“Cuidar do solo é tratar a terra com respeito”, ressalta o produtor de erva-mate Plínio Luís Frohlich, 55 anos. O morador de Linha 17 de Junho utiliza diversas técnicas na propriedade para proteger o solo e recuperar o erval que foi plantado no final da década de 80.
Em 2019, quando ele e a esposa Janete Maria Kroth Frohlich, 53 anos, decidiram voltar para o interior o principal motivo foi a busca por qualidade de vida. “E desde então trabalhamos de forma ecologicamente correta. Confesso que não esperava resultados tão rápido, mas já percebemos uma grande diferença no solo em tão pouco tempo”, cita o agricultor.
Engana-se quem pensa que em terras onde se cultiva a erva não pode-se apostar em adubação verde.
Na entrelinha dos pés de erva, Frohlich cultiva aveia preta e ervilhaca, no inverno, e crotalária, no verão. “Ano passado no verão plantei o arroz seco, como ele não se desenvolveu bem, precisava recuperar o solo, foi então que, com apoio técnico, tivemos a ideia de usar a crotalária, e o resultado já está aí”, frisa.
Para o produtor, o resultado, é surpreendente. “Já percebi que ela protege as mudas novas que a gente replantou, ajuda a controlar as ervas daninhas e o erval está mais vivo, se desenvolvendo melhor. Temos menos pragas invasoras na erva-mate e a quantidade de pássaros e abelha mamangava é impressionante. Tudo é um ciclo da natureza”, complementa o agricultor, que irá fazer sementes da crotalária para o próximo ano.
Solo macio
Por não utilizarem defensivos químicos na propriedade, a limpeza é manual, com enxada, e as culturas consorciadas são cultivadas via plantio direto. Ao caminhar pelo erval da família do 4º Distrito de Venâncio Aires percebe-se um solo fofo, cheio de chá de macela e plantas que não se desenvolvem em solos com químicos e fracos. “O solo é uma coisa que sempre precisa ser protegido. Tudo que pode ser benéfico a gente deixa se desenvolver”, complementa Frohlich.
Quando iniciaram a recuperação do erval, herdado da família de Janete, eles perceberam uma grande erosão. “Agora, com a palhada, só vai água limpa embora.” Antes, ele comenta que a terra era compactada, atualmente, com a cobertura verde, a terra é fofa e com alta produtividade.
Apesar de fazer o uso dos 1,5 hectare com culturas de subsistência consorciadas à erva-mate, a cada ano, o produtor faz uma rotação de cultura e recupera o solo onde semeou uma outra cultura. “A gente intercala de um ano para o outro. A aveia preta sempre usamos na entrelinha. Agora a crotalária é uma novidade, um teste, mas que vamos manter no próximo ano”, comenta.
Frohlich reforça que o solo precisa ser cuidado para produzir e desenvolver as culturas. “A gente precisa tratar o solo com respeito e ele vai te dar o retorno esperado.” Ele garante que o erval não é mais o mesmo após os cuidados com a terra: o solo é mais macio e o impacto da chuva no solo não é tão violento. “Eu diria que é um todo, não são somente benefícios para a terra, mas, sim, para todo o ecossistema”, pontua.
“Cuidando da terra hoje a gente vai deixar um ótimo legado para as próximas gerações. O solo só gera riqueza se você cuidar dele.”
PLÍNIO LUÍS FROHLICH – Produtor de erva-mate
Suporte técnico
O técnico agrícola da Emater/RS-Ascar, Alex Gregory, que presta assistência para Frohlich, explica que o trabalho realizado pelo produtor em parceira com a equipe técnica traz inúmeros benefícios para o solo e para a erva-mate. Gregory comenta que, desde o início do projeto de valorização da erva-mate, o solo passou a ser mais observado e corrigido quando necessário. “Depois que a Emater começou esse programa a gente tem trabalhado de forma mais incisiva com os produtores. Essas plantas de adubação verde recuperadoras que fornecem uma palhada e reciclam nutrientes, são fundamentais para o crescimento e fortalecimento da erva-mate.”
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Técnicas de conservação do solo ganham destaque na cultura do tabaco
Seja em grandes lavouras ou em pequenos espaços, o solo precisa de técnicas para ser conservado. Não basta apenas extrair a produção e optar por recuperar com adubo químico. Conforme o chefe do escritório local da Emater-RS/Ascar, Vicente Fin, um solo rico pode ser reconhecido a olho nu, ao observar o tipo de planta cultivado. “Tem como enxergar, através da raiz e pelas espécies invasores, as pioneiras, que vão se desenvolvendo conforme cada tipo de solo.”
Dentre diversas técnicas possíveis para recuperar ou conservar um solo, Fin reforça que o ideal é optar por curva de nível, corrigir o PH e a fertilidade e utilizar a adubação recomendada pela análise de solo. “Além disso, recomendamos fazer a cobertura verde e plantar em nível. É todo um processo.”
Conforme o engenheiro agrônomo, em Venâncio Aires cerca de 80% da área que cultiva milho ou soja na safra recebe cobertura vegetal com aveia e algumas outras espécies para fazer o plantio direto na palhada o que já auxilia na preservação do solo.
No tabaco, Fin cita que o número aumenta a cada ano e já ultrapassa 50% dos produtores. “Em 2007, começamos um trabalho em parceria com as fumageiras e organizamos um grupo de trabalho para discutir técnicas de preservação do solo. Hoje, as empresas de processamento do tabaco já perceberam a importância de cuidar do solo e incentivam o produtor, já virou uma bandeira”, frisa.
O engenheiro agrônomo e assessor técnico do SindiTabaco, Darci José da Silva explica que o solo, assim como a água, é bem natural precioso e constitui um patrimônio de inestimável valor para a sobrevivência da humanidade. “Ambos são recursos finitos e deterioráveis se inadequadamente utilizados. No caso mais específico dos solos, um dos fatores que mais ameaçam a sua integridade e preservação é a erosão.”
Uma das técnicas utilizadas para realizar a preservação do solo é o uso das práticas conservacionistas, que segundo Silva, são as únicas capazes de assegurar a produção agrícola sustentável, de modo a permitir que as futuras gerações recebem um legado potencialmente protegido para a crescente demanda global por alimentos.
Para o engenheiro agrônomo, as ações sustentáveis requerem o mínimo de mobilização do solo e substituição dos métodos tradicionais por outros como o cultivo mínimo e, principalmente, o plantio direto na palhada. “É imprescindível implantar os cultivos de cobertura como forma de produzir a biomassa para ser transformada em palhada de proteção do solo.”
*Com informações do SindiTabaco
“Entendo que não devemos recomendar tecnologias isoladas. A preservação do solo e a produção sustentável são
alcançadas com mais êxito por meio do uso de práticas integradas. Além do aspecto conservacionista, esses procedimentos geram redução de outras operações nas lavouras, promovendo diminuição da demanda de mão de obra e a consequente redução dos custos de produção.”
DARCI JOSÉ DA SILVA
Engenheiro agrônomo e assessor técnico do SindiTabaco
Estratégias de conservação do solo
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Plantio direto
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Curvas de nível
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Sistema de Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF)
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Adubação química e orgânica
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Rotação de culturas
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Adubação verde
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Culturas em faixas
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Alternância de capinas
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Reflorestamento
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Recomposição de mata ciliar
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Construção de açudes e abastecedouros comunitários
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Manejo e reforma de pastagens
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Planejamento da estrutura da propriedade
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Proteção de recursos hídricos