Uma guerra política está declarada no país desde o final da tarde de quarta-feira, 2, a partir da autorização de Eduardo Cunha (PMDB) para abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Este processo, que pode culminar com o afastamento de Dilma do cargo, pode estagnar a economia do país já que as energias do Congresso devem ficar centradas no processo e distantes de diversos projetos importantes para recuperar a economia do Brasil como a reforma fiscal. Impedimento de Dilma pode não ser a fórmula mágica de saída da recessão.

O economista Carlos Giasson, aponta que o primeiro impacto que o impeachment pode causar no cenário econômico é a dificuldade que o Governo Federal terá para garantir unidade entre os parlamentares e conseguir aprovar projetos de reforma fiscal, por exemplo, com a criação de tributos que elevam a arrecadação como CPMF e outros mecanismos que garantiriam superávit aos cofres públicos. Segundo ele, a crise política que se acirra, a partir de agora, dificulta a execução de ações para que o país saia da crise. “Em curto prazo, vejo um período conturbado não apenas no aspecto político, mas também no econômico.” Ele aponta que agora o cenário reflete insegurança.De acordo com Giasson, caso Dilma seja impedida de permanecer no cargo a economia não vai magicamente se fortalecer. Porém, mesmo com um cenário econômico conturbado é possível que em um momento futuro a economia possa se fortalecer. “Neste cenário, o menor problema é a presidente. O Governo fez uma aposta em uma política econômica, que não deu certo, chamada nova matriz macroeconômica que estimulou o consumo e o endividamento. Esse foi um modelo adotado, mas não acredito que podemos atribuir culpabilidade para uma tentativa que, simplesmente, não deu certo”. Outro quesito que ele aponta como base da crise econômica é a corrupção, um dos principais fatores pela queda do PIB. “A Petrobras, por exemplo, é responsável por quase 6% do PIB brasileiro. Os escândalos que envolveram a estatal trouxeram uma reação em cadeia em todos os setores que dependiam da crescente que a Petrobras vinha apresentando”. EQUILíBRIOSegundo o economista, uma das maneiras viáveis para o país sair do cenário de crise nas finanças será através do reequilíbrio das contas públicas de forma responsável. Para isso, ele sugere que os recursos públicos sejam investidos com cautela, não se gaste de forma excessiva e, a aplicação, seja direcionada em áreas estratégicas. Esse quadro pode se concretizar, de acordo com ele, através de uma liderança política forte e ele não descarta que esse papel possa ser exercido pela própria presidente. “Se a presidente conseguir se defender e, provar sua inocência, acredito que ela conseguirá sair fortalecida deste momento”.

INFLAçãOGiasson acredita que a inflação, mesmo em patamares altos, não tende a se acentuar em meio ao processo de impeachment já que são questões técnicas determinados pelo Banco Central que determinam sua variação. “A política monetária não sofre influência do Planalto e o Banco Central tem autonomia para agir”.

 

“é um momento de insegurança, angústia e apreensão”Por CARLOS DICKOW

A presidente da Câmara do Comércio, Indústria e Serviços de Venâncio Aires (Caciva), Fabiana Bergamaschi, afirma que é extremamente difícil prever qualquer resultado, hoje, em relação ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. De acordo com ela, a união dos fatores econômicos e políticos em torno da situação resulta em “um jogo muito grande que não nos permite ter ideia de onde isso tudo vai chegar”. Fabiana sugere que as pessoas adotem a cautela durante o período de provável conturbação.O que a presidente da Caciva admite é que “este é um momento de insegurança, angústia e apreensão”, tanto de cidadãos como empresários. Diretora da Venax, Fabiana argumenta que a instabilidade político-econômica resultante dos atos que tem sido acompanhados em Brasília afeta, por exemplo, no planejamento das empresas, justamente no período de final de ano, que é quando a maioria dos gestores projetam os passos que pretendem dar com a chegada do novo ano. “Fica complicado planejar”, reforça. CORRUPçãOEla comenta ainda que a abertura do processo de impeachment prejudica ainda mais a imagem do país, que já está mergulhado em escândalos de corrupção. “As pessoas tendem a generalizar, e isso não é bom. Já temos a imagem de um país corrupto, que possivelmente será reforçada em virtude do que está acontecendo agora. Tomara que isso se resolva logo, que possamos passar o mais rapidamente possível por esse turbilhão, independente do que for acontecer”, complementa a presidente da Caciva.

 

 Pedalada, o que é isso?As pedaladas consistem no atraso de repasse de dinheiro público para bancos e autarquias com o intuito de melhorar de forma artificial as contas federais. Sem efetuar o pagamento para estes setores as despesas do governo eram menores e maquiava o rombo que ocorria nos cofres do governo.

Batalha política

Logo após a decisão de Cunha, Dilma declarou que recebeu a notícia com indignação. Segundo a presidente, a atitude foi “inconsequentes e inconsistentes”. Também questionou a moralidade doa decisão. “Não paira contra mim nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público. Não possuo conta no exterior. Nunca coagi e nem tentei coagir instituições em busca de satisfazer os meus interesses”, afirmou. Ela também disse que jamais aceitaria ou concordaria com qualquer tipo de “barganha”, em referência a possibilidade de apoio da base governista para impedir o processo de cassação de Cunha na Câmara.

Em resposta, na manhã de ontem, Cunha afirmou que a presidente “mentiu à sociedade” ao afirmar, em pronunciamento em rede nacional, que seu governo não participa de “barganhas” com o Congresso. O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, rebateu a declaração. Ele acusou Cunha de ameaçar e chantagear o governo com a possibilidade de acatar a abertura de impeachment e disse que o presidente da Câmara age “no tapetão”, pois a barganha não garantiu o apoio que ele precisava para se livrar de um processo no Conselho de ética.No final da tarde de ontem, Dilma se reuniu com 23 ministros para preparar a base para o embate político. Os deputados da base governista também ingressaram com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a anulação do acolhimento do pedido.

Foto: Cássia Colla / Folha do Mateshaushuahs