Produtor de Linha Travessa está pronto para enfrentar a estiagem

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Dá pra ver nos olhos do produtor Lúcio Schneider, 42 anos, a alegria ao ligar o trator, abrir o registro da bomba d’água, e após uma leve acelerada, visualizar, do outro lado da propriedade, a água irrigando a plantação de milho. Pensando assim até parece fácil, mas a tecnologia da irrigação passou a ser uma necessidade para o produtor nesta safra. “Essa estiagem vai ser pior do que a do ano passado. Começou a faltar chuva um mês antes. Ano passado em outubro choveu bastante, esse ano não”, lembra o produtor de Linha Travessa.

Schneider e a família plantam milho verde e aipim, ambas as culturas são comercializadas para a Ceasa, em Porto Alegre. Os resultados da safra passada fizeram com que o investimento se tornasse essencial e saísse do papel. Ano passado, a safra de verão do milho verde foi uma frustração. Sem produtividade de espigas, a alternativa foi comercializar a sobra: a silagem. “Eu até queria comprar os equipamentos de irrigação ano passado, mas não deu, não sobrou e tive que ver a plantação secando com o sol forte.”

No início de novembro, com o alerta de uma nova estiagem, o produtor reagiu. Schneider percebeu que o milho que foi plantado mais cedo já precisava de água e a previsão não marcava chuva significativa. “Era a hora, precisava dos equipamentos para ontem. Comprei o último que estava no estoque na Agroner naquela semana, acredito que a procura esteja grande.”

Há cinco anos dedicado ao cultivo do milho verde, Schneider não recorda de safras que a chuva faltou como agora. “No primeiro ano que plantei o milho consegui fazer três colheitas no mesmo pedaço de terra em uma safra. Mas foi só no primeiro ano. Depois o clima não ajudou mais”, relembra.

“Nessa safra eu não ia colher nada de novo. Eu nunca pensei que ia precisar investir em irrigação, mas hoje tenho certeza que era um investimento necessário. Tem horas que eu fico parado, olhando, de tão bonito que é ver aquele milho que ontem estava murcho, hoje estar forte e verdinho de novo.”

LÚCIO SCHNEIDER – Agricultor

Neste ano, o produtor plantou 12 hectares de milho verde, e as plantações mais perto de casa conseguem ser beneficiadas com a irrigação. “Já é uma sensação de alívio, de recuperação. Um boa parte consigo irrigar e não perco esse milho.”

O equipamento de irrigação é algo bem simples, são quatro canhões que distribuem a água por aspersão, o trator que toca a bomba d’água e os canos que precisam ser remanejados de acordo com o local que ele pretende irrigar. “É bem simples, mas dá um pouco de serviço. Você precisa carregar os canos e ir remanejando de acordo com o espaço que tu quer irrigar.” Geralmente, o equipamento fica ligado durante seis horas por dia, três de manhã cedinho e outras três no fim do dia.

O investimento do produtor foi em torno de R$ 25 mil. “Chegou a hora de investir, se não a gente não ia tirar nada da roça. O clima está judiando. Vamos ter que trabalhar, mas acredito que esse investimento se paga nesta safra agora.”

Há 25 anos no interior, o produtor comenta que sempre teve a esperança de dias melhores. “Vim da cidade, não sabia nada da lida, depois que casei com a Márcia decidi ficar. Começamos plantando tabaco, por 12 anos. Depois trocamos por diversas culturas e agora optamos por apostar no milho verde e aipim, e tem dado certo”, frisa.

Para o agricultor, o homem do campo vem sendo mais reconhecido. “Nos últimos anos a gente passou a se sentir valorizado, nossos produtos passaram a ser mais valorizados. Sempre tive essa esperança que isso ia acontecer. Chegou o nosso momento”, cita Schneider.

Outro item ressaltado pelo produtor da Linha Travessa é a facilidade de oportunidade, crédito e financiamentos. “As coisas facilitaram muito. Nesses 25 anos que acompanho tudo de perto são nítidas as mudanças para nós. Incentivo muito meus filhos para que fiquem no interior, que do jeito que as coisas estão tudo tende a facilitar ainda mais”, destaca o pai de Valentina e Matheus.

Em Venâncio, apenas 3,7% das famílias rurais utilizam irrigação

Conforme apurado pelo escritório local da Emater/RS-Ascar, em Venâncio Aires apenas 3,7% das famílias agricultoras utilizam a irrigação em área cultivada comercialmente, de um total de 7,3 mil famílias. De acordo com o chefe do escritório local, Vicente Fin, são 1.885 hectares irrigados por inundação, que é o caso do arroz. Outros 132 hectares são irrigados por aspersão, técnica utilizada no tabaco, milho, olerícolas e pastagens e 24 hectares pelo sistema de gotejamento, utilizado principalmente em hortaliças e morango. “Ainda é um número muito baixo de produtores que utilizam da irrigação no município. Se somarmos, tirando o arroz, dá 0,7% de área cultivada irrigada com fins comerciais.”

Um dos principais desafios, segundo o engenheiro agrônomo, é a falta de água armazenada. “O produtor antes de comprar os equipamentos precisa estar ciente de que vai ter um reservatório de água suficiente para abastecer as plantações.”

Nos últimos dias, Fin destaca que percebe uma procura por informações sobre financiamentos e encaminhamento de projetos de irrigação. “Os agentes financeiros precisam olhar com carinho para nosso produtor, pois essa é a garantia de produção para eles.”

No entanto, a procura ainda é considerada pequena. Ele destacou que os períodos de estiagem de 2004, 2007, 2014 e a do ano passado serviram de exemplo e essa é a hora do produtor repensar no sistema de irrigação. “Eu achei que em agosto a procura por irrigação seria intensa. Mas isso ainda não aconteceu. Às vezes, falta o produtor enxergar que a irrigação é uma garantia de safra, e que nem sempre a vantagem é investir em implementos e grandes tratores. De nada adianta ter a tecnologia de ponta, se falta chuva.”

Segurança para enfrentar a estiagem

Para o sócio-proprietário da Agroner Irrigação Acessórios Ltda, Alex Luiz Kuentzer, os tipos de irrigação mais procurados são por gotejamento e aspersão. “O sistema de aspersão ainda é o mais procurado, pois permite a flexibilidade de trabalhar em várias culturas e remanejamento. Consegue-se fazer a troca de local e utilizar em vários pontos na propriedade.”

A empresa de Santa Cruz do Sul, que atende todo o estado, ressalta que a procura por irrigação tem aumentado esse ano e Kuentzer acredita que a procura tenha relação direta com a estiagem registrada na safra passada. “Já tem muita gente se prevenindo. A irrigação não é para salvar da estiagem, mas garantir uma segurança na produção. Manter uniformidade de umidade no solo”, destaca o sócio-proprietário. Ele reforça que os produtores entraram em alerta e perceberam que ainda podem passar por períodos mais secos na agricultura.

Alerta

O Noroeste do estado já está em sistema de alerta. Os escritórios da Emater já estão emitindo laudos de Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) para produtores que estão perdendo suas plantações devido à estiagem. Vários municípios já emitiram decretos de situação de emergência, na tentativa de chamar atenção das autoridades estaduais e federais, e eventualmente conseguir recursos para atenuar os impactos gerados no período de anormalidade climática, dentre os municípios destacam-se: Frederico Westphalen, Palmitinho, Alpestre, Cerro Grande, Cristal do Sul, Caiçara, Iraí, Novo Tiradentes, Boa Vista das Missões, Planalto, Vista Alegre, Seberi e Pinhal.

“Estamos em estado de alerta. A previsão era de 70 milímetros em outubro e isso não se confirmou. Em novembro esperávamos 55 milímetros e já passamos a metade do mês e não temos expectativa de isso se confirmar”, ressalta Fin.

“Não adianta pensar em adquirir um sistema de irrigação sem pensar na qualidade do reservatório.”

VICENTE FIN – Chefe do escritório local da Emater

Leia mais: Com a previsão de nova estiagem, produtores se preparam

    

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