Doce, saboroso e cheinho de gás. O refrigerante, uma das bebidas mais adoradas pela criançada, pode ter a venda proibida nas escolas de educação básica (do primeiro ao nono ano), públicas ou privadas, em todo país.
Na última semana, a Comissão de Seguridade Social e Família aprovou projeto do deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG). A proposta recebeu parecer favorável da relatora, deputada Zenaide Maia (PR-RN). Ela concordou com os argumentos do autor do projeto, de que o aumento dos índices de obesidade infantil no país está diretamente relacionado ao consumo de alimentos como salgadinhos e refrigerantes vendidos nas escolas.Mas para valer a lei, o projeto ainda será examinado pelas comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, segue para o plenário da Câmara dos Deputados.Embora ainda não esteja valendo, a conduta de deixar de vender refrigerantes em escolas foi tomada por três grandes marcas, nesta semana. As gigantes de bebidas Coca-Cola Brasil, Ambev e PepsiCo Brasil anunciaram um acordo para mudar a política de venda de refrigerantes em escolas. A partir de agosto, as fabricantes deixarão de vender refrigerantes diretamente às cantinas de escolas “para crianças de até 12 anos (ou com maioria de crianças de até essa idade)”. Pelo acordo, elas passarão a vender apenas água mineral, suco com 100% de fruta, água de coco e bebidas lácteas que atendam a critérios nutricionais específicos.No caso de grandes escolas, que contemplem crianças e adolescentes de diversas idades, o trabalho será feito pela conscientização do cantineiro e da diretoria – que determinam as regras internas.A diretora de categorias da Coca-Cola Brasil, Andrea Mota, explicou, em entrevista, que as empresas envolvidas na ação não têm poder para fiscalizar as vendas dentro das escolas, mas que podem sugerir as mudanças por meio da campanha. Outra novidade, de acordo com a diretora, é que a Coca-Cola vai comercializar apenas latas em versão mini dos seus refrigerantes nas escolas, com 250 ml (100 ml a menos que a lata convencional). A medida será adotada para tentar reduzir o consumo mesmo entre os mais velhos.Mota falou também que não foram feitos cálculos sobre o impacto financeiro da ação e que não tinha a estimativa de quantas escolas deixarão de receber os produtos. “Não temos esse estudo porque não foi uma decisão comercial”, explicou. A proibição da venda de refrigerantes em escolas tem sido uma cobrança crescente e alvo de diversos projetos de lei pelo país em razão do aumento da preocupação com a obesidade infantil e da defesa de uma alimentação mais saudável. Desde março, a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir) passou a recomendar às indústrias que suspendessem a propaganda de seus produtos voltados para crianças até 12 anos, “seguindo uma tendência mundial”.
DadosLevantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feito com base na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada em 2008-2009, aponta que 14,3% das crianças entre 5 e 9 anos são obesas. O problema atinge todas as classes sociais, em todas as regiões brasileiras. “Estamos vivendo uma epidemia de excesso de peso. A sociedade precisa buscar alternativas para combater esse problema”, disse a deputada Zenaide Maia.A deputada afirmou que a quantidade de açúcar contida em uma lata de 355 ml de refrigerante, em torno de 36 gramas, extrapola a quantidade máxima diária recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 25 gramas. “Para piorar a situação, todo esse conteúdo calórico é praticamente nulo de conteúdo nutricional”, ressaltou a parlamentar.
Proibição já foi adotada na maior escola do município
Enquanto a proibição da comercialização de refrigerantes em escolas pode, ainda, virar lei, a Escola Cônego Albino Juchem (CAJ) já adotou a medida há dois anos. Segundo a diretora da instituição de ensino, Inês Lagasse Mayer, quando o bar da escola passou por nova licitação, tratou-se, também, de proibir a comercialização de refrigerantes e de fritura. “Sou a favor da implantação desta medida. As crianças não possuem maturidade para avaliar as consequências que determinado alimento vai trazer”, salienta. Além disso, Inês reforça que as iniciativas precisam ser tomadas em casa, também, pelos pais, que às vezes enviam refrigerantes e alimentos fritos para os filhos de lanche. O vice-diretor do turno da tarde, Altair Bender, complementa que a entrada de refrigerante dentro da escola também é proibida. Inês relembra que na época em que a medida de proibição foi tomada, os alunos chegaram a reclamar por causa do corte. O proprietário do bar, Jander Rosa, salienta que as crianças pedem pelo refrigerante. “Acho que a medida é importante do ponto nutricional”, afirma. Porém, Rosa salienta que como os sucos naturais têm um valor mais elevado que o refrigerante, o valor precisa ser repassado ao cliente. Além do suco, no bar pode ser comprado água e café.
O PAPEL DOS PAISNa Escola Monte das Tabocas, conforme a diretora, Jaqueline Pasa, o refrigerante é comercializado no bar, porém, é a minoria dos alunos que consome. “Acredito que esse medida de proibição deve ser adotada pelos pais, criando o hábito de tomar ou não. Não adianta não ter na escola, mas em casa a criança consumir um monte”, reforça. Ela ainda destaca que na merenda oferecida pela escola, são ofertados sucos naturais e os alunos gostam tanto que chega a faltar. Além disso, a alimentação saudável é trabalhada com as crianças das séries iniciais. “Ensinamos como matéria disciplinar e os pais, o que ensinam a esses filhos?”, questiona.