nunca pelo telhado”.
Política
• A trajetória de Gilberto dos Santos na política é recente. Em 2016, se filiou ao PDT para concorrer a vereador, a convite do então candidato a prefeito Jarbas da Rosa (PDT). Antes do pleito, porém, se transferiu para o PTB, apadrinhado por Celso Krämer (PTB), que viria a ser eleito vice-prefeito de Venâncio Aires, com Giovane Wickert (PSB) como prefeito e vitória justamente sobre Jarbas, por diferença de 254 votos.
• Na época, os 1.899 votos obtidos por Gilberto foram considerados decisivos para a eleição de Giovane e Celso. Vereador mais votado no pleito, assumiu a presidência da Câmara em 2017. Este ano, após atritos internos no PTB, rumou para o MDB, partido pelo qual se reelegeu vereador. No momento, é cotado para a Secretaria de Desenvolvimento Rural. “Se tiver a oportunidade, quero fazer muito pelo agricultor e pela agricultura”, conclui.