A última semana do ano promete ser de muito calor e de pouca chuva. A informação preocupa agricultores e moradores da área rural que já sofrem com os impactos da estiagem e da falta de água.
A equipe da Patrulha Agrícola realiza a entrega de cerca de 35 mil litros de água por dia com os dois caminhões disponíveis para o transporte. Conforme um dos motoristas do caminhão pipa, Ismael Müller, desde novembro a demanda está aumentando gradativamente. “Tem dias que a gente faz quatro entregas, isso dá 30 mil litros de água por dia. Mas tudo varia conforme a localidade e distância”, pontua.
Para atender a grande demanda, ambas as equipes atuaram na véspera de Natal e no último domingo, 26. “A gente só folgou no sábado de Natal. Tem muitos fins de semana que tocamos direto para não deixar as pessoas sem água”, comenta.
São mais de 100 famílias inscritas na Secretaria de Desenvolvimento Rural e que recebem água desde novembro. “Atendemos praticamente todas as localidades. Desde as mais próximas até as mais distantes”, cita Müller.
Por enquanto, a equipe da Patrulha Agrícola está pegando a água em um poço no Parque Municipal do Chimarrão. Segundo o servidor público, quando a equipe realiza entregas na região serrana do município, em localidades como Alto Paredão e Paredão Pires, o município de Boqueirão do Leão também fornece água.
Alívio
Na tarde de ontem, a reportagem acompanhou uma entrega em Linha Palmital, distante 18 quilômetros da área central. Após percorrer uma estrada estreita, com subidas íngremes e curvas sinuosas, a equipe levou água para a família de Delci Fischer, 57 anos, e Mario Antoni, 53 anos.
A residência, localizada na encosta do Monte Belo, sofre com a falta de água há anos. “O problema se repete todos os anos. Quinta-feira fizemos o pedido, compramos o reservatório e, hoje, fomos contemplados. Isso é uma grande ajuda”, comenta Delci.
Além do casal, a mãe de Delci, Weleda Fischer, e o padrasto, Aloisio Fischer, moram na mesma residência e aguardavam ansiosamente pela água. “Já fizemos dois poços, mas não são suficientes. Sempre seca nessa época”, lamenta Antoni.
O casal, que foi contemplado pela primeira vez pela Patrulha Agrícola, conta que em anos anteriores ia buscar água no vizinho. “É longe, mas a gente, na necessidade, pega o trator e busca alguns tambores com água”, frisa a agricultora aposentada.
A nascente da família produz uma média de apenas 15 litros de água por dia nessa época, porém, em alguns dias, ela seca. “Cada ano está ficando pior. Nos últimos 10 anos a fonte enfraqueceu bastante e não volta mais ao normal, porque não chove o suficiente.”
Probabilidade de La Niña até o fim do verão 2022 está acima dos 80%
Enquanto muitas famílias como a de Linha Palmital necessitam de água para o consumo, muitos agricultores enfrentam problemas também com as culturas. Para essa semana, segundo o Núcleo de Informações Hidrometeorológicas da Univates (NIH), existe uma pequena possibilidade de chuva isolada na quinta-feira, 30. Todavia, o que chama atenção são as altas temperaturas. Na sexta-feira, 31, último dia do ano, as temperaturas podem chegar aos 38 graus.
O ano também deve começar com bastante calor e pouca possibilidade de chuva. No sábado, 1º, segundo o NIH, o dia terá sol com poucas nuvens e temperaturas que variam de 21º e 39º graus. De acordo com o núcleo, é necessário ficar atento aos altos índices de radiação solar e baixa umidade do ar nos próximos dias.
Os primeiros dias do ano tendem a ser de bastante calor e pouca possibilidade de chuva. Além desse cenário, um relatório divulgado ontem pelo Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs) mostra que até o fim do verão de 2022, existe uma grande probabilidade de o fenômeno La Niña permanecer no Rio Grande do Sul.
De acordo com os modelos de previsão para definição do evento El Niño Oscilação Sul (ENOS) do International Research Institute for Climate and Society (IRI), os índices estão acima dos 80%.
Abaixo da média
O prognóstico climático para o mês de janeiro de 2022 indica chuva próxima da média em grande parte do estado. Para o mês de fevereiro, a tendência é de que a chuva fique abaixo da média. Em março, os prognósticos indicam chuvas próximas da média. Para as temperaturas do ar, o prognóstico é de que fiquem próximas da média em todo o trimestre.
“Mesmo com condições de chuva dentro da faixa normal no verão, as precipitações ainda não são suficientes para suprir a demanda hídrica das principais culturas de primavera/verão, em função da alta demanda evapotranspirativa do período”, destaca a coordenadora do Copaaergs, agrometeorologista Loana Cardoso.
O boletim do conselho é elaborado a cada três meses por especialistas em Agrometeorologia de 14 entidades públicas estaduais e federais ligadas à agricultura ou ao clima. O documento também lista uma série de orientações técnicas para as culturas do período.
Segundo a agrometeorologista, Loana Cardoso, evapotranspiração é a combinação da evaporação da água do solo e a transpiração da água pelas plantas.
Produtores atentos com o cultivo da soja
• O plantio de soja pouco avançou no estado devido à estiagem. As áreas implantadas correspondem a 91%, o que representa 5,8 milhões de hectares, dos quais 5% estão em floração.
• Em regiões produtoras com maior déficit hídrico, a cultura nesse estágio demonstra sinais de perda de potencial produtivo.
• Na região, a cultura de maneira geral volta a apresentar sintomas de estresse hídrico, com folíolos pendentes. Por conta do déficit hídrico que perdurou durante grande parte do ciclo, a maioria das lavouras apresenta estatura de plantas abaixo do normal para a época, muitas delas florescendo, e isso compromete a produtividade.
• A falta de chuva prevista para os próximos dias preocupa os agricultores, que não têm como semear soja em solo com baixo teor de umidade, ainda mais pelo fato de que o zoneamento da cultura termina em dezembro.
Fonte: Emater/RS-Ascar
Milho: o mais prejudicado
• De todas as culturas de verão, as lavouras de milho são as que mais prejudicadas pelo quadro climático segundo a Emater e os sintomas de estresse são um número maior de folhas amareladas.
• Alguns agricultores já iniciaram a colheita da atual safra e os prejuízos ultrapassam 80% de perdas em algumas lavouras. Porém, os prejuízos variam muito de acordo com a região em Venâncio Aires devido às chuvas irregulares e localizadas.