Presidente da Câmara de Vereadores de Venâncio Aires, Helena da Rosa (MDB) encerrou a sessão de segunda-feira, 19, às lágrimas. Precisou ser amparada por assessores parlamentares logo após o seu pronunciamento, quando respondeu ataques feitos, minutos antes, pelo colega Eduardo Kappel (PL).
Enquanto enxugava o rosto e bebia água, pediu ao departamento jurídico do Legislativo para que o áudio da reunião fosse separado, já que ela pretende enviar o material à Justiça Eleitoral. De acordo com Helena, “ele (Kappel) foi longe demais desta vez, com ataques pessoais e tentativas de desestabilizar a mim e aos outros vereadores”.
Primeiro a falar no período de Comunicações – momento destinado aos pronunciamentos -, Kappel investiu, inicialmente, contra a vereadora Izaura Landim (MDB), candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada por Jarbas da Rosa (PDT) e que faz a oposição à dupla Giovane Wickert (PSB) e Celso Krämer (PTB), defendida pelo vereador.
Na sequência, citou o nome de Helena, afirmando que ela e Izaura são “folhas secas”, pelo fato de as vereadoras terem deixado a base de apoio ao governo. O PDT e Jarbas, assim como os colegas Ezequiel Stahl (PTB), Ana Cláudia do Amaral Teixeira (PDT) e Gilberto dos Santos (MDB), foram outros alvos.
Ao encerrar suas considerações, após 14 minutos na tribuna – além dos seus sete minutos de direito, por ser líder de bancada, ganhou mais cinco minutos de Adelânio Ruppenthal (PSB) e dois minutos de Arnildo Camara (PTB) -, Kappel se despediu de alguns vereadores e deixou o Plenário Vicente Schuck. Não ouviu a enxurrada de respostas que veio a seguir, tanto dos colegas que foram citados por ele, quanto de outros que, mesmo não tendo sido mencionados, condenaram a postura. A sessão teve uma série de episódios de troca de farpas decorrentes do pronunciamento do vereador do PL e só foi terminar depois das 22h.
GARGALHADAS
1 Em dado momento de sua manifestação, Eduardo Kappel (PL) citou o colega Gilberto dos Santos (MDB): “O senhor também pulou do barco na última hora, porque prometeram que o senhor ia ser vice, mas fizeram a maior traição com o senhor”.
2 O emedebista pediu aparte e rebateu: “Duda, eu tive que pular da barca, mas tu também quis ir pro PTB e não te aceitaram”. Logo após o comentário, vários vereadores e assessores que estavam no Plenário Vicente Schuck deram gargalhadas.
3 Na sequência, Kappel declarou que “primeiro, eu nunca quis ir para o PTB e, segundo, não me aceitaram porque eu tenho voto, porque um cagão que nem o Ezequiel (Sthal) não deixou. Ou não foi? Renatinho (Renato Gollmann), André (Kauffmann)… O único que disse ‘pode vim’ é o Arnildo Camara”. E ainda mandou um recado a Gilberto dos Santos: “Te desejo toda a sorte. É só o senhor gastar o dobro do que gastou da outra vez, que o senhor volta aqui pra esta Casa”.
4 Mais tarde, quando ocupou a tribuna, Ezequiel Sthal (PTB) respondeu às declações do vereador do PL. “Acabo de ouvir aqui o vereador Eduardo, num discurso acalorado, tu citou me nome Duda. Dizer que não sou cagão, que não tenho medo de te enfrentar nas urnas. O meu medo é que tu fique meu suplente, e como tu é meio violento, aí eu tenho medo da minha integridade física, com a tua intenção de querer assumir o meu lugar. Então, esse é o nosso medo”.
Os ataques de Kappel
Contra Izaura Landim (MDB)
• Disse que a emedebista estava na Câmara “quando esta Casa dobrou o salário dos vereadores, e ela não falou absolutamente nada”. Também citou Izaura como participante do aumento do número de vereadores, de 10 para 15, e de assessores (mais 15, um por vereador).
• Comentou que, em visita ao bairro União, reduto eleitoral de Izaura, “alguns moradores não estão satisfeitos, porque dizem que ela abandonou o bairro”. Reclamou que o marido da vereadora “ficou longos meses no governo” e, agora, ela é candidata na chapa de oposição.
• Afirmou que tem sido procurador por muitas empresas – sem citar nenhum nome -, “porque a vereadora Landim lidera uma família que só trabalha na Justiça do Trabalho”, acrescentando ainda que “temos que acabar com este tipo de Justiça que só ganha o lado do empregado”.
Contra Helena da Rosa (MDB)
• Chamou a presidente da Câmara de “vira-casaca”, por ter feito parte do atual governo e estar apoiando, agora, o candidato Jarbas da Rosa (PDT) à Prefeitura. Criticou o fato de ela ter mantido o filho como cargo em comissão (CC) na atual Administração.
• Voltou a criticar o investimento para reforma do prédio do Legislativo, afirmando que o problema é uma goteira sobre a Mesa Diretora, que segundo ele “com R$ 100 se resolve”. “Agora, R$ 300 mil? Pra reformar o quê aqui? Vão pintar esta Casa de ouro”, ironizou.
• Citou situação pessoal da vereadora, envolvendo o ex-prefeito e marido dela, Almedo Dettenborn. “Era meu adversário, mas o que ele passou na mão dessa mulher, lá no bairro Brígida, com as visitas que eu fiz, a comunidade não gostou. Não vou trazer o processo para esta Casa, não vou trazer os áudios do que os filhos estão dizendo, mas pra uma juíza tirar a curatela de uma esposa, tem pepino aí”, disparou.
As respostas aos ataques
• Sid Ferreira (PDT): Disse na tribuna que Kappel mentiu quando criticou o PDT por não trazer emendas parlamentares para Venâncio Aires, citando valores destinados pelos deputados federais do partido para a Capital Nacional do Chimarrão. “Ele fala inclusive que o PDT é dono de rádio, de jornal, que tudo que tem no município é do PDT.
Acho que não está registrado, temos que colocar isto lá em nossa declaração de renda. Não vi onde estão todos estes bens que eles imputam a nós. Inclusive há pessoas que burlam a declaração de renda, né? Dizem somente que têm um velho carro, sendo que têm um grande patrimônio. Isso é a democracia e a hipocrisia”, alfinetou.
• Nelsoir Battisti (PSD): “Eu tenho o maior orgulho de dizer que eu saí deste governo que aí está porque ele quis bancar o vereador Eduardo Kappel para presidente desta Casa e eu não aceitei. A gente escolhe com quem a gente anda, e o Duda é o representante do Giovane e do Celso aqui, e eu falei isso pro Giovane antes dele bancar o Eduardo Kappel aqui. Ele fez a escolha dele e eu tenho a minha consciência tranquila”.
• Ciro Fernandes (PDT): “A fala do meu colega Eduardo foi um caso de depreciação do Legislativo e do ser humano, porque o colega se referiu a um parceria de coligação dele, de equipe, como cagão. Eu tô tomando as mágoas pelo colega dele, que ele ofendeu. Ele atacou os familiares da vereadora Izaura, que concorre ao cargo de vice-prefeita, por qual motivo eu não entendi. Ele atacou a presidente desta Casa, atacando seus familiares, que não tem nada a ver com a nossa situação política, que não vai acrescentar em nada.
Aprendi uma lição: pessoas ruins falando mal da gente é ótimo, é produtivo. Me preocupo quando uma pessoa de bem fala, uma pessoa honesta e trabalhadora. O vereador Eduardo é o porta-voz do governo, ele representa o governo, como ele representou a campanha do vice-prefeito para deputado. E vocês viram o fracasso que foi esta campanha pra deputado em Venâncio Aires? Isso a população tá vendo, e o resultado vai vir nas urnas, no dia 15 de novembro”.
• Tiago Quintana (PDT): “O processo eleitoral, e o desespero que ele causa em algumas pessoas que não fazem a boa política, ele desnuda várias situações. E o que a gente viu aqui foi um show de horrores. Ele escolheu a vereadora Izaura para bode expiatório porque ela é candidata a vice. Ele fala em economia, mas quando foi presidente aqui, foi um dos únicos que nomeou o terceiro assessor. Ele atacou o vereador Telmo Kist, um dos presidentes mais inovadores, que conseguiu aflorar o valor do Poder Legislativo, que se perdeu principalmente, a credibilidade, quando ele, vereador Eduardo, foi o presidente desta Casa, com a RBS aqui noticiando uma coisa lamentável, que jamais a gente vai esquecer, que está aí registrado na Câmara.
Quando ele ataca a família da vereadora Izaura, a atividade da advocacia, como sendo trabalhista, tenho pra dizer aqui que muitos advogados escolhem a sua função, em qual área querem atuar. E tem advogado que escolhem ser representante comercial e vender sentença. Isso é a opção de cada um, que faz à margem ou dentro da lei. Quando ele ataca que muitos empresários tiveram prejuízo com a vereadora Izaura e o Jarbas, teve muita gente na cidade com bastante prejuízo, vereadora Helena, que foi primeira-dama, com aquele esquema de pirâmide, que muita gente influente na cidade aí vendia como sendo um grande negócio, se usando das suas ocupações. Foram prejuízos muito maiores do que qualquer ação trabalhista”.
• Ana Cláudia do Amaral Teixeira (PDT): “Além de lamentar, é preciso que a gente faça o contraponto, sim. O que o vereador Eduardo fez hoje com a vereadora Helena, é no mínimo desumano. Ele não ofende apenas a pessoa que é seu alvo. Ele ofende toda a sociedade, cristaliza o machismo e a perseguição. Faz com que nós mulheres cada vez mais não queiramos estar na vida pública, na vida política. Agora, o prefeito se aproveitar de uma pessoa doente e fazer aquele vídeo e colocar nas redes sociais, a sociedade não gostou daquilo. Foi uma coisa muito triste”.
• Helena da Rosa (MDB): “Não queria tocar neste assunto pessoal, mas Deus vai me dar força, porque é um momento muito triste que eu tô vivendo. A perseguição comigo vai fazer um ano em dezembro, desde a eleição da Câmara. Meu filho foi pra rua no dia em que eu fiquei presidente. Não troquei de lado, o prefeito nos botou pra rua, o prefeito nos humilhou. Não bastando isso, tentaram o tempo todo desestabilizar a minha família. São 35 anos morando juntos e o meu marido nunca quis se separar de mim.
Aproveitaram da doença dele pra tirar ele de casa, com um vídeo que eu tenho pedindo pelo amor de Deus pra fazer justiça. Pra não levar ele que a casa dele era essa. E que até hoje ele quer voltar para casa e eu vou trazer ele pra casa. O vereador Eduardo disse que tem dedo nessa história do Almedo. Tem mesmo, porque não justifica ele sair de cada num dia e no outro o prefeito tá lá fazendo vídeo com ele. Tem dedo de gente poderosa, mas tem um poderoso lá em cima, tem um Deus, que vai fazer justiça. Considero uma pessoa sem credibilidade nenhuma, pois o prazer dele é atacar a gente na tribuna, principalmente as mulheres”.
Governistas
• Criticados por repassarem tempo para Eduardo Kappel, os vereadores Adelânio Ruppenthal (PSB) e Arnildo Camara (PTB) também se manifestaram durante a sessão. “O tempo, quando a gente passa, é dele. Não venham querer fazer gente patinhos feios toda a vez. A gente cede, mas não tem como saber o que vai dizer, e a responsabilidade é de quem fala”, afirmou o socialista.
• Camara fez declaração parecida, dizendo que “nós não sabíamos o que ele ia falar na tribuna”. Além disso, fez cobrança direta à presidente Helena da Rosa: “Tu também, presidenta, seguido debocha e tira sarro de nós. Vamos parar com esta mania de debochar, vamos respeitar”.