Crimes contra o patrimônio sempre existiram e não serão extintos tão facilmente. No entanto, nos últimos três meses uma prática tem aumentado em dois municípios da região: Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul. O ataque a relojoarias deixa a polícia em alerta e revela que existe uma rede por trás dos assaltantes. “Se há quem rouba, certamente há quem recepte estas joias e dê destino”, observa o delegado Paulo César Schirrmann.
O titular da Delegacia de Polícia de Venâncio Aires revela que há um trabalho de investigação para se chegar a esta quadrilha. Além dos mentores e executores das ações criminosas, há pessoas que auxiliam dando informações sobre o movimento do local escolhido, outros que escondem os objetos e, por fim, que dão destino.
Como o ouro não desvaloriza, as peças podem ficar guardadas por um longo período. Exemplo disso ocorreu durante a maior apreensão de drogas da história da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. No dia 6 de junho passado, em um dos tantos baldes desenterrados no sítio, na localidade de Linha Curitiba, interior de Candelária, a polícia encontrou mais de meio quilo de joias em ouro.
As peças ainda estavam etiquetadas. Elas foram roubadas de uma relojoaria, no centro de Venâncio Aires, no entardecer do dia 30 de maio, uma semana antes da ação policial.
Mas, como estas joias foram parar lá? Para a polícia, que finaliza o inquérito policial que trata dos três roubos contra relojoarias do Município – outros quatro assaltos foram praticados em Santa Cruz do Sul, um dos envolvidos tinha ligações, mesmo que indiretas, com Osni Valdenir de Mello. Sapinho, 50 anos, como é conhecido, é considerado o dono do sítio, dos cerca de 500 quilos de drogas e dos R$ 147 mil apreendidos lá.
INDICIAMENTOS
O teor do indiciamento não está concluído, mas a linha seguida pela equipe do delegado Schirrmann é contundente. Segundo apurado, o mentor do roubo pagou com o ouro uma dívida de drogas que tinha com um ‘funcionário’ da quadrilha. “Tanto que algumas peças roubadas na relojoaria foram apreendidas no pescoço de Lucas Júnior de Oliveira, 25 anos, e na casa onde ele foi preso na manhã do dia 6 de junho”, explica o inspetor Cassiano Dal Ongaro, que participou daquela operação e investiga o caso.
Durante o trabalho que culminou na ação em Candelária, os agentes do Setor de Investigações descobriram que Oliveira era o responsável pela distribuição de substâncias entorpecentes em Venâncio Aires e outros municípios da região. Faltava chegar ao sítio, onde funcionava a central de distribuição e onde a cocaína pura era misturada e também transformada em crack e oxi.
Isso ocorreu com o auxílio da Defrec, de Santa Cruz do Sul. E foi no sítio de 4,3 hectares que os 518 gramas de ouro roubados da relojoaria foram apreendidos.
Esta situação vincula o roubo das joias ao tráfico de drogas. No primeiro assalto em Venâncio Aires, na tarde do dia 10 de abril, um adolescente de 17 anos, morador de Santa Cruz, foi indiciado. “é que um vigia que estava na frente da relojoaria pediu para o rapaz tirar o capacete para entrar na loja e isso facilitou sua identificação”, explicou Dal Ongaro. Este indivíduo também foi indiciado por um roubo a uma relojoaria, em um shopping de Santa Cruz.
Outra situação que vincula os três assaltos é a arma usada. O revólver calibre 38, de seis polegadas, foi reconhecido como o utilizado nas três ações – a última foi segunda-feira, onde foram presos Deivid Ricardo da Silva, 26 anos, Gilberto Fernando Ferreira, 25 anos, e Fábio Roberto Brun, 23 anos. A arma, com a numeração raspada, foi encontrada no lixo do banheiro da casa onde os três indivíduos foram presos e onde foi apreendida parte das joias roubadas.
Para a polícia, este detalhe reforça a tese de que nas três ações – que foram praticamente idênticas – as mesmas pessoas estão ligadas. Na primeira – além do reconhecimento do adolescente -, a polícia vai indiciar, pelo menos, outras duas pessoas. Uma delas é Ferreira, apontado como mentor dos três assaltos.
Na segunda ação, além de Ferreira, a polícia tem indícios suficientes para apontar Da Silva com o indivíduo que entrou na loja e roubou as joias. Ferreira também deverá ser indiciado por associação ao tráfico pela ligação que teria com Oliveira.Sobre as joias roubadas e que não foram recuperadas nesta última ação, a polícia segue as investigações. Foi apurado que as peças de ouro com maior valor comercial sumiram antes da chegada da Brigada Militar. “é que uma pequena quantidade de peças de ouro, que pode ser escondida facilmente, representa um alto valor comercial”, ressalta Schirrmann. “Mas isso só acontece por que tem alguém que fica com as joias”, acrescenta.