Pessoas que trafegaram pelas rodovias RSC-287 e RSC-453, se depararam novamente com filas quilométricas de caminhões parados em alguns trechos. A manifestação, que hoje chega ao quarto dia, não tem previsão de acabar. As reivindicações são: o aumento dos combustíveis, baixo valor dos fretes e más condições das estradas. Enquanto os caminhões estão parados, mercados e postos de combustíveis correm contra o tempo, pois os estoques estão acabando.

Por volta das 14h de ontem, a reportagem da Folha do Mate voltou para as ruas e, além de camioneiros, encontrou outros profissionais a favor da manifestação. Na rodovia que dá acesso a entrada principal de Venâncio Aires, próximo ao pórtico do município, bem em frente a sede dos motoristas, estava Leandro Hoppen, 27 anos, que é borracheiro. Além de apoiar os manifestantes, ele estava ajudando na abordagem aos motoristas para convidar a aderirem o protesto.
Abaixo de um sol quente, sendo que a sensação térmica estava ainda maior devido a proximidade com o asfalto, Hoppen contou que desde segunda-feira, 23, retorna ao local para apoiar os manifestantes. Mesmo que sua profissão seja outra, ele defende a causa. “Estamos todos juntos aqui, um ajudando o outro”, acrescenta. Para ele, somente através de atos como este que os políticos olham para a comunidade. “Infelizmente não temos ninguém que defenda nós aqui, queremos que um político venha até aqui para ver a situação. Queremos uma posição deles”, diz.
O presidente do Conselho Comunitário das Rodovias Pedagiadas do Trecho 8 (Corepe), Luciano Naue, também estava no local. Além de apoiar as reivindicações em prol dos camioneiros, Naue defende também a questão das más condições das estradas. “Como vi que eles estão pedindo por melhorias nas rodovias, eu como presidente do Corepe, achei que deveria apoiar”, explica. Desde segunda-feira, ele também acompanha de perto a manifestação. Durante o momento em que a reportagem estava no local, muitos foram os carros que passavam buzinando, aparentemente, dando apoio a mobilização que a cada vez está ganhando força. Sem ter dia para acabar.
Infelizmente não temos ninguém que defenda nós aqui, queremos que um político venha até aqui para ver a situação -Leandro Hoppen – borracheiro
Camioneiros reféns do protesto
Em uma parada de ônibus, na beira da RSC-287, estava um grupo de camioneiros. Lá, era um dos poucos lugares que tinha espaço, com sombra, para sentar. Questionados sobre a mobilização, a surpresa: eram contra. Ou melhor, eles apoiam a reivindicação, são contra o aumento do Diesel e o baixo valor dos fretes. O que eles não apoiam são os rumos que a mobilização está tendo. Alencar Couto Dias, 42 anos, que transporta combustíveis, explica que, ao chegar nos trechos bloqueados, os camioneiros não têm a opção de aderir ou não o protesto. “Eles dizem que estão apoiando nós, mas que tipo de apoio é esse? Nós somos obrigados a parar”, desabafa. Dias tentou passar a barreira uma vez, mas, segundo ele, foi ameaçado. “Falaram que se passar, vão me pegar ali adiante, na baixada. Eles quebram todo o caminhão se tentar passar”. Além de ter que ficar no local, o dinheiro de Dias está acabando. “Estamos a base de água, porque é só isso que eles nos dão. Quando meu dinheiro acabar, como vou comer? Eles não vão me dar comida”, observa. A tendência, conforme conversas paralelas no local, é de que os caminhões tanques, que carregam combustíveis, fiquem parados, sem ser liberados. Por quanto tempo? Não se sabe.




Corrida aos postos para não ficar sem abastecimento
Os manifestos dos camioneiros que estão ocorrendo nos últimos dias, estão causando transtornos e ocasionando a falta de combustível em alguns lugares. A informação assustou os motoristas que lotaram os postos para garantir o abastecimento, como é o caso da estudante Ana Maria Kist, 22 anos.

A jovem, que mora em Venâncio Aires e vai todos os dias para Santa Cruz do Sul estudar, resolveu encher o tanque na tarde de ontem para garantir as idas para a faculdade, ao menos nesta semana. “Ouvi hoje de manhã que, devido ao manifesto, haveria possibilidade de acabar o combustível. Então resolvi garantir”, conta.Na tarde de ontem, a reportagem da Folha do Mate entrou em contato com alguns postos de Venâncio Aires, e constatou que apenas se tem gasolina para até o fim de semana. Segundo o proprietário de um dos postos do município, Adriano Reginatto, apesar de ainda possuir o reservatório cheio e conter dois caminhões aguardando para abastecer no estabelecimento, não pode garantir se haverá gasolina até o fim de semana. Reginatto ressalta que mesmo se a situação se normalizar, deve faltar gasolina nos postos de combustíveis. “A situação vai levar quatro ou cinco dias para se normalizar”, diz. Em outro estabelecimento, o proprietário Fernando Knies, afirmou que ainda havia combustível, mas que se o caminhão não carregasse na refinaria e não reabastecer o estabelecimento, o posto ficará sem gasolina a partir de hoje. De acordo com Knies, o movimento aumentou nesta semana, mas nenhum aumento na bomba está previsto para a gasolina durante esses processos. Outro posto do centro da cidade, afirmou, através do gerente Vanderlei Haas, que poderá ficar sem gasolina para hoje se o caminhão não reabastecer.
Alimentos podem começar a faltar nas prateleiras

Os bloqueios nas rodovias afetam a distribuição de alimentos e de hortifrutigranjeiros nos supermercados e fruteiras de Venâncio Aires. Isso porque parte dos alimentos vem das Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa) de Porto Alegre. A principal preocupação dos estabelecimentos é com os produtos não perecíveis, como carne, leite, congelados e embutidos e frutas e verduras. Alguns alteram as rotinas e já receberam ou ainda receberão produtos durante a madrugada, quando as estradas não estiverem obstruídas.A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), também teme. Na ausência de uma rápida solução para o conflito, a entidade diz que haverá danos irreparáveis à economia da produção, com reflexos na vida da população brasileira. O proprietário de fruteira Afrânio Mengue observa que hoje, assim como ontem, o abastecimento de frutas e verduras será normal. “Depois vai complicar se continuar assim. O principal problema é o fato dos produtores não conseguirem chegar em Porto Alegre.” Uma das alternativas será buscar hortifrutigranjeiros na Ceasa em Porto Alegre de noite ou de madrugada. O diretor comercial de rede de supermercados que está presente no município, Leonardo Talfer, diz que os caminhões que transportam os alimentos para as dez lojas do Estado utilizam rotas alternativas nas estradas. Conforme Talfer, a empresa faz o possível para que não falte o que os clientes desejam nas prateleiras. Mesmo assim, há preocupação. Segundo ele, os supermercados da rede possuem um espaço especial para armazenar os perecíveis por mais tempo. Ainda há fornecedores locais para frutas e verduras que facilita o abastecimento. Para a proprietária de supermercado Sidônia Quinot, a dúvida é sobre os próximos dias. “Se continuar assim, vai nos prejudicar muito. Não sei como será nos próximos dias o estoque.” De acordo com o responsável pelos setor de compras de outro estabelecimento Roderlei Lenz, já houve falta de perecíveis como frios e congelados. Produtos como a carne e verduras e frutas foram recebidos já no início da semana. “O problema maior será semana que vem se as manifestações continuarem.” O gerente de supermercados Jovani Severo diz que caminhões carregados com produtos chegaram, na madrugada de ontem, ao estabelecimento. Assim como os demais, a preocupação é com os próximos dias.