Aposta no aipim: um setor em ascensão

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Depois de um longo período de estiagem, a agricultura em Venâncio Aires, assim como no Rio Grande do Sul, vem se recuperando e os números indicam uma grande safra de verão. Algumas culturas estão se destacando e a área cultivada deve aumentar significativamente.

Além da soja, do milho, do trigo e do arroz, outras culturas apresentam uma expansão de hectares cultivados no município. Uma delas é o aipim. Em comparação com a safra passada, Venâncio tem a projeção de plantar 2,2 mil hectares da raiz – desses, 1,2 mil com finalidade comercial.

Conforme o escritório local da Emater/RS-Ascar, o aumento de 100 hectares na atual safra ocorre devido ao preço pago para o produtor. “O aipim voltou a ter uma demanda. Ele é um complemento no prato das famílias e tem um menor custo se compararmos com outros alimentos”, cita o chefe do escritório local, Vicente Fin.

Segundo ele, dentro do cenário das olerícolas, o aipim é um dos setores em ascensão. “O aipim de Venâncio, que é da variedade ‘vassourinha’, é famoso na Ceasa. Uma pequena parcela do aipim que é produzido aqui, fica aqui, diria que uns 5%. Uns 10% têm outros mercados e o restante, ou seja, uns 85% vão para a Ceasa”, explica o engenheiro agrônomo.

Aposta no aipim

Morador de Linha Herval, André Luiz dos Santos, 37 anos, dobrou a plantação de aipim neste ano, nas terras em Vila Palanque. O produtor e a esposa Josiane Canabarro dos Santos guardaram ramas para plantar 50 mil pés de aipim na atual safra. “Já plantamos uns 40%. Até o fim do mês, concluímos toda a plantação”, comenta.

Há quatro anos plantando aipim, o casal apostou na cultura e tornou ela o carro-chefe da família. “Decidimos tentar, aumentamos a produção e temos uma boa expectativa para a safra. No ano passado, o preço já estava excelente. O segredo é produzir o que o mercado quer”, frisa Santos.

Na última semana, a reportagem acompanhou a família, que contou com ajuda de vizinhos, na plantação de aipim. A dica para um produto de qualidade, segundo Santos, é ter uma terra preparada, solta e com uma boa palhada. “O tempo também precisa colaborar.”

Uma rama rende em média 20 mudas. Estas devem ter de 10 a 12 centímetros, segundo o agricultor. “Quanto mais ‘olhos’ ela tiver, mais galhos dará e menos qualidade. Por isso, é preciso escolher bem as ramas e as mudas, assim como precisa guardar elas bem de um ano para o outro.”

Se as 50 mil mudas vingarem, o tempo colaborar e as formigas não prejudicarem a plantação, a família pretende colher mais de 3,5 mil caixas de aipim, com uma média de 20 a 28 quilos por caixa.

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é o número de agroindústrias familiares em Venâncio Aires que comercializam o aipim descascado. Uma sexta agroindústria está encaminhando o pedido de abertura e regularização.

Trabalho manual

O aipim é uma das culturas que tem praticamente todo o serviço manual. A máquina até pode auxiliar para preparar a terra e puxar as vergas. Mas a realidade no município ainda é o trabalho manual para fazer as mudas, plantar, cuidar e colher a raiz. “Hoje é difícil achar gente para ajudar. É um serviço judiado. Mas a gente voltou para o interior e investiu na cultura pois gosta e tem retorno”, esclarece o produtor.

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Algumas técnicas passam de geração a geração. Santos aprendeu com o pai, Ivo, a observar a lua ‘certa’ para plantar o aipim. “A lua nova amarga o aipim. A minguante é a ideal, dá uma raiz bonita e um aipim com qualidade.”

Pai de André, Ivo dos Santos é o responsável por ajudar na plantação do aipim. Trabalho é totalmente manual (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

O engenheiro agrônomo da Emater, Vicente Fin, frisa que o aipim ainda está ‘na mão’ da agricultura familiar. “Na sua grande maioria, o produtor utiliza adubo orgânicos, faz um reaproveitamento de esterco para preparar a terra e repor nutrientes, sem contar que praticamente todo o trabalho de plantar e colher ainda é manual, por isso, o setor permanece na mão da agricultura familiar”, acentua.

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é o número de famílias que cultivam o aipim em escala comercial, em Venâncio Aires.

Safra de Verão tem expectativa de ser uma das maiores da história

A primeira estimativa da Safra de Verão 2020/2021 da Emater/RS-Ascar indica a segunda maior safra da história no Rio Grande do Sul. Em uma área total de 7,8 milhões de hectares (1,8% superior ao ano anterior), deverá ter uma produção 40,2% maior que a safra passada, atingindo 32,5 milhões de toneladas dos principais grãos de verão (soja, milho, arroz e feijão). A maior safra do estado foi em 2017, com mais de 33,6 milhões de toneladas de grãos colhidos.
Os dados foram divulgados em coletiva de imprensa virtual no início de setembro. De acordo com o levantamento, a soja tem a expectativa de maior aumento na produção (68,8%) e na produtividade (65,7%) em relação à última safra, possibilitando uma colheita de cerca de 19 milhões de toneladas, sendo 3,1 toneladas por hectare, em uma área de 6 milhões de hectares, apenas 1,6% maior que no ano anterior.

Em Venâncio

Na Capital do Chimarrão, no cultivo da soja, a Emater estima um aumento de área cultivada, em relação à safra anterior, que foi de 3.950 hectares. Nesta safra, estima-se o cultivo de 4,2 mil hectares. O milho cedo terá aumento de 6,2 mil hectares para 6,5 mil.

soja sendo colhida
Soja terá um aumento significativo de área em Venâncio Aires e terá espaço de outras culturas que serão cultivadas em menor escala, como milho e erva-mate (Foto: Rosana Wessling/ Folha do Mate)

O arroz é outra cultura que assim como o aipim, deve aumentar sua área em 100 hectares. Um dos únicos itens que terá redução tende a ser o milho do tarde, pois ele irá ceder espaço para a soja. No ramo da erva-mate, levantamento da Emater também registra uma perda de 100 hectares com o arranquio das árvores em função de outras culturas.
Fin explica que um dos motivos que levou ao aumento de área do arroz foi o cenário positivo. “O preço subiu para o produtor, ele estava descapitalizado, muitos haviam abandonado o setor por isso. Agora com o cenário, o agricultor voltou a apostar na cultura.”

Outro item citado por Fin é a redução de estoques. “Em Venâncio, 250 hectares tiveram falta de água na última safra devido à estiagem. Se pensarmos no estado, o número é maior ainda. Por isso, tivemos menos produção final do grão, o que reduziu os estoques.”

    

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