Henrique Ruwer
Henrique Ruwer estima uma safra com prejuízos maiores que no ano passado (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

O preço da saca de milho de 60 quilos vem aumentando semanalmente, de acordo com os valores no mercado agrícola divulgados pela Emater-RS/Ascar. Nessa semana o valor chega a R$ 74,21 a saca, mas a expectativa de analistas e técnicos agrícolas é que o valor suba ainda mais nesta safra, ultrapassando os R$ 90.

Desde o ano passado o cenário apontava o aumento no preço pago pelo cereal e com isso, vários produtores rurais apostaram forte no cultivo do milho. Em Venâncio Aires, de acordo com dados do escritório municipal da Emater, serão quase 10,5 mil hectares dedicados para o milho (grão), considerando safra e safrinha. Outros quase 4 mil hectares são para a silagem. Considerando grãos, silagem e milho verde, a área total cultivada ultrapassa os 14,5 mil hectares.

Quem apostou no cultivo do milho é a família Ruwer, que plantou 50 hectares do grão em Vila Santa Emília, Linha Cecília e na Capoeira Grande, divisa entre Linha 17 de Junho e Vila Santa Emília. Henrique José Ruwer, 28 anos, conta que em 2010 ele e o pai Ornélio Ruwer, 72 anos, iniciaram na atividade e plantaram milho em quatro hectares. “A gente foi aprendendo, conhecendo técnicas, comprando terras e apostando na cultura. Hoje já cultivamos 50 hectares.”

O grão é o carro-chefe para a família que os comercializa em cooperativas da região. Nesta safra, eles plantaram o milho entre os dias 3 e 10 de agosto e na próxima semana já pretendem iniciar a colheita.

milho na lavoura
14,5 mil é a área total de milho cultivada em Venâncio considerando grãos, silagem e milho verde. (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

Loteria

Henrique comenta que até início do outubro o milho se desenvolvia bem e a expectativa era de safra cheia. “Há três anos conseguimos tirar 196 sacos por hectare. Isso é muito bom, muitos só conseguem em lavouras com irrigação e a gente conseguiu no modo convencional”, relembra.

Com as chuvas regulares até outubro, o milharal tomava forma, todavia, no período que a água é fundamental, no enchimento de grão e pendoamento, o clima ‘sacaneou’ os produtores. “Na hora que a gente mais precisou não choveu e o milho não se desenvolveu como deveria”, frisa o rapaz.

A expectativa era de safra boa, por isso, pai e filho investiram forte na cultura. “É uma loteria, se investe muito para ter um retorno que, às vezes, nem empata. É preciso torcer para não sair no prejuízo.”

3 mil

é o número de famílias que plantam milho para subsistência ou venda em Venâncio Aires.

A estiagem deixou marcas na lavoura e a espiga ficou pequena. “Eu e o pai estávamos olhando, temos que torcer para tirar uma média de 45 sacos por hectare”, revela. A família estima uma quebra que pode chegar a 70%. No ano passado, mesmo com toda a estiagem que afetou o município e deixou prejuízos que ultrapassaram R$ 108 milhões em Venâncio Aires, a família Ruwer tirou 80 sacos por hectare. “Esse ano está pior que no ano passado. Sempre falo, trabalhar na agricultura é que nem dar um tiro no escuro.”

Custos

Como a expectativa era de safra cheia, a família Ruwer investiu no negócio e não esperava duas estiagem seguidas. Henrique também cita que neste ano os custo de produção subiram muito. “Tem semente que ano passado paguei R$ 600 e agora paguei mais de R$ 1 mil.” Hoje, o jovem comenta que o custo de produção em um hectare ultrapassa os R$ 3 mil. “Tem pedaço de terra que a gente não vai conseguir tirar o custo de produção.” O agricultor cita que o fertilizante, óleo diesel, herbicidas e sementes tiveram um custo muito alto na safra.

A alternativa encontrada foi acionar o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) que visa atender aos pequenos e médios produtores garantindo a exoneração de obrigações financeiras relativas a operação de crédito rural de custeio, cuja liquidação seja dificultada pela ocorrência de fenômenos naturais, pragas e doenças que atinjam plantações, na forma estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Conforme o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin, a entidade já observa prejuízos na lavoura. “A estiagem está judiando, mas ainda é cedo para dizer e dar dados finais pois algumas áreas ainda vão se recuperar. Mas sim, temos várias lavouras que estão com grandes prejuízos.”

milho na lavoura
Prejuízos na safra chegam a 77% na lavoura da família Ruwer (Foto: Roni Müller/Folha do Mate)

“A chuva deveria ter ocorrido até novembro, dai teríamos uma safra cheia. Mas com certeza esse ano vai ser pior que ano passado. A gente até investiu mais, pois não se imaginava duas secas seguidas. São cinco meses de trabalho para, às vezes, não tirar o que se investe.”

HENRIQUE RUWER

Produtor de milho

Preço do milho

O preço pago pela saca de milho deve subir mais ainda nesta safra. O produtor acredita que o valor pode ultrapassar os R$ 90. De acordo com a Consultoria T&F Agronômica, os preços do milho têm mais motivos para subir do que para seguirem estáveis ou caírem. Segundo Luiz Pacheco, analista da consultoria, em entrevista ao Canal Rural na última segunda-feira, 11, o preço do milho pode atingir R$ 95 em cinco meses.

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