“Opa, e aí colonada, tudo bem?” Talvez você até conheça ou tenha ouvido esse jargão que é bastante utilizado nas redes sociais e em vídeos do fumicultor Giovane Luiz Weber, 44 anos, morador do interior de Santa Cruz do Sul, na localidade de Cerro Alegre Alto.
Weber se divide entre a rotina da propriedade, onde o tabaco é o carro-chefe, e a vida como influenciador digital. Segundo o produtor rural, a ‘profissão’ nas redes sociais começou de forma espontânea, sem pretensão de buscar seguidores e chamar atenção. “Em 2016, fui convidado a participar da página Fumicultores do Brasil, no Facebook, que, na época, tinha cerca de seis mil seguidores. Aceitei o convite e comecei a colocar fotos da minha rotina na roça e de produtores que nos enviavam.”
A página começou a crescer dia após dia e hoje já são quase 288 mil curtidas. “Quando chegamos a 20 mil seguidores, fiz meu primeiro vídeo agradecendo. Foi um frio na barriga. Fiz no meio de uma lavoura de crotalária, em abril de 2016. Depois disso, não paramos mais, fomos nos atualizando, nos modernizando”, relembra.
Segundo Weber, no início, o grupo postava coisas exclusivas do tabaco. “Mas passamos a receber fotos de inúmeras culturas. A gente vê aqui em casa, todo fumicultor planta alguma coisa para subsistência. Hoje diversificar não é só plantar algo para vender, mas ter sua vaca de leite, suas verduras, ovos. Por isso, a gente começou a abrir para outras culturas, mas sempre focando no tabaco. Foi então que conseguimos crescer.”
O produtor frisa que, no mês passado, 32 milhões de pessoas acessaram as publicações da página Fumicultores do Brasil. “Hoje somos vistos como referência, como influenciadores. Isso mostra o cuidado que a gente precisa ter ao postar algo e saber o que fala, posta e escreve.”
Rotina
No dia a dia, Weber e os outros administradores da página compartilham vídeos, fotografias e experiências no campo. O produtor afirma que o retorno é muito grande, são muitas mensagens, curtidas, comentários e compartilhamentos. “Ao falar de tabaco para quem não conhece, parece que a gente vive no meio do defensivo agrícola. A gente respeita a opinião de todos, mas conseguimos mostrar que o fumicultor é alguém que tem estudo, conhecimento e temos um bom nível de vida.”
O fumicultor também enfatiza que o objetivo é mostrar a realidade, o que dá certo e as experiências que não funcionam como deveriam. “A gente conseguiu mostrar que o fumicultor planta o tabaco na sua grande maioria em propriedades pequenas e ele tem um retorno significativo. Já em outras atividades não teria o mesmo retorno.”
O desafio dos custos de produção e a busca por valorização
De acordo com o fumicultor de Santa Cruz do Sul, uma das grandes preocupações do setor é com o aumento dos custos de produção. “Será que teremos insumos na próxima safra? E os valores?”, indaga o fumicultor.
Outra grande preocupação de Giovane Weber, como o produtor, é a falta de reajustes. Ele comenta que toda sua vida está ligada ao tabaco. “Eu tenho 44 anos, a vida inteira lidando no tabaco e já vi muita coisa. Meus avós e meus pais sempre trabalharam nessa cultura. Sempre teve anos bons e ruins, mas o que preocupa os fumicultores é a demora nos reajustes”, frisa.
O produtor lamenta que, nos últimos anos, as entidades pedem um reajuste justo, a indústria oferece menos, e no fim o pagamento fica abaixo do esperado. “Isso deixa o fumicultor decepcionado. Não temos muito o que fazer para intervir isso. Vimos na última safra, que quando falta o produto, algumas empresas pagam acima do preço da tabela. Isso deixa o produtor chateado. Pois quem vendeu cedo, vendeu classificado recebeu até menos pelo seu trabalho e no final esse produtor ganhou a mais. A gente fica feliz pelo produtor que ganhou a mais, mas e aquele que trabalhou a mesma coisa e ganhou menos? Muitos produtores se sentem prejudicados”, detalha.
Valorização
Weber ressalta também a demanda pela valorização como qualquer outro produtor. “Fomos prejudicados com algumas medidas adotadas a tempos atrás e, com isso, precisamos lutar para sermos visto como qualquer outro produtor. Ter assistência do governo e entidades. Sem contar que precisamos ter acesso a todos os meios que outros produtores têm, como Pronaf e financiamentos”, frisa.
“Por mais que nós sofremos, somos desmerecido pelas leis federais, pois que não somos vistos como agricultores, somos peça fundamental nesse Sul do Brasil na arrecadação de impostos e de área de trabalho, tanto no meio rural como na cidade. Por isso, precisamos celebrar essa data”, salienta, ao se referir ao Dia do Produtor de Tabaco celebrado nesta quinta-feira.
“Hoje a gente conseguiu mostrar que o fumicultor trabalha em uma propriedade organizada. Somos conscientes. Temos um grande cuidado com o solo, protegemos a nossa lavoura, pois quanto melhor o solo, melhor a produção. Além disso, temos área de reflorestamento e de mata preservada. Temos grandes cuidados no dia a dia na lavoura.”
GIOVANE WEBER
Produtor rural e administrador da página do Facebook Fumicultores do Brasil