Faltavam cinco minutos para as 15h e os vigias se preparavam para fechar a agência do Banrisul, no centro de Boqueirão do Leão, quando um Fiesta bordô estacionou bem em frente ao prédio. Dele desembarcaram quatro homens armados com escopetas calibre 12, pistolas 9 milímetros e um fuzil, usando máscaras, luvas e coletes à prova de balas. De dentro do prédio, uma vigilante avisou: “é um assalto.”
As palavras atingiram em cheio uma escriturária, de 38 anos – e outros funcionárias do Banrisul -, assim como os dois clientes que estavam na agência. Ela finalizava alguns procedimentos para deixar tudo encaminhado para o dia seguinte e viu um homem mascarado e com uma arma longa nas mãos, do lado de fora do prédio. “Lembro que virei para pegar um papel na impressora e ouvi a vigilante gritar que era um assalto. Então vi o assaltante e me joguei no chão”, revelou a funcionária, em entrevista concedida ontem à tarde.
Na sequência, ela escutou tiros – que atingiram a parte interna e externa do prédio, sem ferir ninguém – e as marretadas, que arrombaram a porta giratória. Um dos assaltantes perguntou pelo gerente e o vigia [havia um casal de seguranças] disse que ele estava em uma reunião, fora da agência. “Era verdade, mas o assaltante esboçou uma reação, como se fosse dar uma coronhada no vigia. Minha colega se apresentou como responsável e o acalmou”.
Os assaltantes mandaram os homens tirar as camisas e formar uma fila, enquanto que as mulheres deveriam apenas entrar na fila e levantar os braços. Depois, mandaram todos sair da agência. E um deles, mencionou a escriturária, ainda disse para tomarmos cuidado para não nos cortarmos nos cacos de vidro da porta giratória.
Já em frente à agência, os funcionários, os dois vigias e os clientes formaram um cordão humano. “Minha colega estava muito nervosa e chorando. Então um deles pegou na minha mão e pediu para acalmá-la”. A escriturária também ouviu quando um dos assaltantes disse ter visto um brigadiano, que observava de longe. “Ele não é louco de atirar em nós, pois só vai matar vocês”, disse o assaltante, que empunhava uma arma longa.
Dentro da agência, os outros dois assaltantes aguardavam a abertura do cofre. “A colega informou sobre a demora, pois havia um tempo de retardo, e o assaltante disse para ela ficar calma, pois ele sabia disso”. Além daquele dinheiro, também foi roubado o valor que havia no caixa – que tinha sido depositado pelos clientes – e dos caixas eletrônicos. Ao contrário da informação inicial, os caixas eletrônicos foram abertos com as senhas e não a marretadas.
REFÉMCom o dinheiro em sacolas – a quadrilha levou até as moedas -, a escriturária escutou quando um deles disse para levar uma mulher junto, de refém. “Senti alguém me pegar pelo braço e pedir que entrasse no carro”, recordou a vítima. Ela e os quatro indivíduos entraram no Fiesta bordô e o motorista manobrou no meio da rua e saiu da cidade. Um deles mandou os outros darem tiros e jogarem os miguelitos na rua. “Me disseram para ficar calma que logo seria solta”.
A escriturária imagina que andou pouco menos de um quilômetro, quando o motorista mandou parar o carro e soltá-la. Ela desceu e saiu caminhando, sem olhar para o Fiesta, que ainda ‘apagou’ antes de arrancar. Ela foi até a primeira casa, se identificou e pediu socorro ao morador, que a levou de volta à agência. Assim que chegou, ligou para o marido – ambos residem em Venâncio Aires – e foi encaminhada ao Hospital Anuar Elias Aesse, onde permaneceu em observação, até a noite. Ela foi acometida de problemas de pressão alta, mas passa bem.
As buscas da Brigada Militar prosseguem e, ontem à tarde, um helicóptero sobrevoou a região de Boqueirão. Segundo a capitão Michele da Silva Vargas, há barreiras em locais estratégicos, que serão mantidas. A informação é que o bando, após abandonar o Fiesta na localidade de Pedras Brancas, seguiu a fuga em um automóvel de cor cinza ou prata.
INVESTIGAÇÕESResponsável pela Delegacia de Polícia de Boqueirão, o delegado Felipe Staub Cano auxiliou nas buscas à quadrilha, até por volta das 22h da terça-feira. Na agência, recolheu cápsulas calibre 12 e um projétil 9 milímetros. “Também aprendemos outros objetos que podem nos ajudar a identificar os assaltantes”, disse.
Ontem à tarde, peritos do Instituto Geral de Perícias (IGP) de Passo Fundo foram até Barros Cassal periciar o Fiesta, que foi encaminhado a um Centro de Remoção e Depósito (CRD) daquele município. A intenção é coletar impressões digitais no veículo.