A baixa remuneração recebida pela arroba de erva-mate, que está na faixa de R$ 8, mas que sobram líquidos R$ 5 para o produtor, faz com que este erradique os seus ervais e investe em culturas anuais, como o milho, a soja e o aipim, por exemplo. Estimativas do escritório municipal da Emater/RS-Ascar apontam que somente no último ano, foram arrancados mais de 50 hectares de erva-mate em Venâncio Aires.
A cultura da erva-mate está no terceiro ciclo de arranquio. Entre os anos de 1998 e 2005, ocorreu um destocamento significativo, quando tinha uma grande oferta de matéria-prima, onde o produtor chegou a um tal ponto de não ter mais para quem vender. Ele dava para alguém que cortasse para que o erval não ter um declínio natural. Entre os anos de 2008 e 2010, teve uma segunda leva de arranquio quando se chegou à redução drástica dos 4 mil para 1.550 hectares, conforme mostrou o diagnóstico efetuado no ano de 2012. Naquela época havia uma preocupação de que a partir daquele ano, poderia haver a falta da matéria-prima. “E a prova disso é que em alguns locais o preço chegou a R$ 25 a arroba, e isto ocorreu porque pela primeira vez a demanda passou ser superior à oferta da matéria-prima”, observa o chefe do escritório municipal da Emater/RS-Ascar Vicente Fin.
No alto de seus 75 anos, Clécio Machry, morador de Linha 17 de Junho, afirma que não se lembra que a situação da erva-mate estivesse tão ruim para o produtor como está agora. Ele confirma que no ano passado, destocou o restante dos 3,5 hectares de erva-mate que possuía e que substituiu por milho. Machry recorda que teve época em que contava com mais de 13 mil pés da cultura na lavoura, os quais arrancou porque não tinha mais rentabilidade. Quando a erva era melhor remunerada, ele chegou a vender para uma ervateira localizada no polo ervateiro da região serrana do Vale do Taquari. “Receber somente R$ 5 líquidos pela arroba, é pagar para produzir”, frisa. Machry acrescenta que doeu ver a máquina arrancando os ervais, pois a vida toda plantou erva. “Do jeito como está hoje, infelizmente não tem o que fazer.”
“As indústrias acham que produzir erva-mate não dá despesa e nem mão de obra. Para o produtor obter um produto de qualidade, ele precisa investir no erval, fazendo a adubação, o controle das pragas, inços e insetos, além de fazer as roçadas para manter a lavoura limpa”, salienta o produtor João Irton Dahm, morador de Linha Herval. Ele também erradicou o erval que somava em torno de um hectare e nesta semana, plantou milho, o qual, se não for atingido pela geada, ele pretende vender em forma de espiga verde ou, fazer silagem para trato dos animais na propriedade. Dahm observa que para ter renda com a erva, o produtor precisa esperar no mínimo, três anos, enquanto as culturas anuais, garantem até duas rendas por ano na mesma área, plantando milho na safra e safrinha. Dahm acentua ainda que o aipim também garante uma boa renda, pois no início da safra, chegou a vender uma caixa de 20 quilos por até R$ 35. “Por isso, não vale mais à pena produzir erva-mate”, acentua.