O que sempre foi uma paixão de Rafael Lovato, a literatura, agora também ganha reconhecimento internacional. No começo deste mês, o escritor que é natural de Venâncio Aires, recebeu o primeiro lugar em um prêmio de contos realizado nos Estados Unidos, com a obra intitulada Flukes of destiny, que significa Acasos do destino. Denominado “Flash Fiction Contest: Grifts”, o prêmio foi uma realização do site ‘Asymmetry – short speculative fiction’, do estado americano de Óregon e reconheceu primeiro, segundo e sete terceiros lugares. Segundo Lovato, o tema do concurso foi “grifts” (golpe, logro, embuste, fraude), e permitiu abordagens de modo literal ou filosófico. Além da premiação em dinheiro e publicação no site da Asymmetry, o conto de Lovato integrará uma antologia prevista para ser publicada no fim deste ano.Segundo o escritor que é formado em Direito e concilia as produções literárias com a carreira de Procurador do Banco Central (Bacen) na Regional de Porto Alegre, a participação no prêmio também foi motivada pela preparação e adequação da escrita e gramática da língua inglesa para a novela ‘Deletion’, a qual ele encerrou a escrita recentemente. “Estou feliz, pois para mim o que mais vale é a confirmação que este prêmio me entregou: estou no caminho certo em minha escrita em inglês”, compartilhou o escritor que tem livros publicados no Brasil, EUA e Portugal.

Foto: Arquivo/ Folha do MateEscritor é natural de Venâncio Aires
Escritor é natural de Venâncio Aires

Com autorização dos editores da Asymmetry, fiz a tradução do conto premiado em português.”RAFAEL LOVATO – Escritor

FLUKES OF DESTINY (Acasos do destinao)

Mais uma vez, Balian estava no lado de sua mãe cruzando através da vizinhança “Garotada Feliz”, como ele a apelidou. Toda vez que passavam por ela, de certa distância, Balian podia ver a garotada brincando nas margens da baía amarela, correndo e deslizando em suas areias macias.Balian sempre se perguntou como seria brincar naquelas areias douradas, livre para fazer estripulias? Deixar o vento e o sol brincar com sua pele nua? Ele se tornaria completo?- Por favor, mãe, você poderia parar por um momento?- O que é desta vez, querido?- Eu quero vê-los brincar por alguns segundos. Por favor, – disse Balian.- Somente por um momento.- Está bem.Observar a garotada aproveitando a praia ensolarada com suas famílias azedava ainda mais o sabor da solidão na boca de Balian. Ele era o único jovem de sua família. Nenhum dos adultos brincava com ele. Nunca.Por que ele não possuía irmãos? Por que ele deveria desperdiçar sua juventude trancado longe de diversão e jogos?- Por que não posso ir lá, mãe?- Você sabe que esta é uma zona muito perigosa. A família Orsini a controla.- Sim, mas eles não têm nenhum problema com a gente.- Não por enquanto, mas nunca sabe.- Nós também somos uma família poderosa. Poderíamos lutar contra eles, – disse Balian.- Confrontação não é nosso ponto forte. Nós temos poder, sim, mas nos faltam as ferramentas. Os Orsini nos comeriam vivos.- Você está exagerando.- Não, não estou.- Perigo há por todo lado, inclusive em casa, – disse Balian. – Você quase não me deixa sair, nem mesmo para respirar um pouco de ar fresco.- Nós perdemos seu pai dessa maneira. Não arriscarei perder você também.- Podemos pedir para eles virem até a nossa casa para brincar comigo, então?- Não funciona assim. A vida deles é bastante diferente da nossa.- De que maneira?- Eles não se encaixam no nosso mundo e vice-versa.- Por quê? – Balian perguntou.- É um direito de nascença. Nós somos apenas diferentes.- Eu queria ser um deles.- Não diga isso. Você é muito afortunado pela vida que você tem.- Em qual sentido? – Perguntou Balian.- Você não conhece fome, nem acorda todas as manhãs desejando simplesmente permanecer vivo. Você tem uma família que ama e protege você.- Eu não tenho o sol.- Nenhum de nós tem. Com o tempo, você vai se acostumar com isso.- Papai não se acostumou. Ele estava procurando pelo sol quando…- Você não sabe se isso é verdade.- E se eu escolher ser como eles?- Por que você diz essas coisas? Você sente falta do seu pai, é isso?- Eu sou… vazio, – disse Balian.- Você é o que você é. Não há nada que você possa fazer sobre isso.- O que eu sou?- Ok, querido, ficamos tempo suficiente aqui. É hora de ir.- Sim, mãe, é realmente minha hora de ir.Balian olhou para as outras baleias azuis ao seu redor. Ele era filho de seu pai. Levantando suas nadadeiras caudais (tail flukes), ​​ele nadou diretamente para a praia dourada com suas areias macias repletas de leões marinhos felizes. Ele carregava o sol em seus olhos.