Frio pode atrasar a colheita de tabaco

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Após temperaturas agradáveis e amenas nos últimos dias, a previsão do tempo alerta para dias de frio intenso, formação de geada e, em alguns pontos do Rio Grande do Sul, pode ocorrer até neve. Apesar de ainda ser inverno, nesta segunda metade de agosto, muitos produtores de tabaco já transplantaram as mudas para a lavoura. Em determinadas regiões de Venâncio Aires, algumas famílias até se encaminham para o início da colheita nos próximos dias.

O anúncio do frio intenso vem preocupando agricultores de modo em geral, não somente aqueles que cultivam o tabaco. Conforme a Metsul, a queda drástica de temperatura deve se intensificar de hoje até sábado.

Além de cuidados com a saúde, no interior, os cuidados serão com as plantações. Alguns agricultores terão de esperar para transplantar algumas mudas de tabaco ou até colocar um plástico extra nos canteiro. Outros têm apenas uma solução: ficar na torcida para o clima não prejudicar a planta que já se desenvolve na terra.

Produção

No dia 27 de junho, a Folha do Mate destacou o início do plantio de tabaco da família Bergmann, de Centro Linha Brasil. Eles já são conhecidos na comunidade por iniciarem o transplante de mudas, antes do período tradicional, com o objetivo de garantir uma boa safra e evitar o calor excessivo do verão na hora da colheita.

Neste ano, ao lado dos pais Sueli e Roni, Lucas Ariel Bergmann, 21 anos, e a namorada Jaqueline Taiane Theis, 20 anos, decidiram iniciar a vida na agricultura de forma oficial e plantaram em torno de 40 mil pés de tabaco. As primeiras mudas foram para a lavoura no dia 16 de junho.

Na terça-feira, 18, a reportagem foi novamente acompanhar a família que já se prepara para a colheita. “Se tudo der certo, em três semanas, a gente inicia a colheita do baixeiro”, conta Jaqueline.

Na lavoura, o fumo verde e bonito nem aparenta ter passado por duas geadas fortes. “A gente ficou com aquele medo de plantar cedo. Mas na nossa família sempre foi assim e seguimos o conselho. Hoje ele está muito bonito na lavoura”, enaltece Lucas.

Nos 15 hectares da família Bergmann, do total de 90 mil pés que foram plantados – entre eles, 40 mil do jovem casal – é possível perceber a diferença nítida no tabaco cedo e tarde. “Aqui na localidade, deu duas geadas bem fortes, mas perdemos algumas mudas de fumo com o calor que fez e alguns dias sem chuva, mas não foi muita coisa, tivemos que replantar um pouco”, destaca Lucas, ao lembrar que não tiveram prejuízos com a geada.

Agora, a aflição aumenta: por estarem tão próximos da colheita, o frio pode ser motivo de atraso. “Se fizer muito frio, o fumo para de crescer, e então temos que esperar o calorzinho para iniciar a colheita e ele ter o tamanho ideal”, explica Jaqueline.

Os cuidados são diários. Na terça-feira, quando receberam a reportagem, os produtores estavam capinando o tabaco que já está há mais de dois meses na lavoura. “Tanto nosso tabaco do cedo e o do tarde quanto o dos meus pais está se desenvolvendo bem. Estamos com uma grande expectativa de safra boa, mas sempre torcemos para o clima colaborar”, frisa Lucas.

Na mesma lavoura é perceptível o desenvolvimento do tabaco em duas fases, o tabaco cedo e o tarde (Foto: Alvaro Pegoraro/Folha do Mate)

“O agricultor infelizmente tem toda sua produção a céu aberto e sempre depende do clima. Todo ano, quando as mudas vão para a lavoura, nosso desejo é de dias bons, sem granizo, seca e vendavais.”

JAQUELINE TAIANE THEIS – Produtora de tabaco

Relembre

Em 27 de junho, a Folha do Mate contou a história de Lucas e Jaqueline, um casal jovem que está iniciando a vida na agricultura, no 5º distrito, em Centro Linha Brasil. A primeira safra deles, de 40 mil pés de tabaco, foi plantada em duas etapas, no dia 16 de junho e depois de um pouco mais de um mês o restante foi para a roça.

Alguns dias sem chuva foram cruciais para a perda de algumas mudas. Agora, a expectativa do casal é com a colheita que deve iniciar daqui a três semanas se o tempo ‘colaborar’. A reportagem irá acompanhar o casal e contar para os leitores todo o ciclo da safra ao longo das próximas edições.

Tabaco pode ficar mais tempo na lavoura devido à paralisação do crescimento

Na última semana, as empresas de compra e processamento de tabaco emitiram alertas para os orientadores agrícolas para que os produtores fossem orientados perante a previsão de frio dos próximos dias.

De acordo com o gerente técnico de Agronomia da Japan Tobacco International (JTI), Eduardo Franchini, é aconselhado que o produtor que ainda não transplantou as mudas de tabaco, espere. “Orientamos verificar o nível de água dos canteiros, evitando lâmina de água baixa para evitar congelamento. Fechar os canteiros mais cedo, à tarde, manter eles bem fechados durante a noite, e se preciso, cobrir com outro plástico. Outra dica importante é evitar manusear as bandejas e mudas para repique e podas.”

Para quem já plantou o tabaco, Franchini destaca que não existe nenhuma prática disponível que amenize os impactos do frio pós-transplante. “Alguns produtores arriscam e plantam mais cedo do que o calendário recomendado que seria a partir da primeira quinzena de agosto. Os estudos indicam o período ideal de transplante para evitar que a planta seja prejudicada pelo frio ou tenha seu crescimento reduzido devido às baixas temperaturas”, frisa o técnico.

Franchini ressalta que as temperaturas amenas podem prejudicar o desenvolvimento da planta. “O prejuízo depende muito da gravidade do frio. Geralmente o impacto é maior no início do ciclo, logo após o transplante. Na fase final, o impacto pode ser na qualidade da folha.”

Paralisação

O tabaco no estágio que está em Venâncio Aires, de forma geral, pode sofrer queimaduras, segundo o engenheiro agrônomo e chefe do escritório local da Emater-RS\Ascar, Vicente Fin. “A geada queima, pois congela o orvalho que está em cima da folha e esse congelamento extrai a água que está na célula e assim vai sendo repassado até estourar o tecido da planta”, explica.

Além disso, Fin esclarece que, além da geada queimar a planta, o tabaco pode ser prejudicado no desenvolvimento. “Vai ter uma paralisação temporária que atrasará o ciclo. Ele vai ficar mais tempo na lavoura. Se ele fica 10 dias a mais, são 10 dias que podem fazer a diferença com relação ao clima no resto da safra.”

    

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