Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateEntre as alterações a serem feitas no Ensino Médio estão a carga horária, incentivo à expansão do ensino em tempo integral e um currículo mais flexível
Entre as alterações a serem feitas no Ensino Médio estão a carga horária, incentivo à expansão do ensino em tempo integral e um currículo mais flexível

A maior mudança na educação nos últimos 20 anos, desde a Lei de Diretrizes e Base da Educação, foi publicada nesta quinta-feira, 22, por meio de Medida Provisória. As mudanças se referem à reformulação do Ensino Médio Maior e entre as alterações a serem feitas estão a carga horária, incentivo à expansão do ensino em tempo integral e um currículo mais flexível, o que dará oportunidade ao aluno escolher o que deseja estudar.

As alunas do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Cônego Albino Juchem, Emily Weber e Gabrielly Oliveira, ambas com 16 anos, ressaltam que se surpreenderam com as novas medidas propostas para o Ensino Médio. As duas acreditam que as alterações têm pontos positivos e negativos para os estudantes.

Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateNa opinião de Emily, o aumento da carga horária é uma das alterações que não será aceita pela maioria dos estudantes
Na opinião de Emily, o aumento da carga horária é uma das alterações que não será aceita pela maioria dos estudantes

Segundo Emily, o aumento da carga horária pode não ser aceito pela maioria dos estudantes: “Tem gente que já acha ruim estudar no contraturno, então imagina se dobrar a carga horária? Nós precisamos de um tempo para a gente. Precisamos ter uma vida social”.

Na opinião de Gabrielly, um ensino mais prático e focado de fato no que o aluno quer aprender é um dos aspectos bastante interessantes em meio às mudanças. Para ela, a partir do momento que a pessoa prioriza as disciplinas que contemplem assuntos relacionados à profissão que pretende exercer, existe um maior interesse pelos estudos. “Penso que vai aumentar a dedicação dos alunos, porque vão estudar o que realmente gostam”, comenta.

Tanto Emily quanto Gabrielly acreditam que, embora as mudanças tenham muito o que agregar, estas irão mudar a aprendizagem e o método de ensino e essa adaptação talvez leve um tempo para ocorrer.

Aplicação no próximo anoAs alterações já passam a valer, contudo, precisam ser aprovadas pelo Congresso

Foto: Kethlin Meurer / Folha do MatePara Gabrielly, um ensino mais prático e focado no que o aluno realmente quer aprender é uma forma de fazer aumentar o interesse pelos estudos
Para Gabrielly, um ensino mais prático e focado no que o aluno realmente quer aprender é uma forma de fazer aumentar o interesse pelos estudos

. As mudanças devem começar a ser aplicadas nas redes pública e privada no próximo ano, de acordo com a capacidade de cada rede de ensino, mas não há prazo definido para a implementação total.

De acordo com informações da Zero Hora, uma das principais novidades diz respeito à flexibilização do currículo. Ou seja, os alunos terão algumas disciplinas obrigatórias a serem definidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ainda em discussão, mas poderão definir se querem ou não ter aulas de PROGRAMAÇÃO, empreendedorismo e edificação.

O Ministério da Educação publicou que não está decretado o fim de nenhum conteúdo, de nenhuma disciplina. Do que a Base Nacional definir, todas serão obrigatórias na parte da Base Nacional Comum: artes, educação física, português, matemática, física, química. A Base Nacional Comum será obrigatória a todos. A diferença é que quando se faz as ênfases, é possível colocar apenas os alunos que tenham interesse em seguir naquela área.

PRINCIPAIS MUDANçAS

Carga horária: atual carga horária mínima vai aumentar de forma gradual. Irá de 800 horas por ano para 1,4 mil horas. No total, ao fim dos três anos, o Ensino Médio subirá de 2,4 mil horas para 4,2 mil horas.Tempo integral: Governo Federal quer ampliar a oferta de escolas de tempo integral. O currículo terá 45 horas por semana de aula, com obrigatoriedade de português e matemática. Cada escola deverá atender no mínimo 400 alunos. A meta é ter 500 mil estudantes no regime de tempo integral até 2018. Sem diploma específico: texto prevê que profissionais com notório saber, que seja reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino, possam dar aulas de conteúdos de áreas relacionadas a sua formação, flexibilizando a contratação de professores. A aplicação dessa nova medida deve atingir principalmente o ensino técnico.Divisão por semestres: Ensino Médio poderá ser organizado em módulos, dividido por semestres e não mais anos. A modificação aproxima os anos finais da educação básica ao sistema adotado pelas universidades, inclusive prevendo a inclusão de créditos e disciplinas com terminalidade específica.

 

“Principalmente pela falta de debate vai ter um retrocesso”

O diretor regional do Cpers, Renato Müller, avalia a medida como negativa. “Primeiro, porque não houve nenhum debate em nível de Brasil”, destaca. Para ele, não existe urgência para uma Medida Provisória. “Vão mexer em disciplinas e carga horário sem uma discussão com entidades representativas”, diz. Müller destaca que não dá para imaginar um educandário sem aulas de sociologia e antropologia, afinal, para ele, são disciplinas que o aluno desenvolve o senso crítico.

“Debater é a primeira coisa, independente do que se propõe”

Para a doutora em Letras, Joseline Both, falar sobre a Medida Provisória ainda causa diversos questionamentos. Afinal, de acordo com ela, ainda não se sabe de que forma será trabalhado essa mudança. Um ponto importante destacado por Joseline é a falta de discussão sobre a medida. Ela mesmo questiona-se até que ponto o aluno estaria preparado para escolher as disciplinas que quer cursar. “Só aumentar a carga horário garante a aprendizagem?”, questiona. Sabe-se que um novo perfil de aluno criou-se nos últimos anos, mas para ela, não se sabe se a mudança terá que ser no Ensino Fundamental ou Médio. Conforme Joseline, é sempre importante discutir sobre a educação: “Mas vamos discutir juntos o que precisa mudar, como vai ser mudado, o que é necessário priorizar.”